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A amiga genial, de Elena Ferrante

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Por Pedro Fernandes Antes de tudo, gostava de me repetir sobre toda uma série de historiazinhas que vão formando uma aura mítica em torno da escritora italiana (ou escritor); resumo todas elas com essa impossibilidade de não precisar qual a verdadeira identidade de Elena Ferrante. Alguma vez escrevi que me chama atenção o sujeito da palavra que não necessita da exposição imposta pelo aparelho midiático (ainda mais nesse tempo de sorrisos falsos) e mantém um o trabalho silencioso para que, não a imagem, permaneça somente a obra. A história da literatura está cheia de figuras dessa natureza e, tomara que a italiana tenha tomado todas as precauções de fazer durar (ou quem sabe, nunca revelar, já imaginou?) quem é a autora (chamemos assim) por trás de sua obra.  O livro que chegou ao Brasil agora em 2015 pelo selo Biblioteca Azul / Globo Livros é o primeiro de uma tetralogia designada por “série napolitana”, por cobrir parte significativa da história de um grupo diverso ...

Nelson Rodrigues contra a moral e os bons costumes: "Álbum de família"

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Por Alfredo Monte Após o sucesso, em 1943, aos 31 anos, com a montagem clássica de Ziembinski de  Vestido de noiva , Nelson Rodrigues (1912-1980), no mesmo período em que produzia folhetins de galopante sucesso ( Meu destino é pecar , Escravas do amor , Núpcias de fogo ), sob o pseudônimo Suzana Flag, escolheu um caminho suicida, por assim dizer, no teatro, escrevendo quatro peças desafiadoras e radicais 1 , das quais só uma não foi interditada pela censura ( Doroteia ). Das outras três ( Álbum de família , Anjo Negro , Senhora dos Afogados ), a que permaneceu censurada por mais tempo foi a primeira. Escrita em 1946, foi liberada apenas em 1965 (e montada apenas em 1967)! Não era para menos, se atentarmos para a “moral” da época. Num horizonte dramatúrgico, onde avultavam as comédias e dramalhões edificantes, e no qual  Vestido de noiva  já representava uma experiência audaciosa e revolucionária, uma peça em que todos os personagens são ...

A verdade, essa grande versão

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Por Berna González Harbour ilustração (detalhe): Fernando Vicente Verdade ou versão? A aliança entre realidade e literatura, entre o vivido e o contado, é um casamento tão inabalável como sensível. E fantasioso. Ou, por acaso, alguém pode colocar a mão no fogo pela autenticidade de uma memória, de uma história, ou pela originalidade de uma frase, uma trama, uma obra? As sensações podem ser dignas de darmos crédito, e sempre com essas, mas os episódios da própria e da vida alheia transladados para o livro podem ser espelhos côncavos nos quais não havemos de confiar. Três escritores com maiúscula e uma lúcida psicóloga refletem de diversos pontos de vista sobre a verdade e a literatura em livros considerados imprescindíveis para um gênero minoritário, sim, mas irresistível: a escrita sobre a escrita. Sobre a arte, sobre os motores da criação. São Quarenta e uma tentativas falidas , de Janet Malcolm, A boa história que recolhe um intenso debate entre o escritor Prêmio Nobe...

Virginia Woolf: “o som da tinta em efervescência”

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Por Emma Rodríguez “A literatura é a arte a que dedicamos nossas vidas”, dizia Virginia Woolf referindo-se a ela própria e a outros escritores completamente entregues à tarefa de construir ficções. A autora de Um teto todo seu é uma das protagonistas deste itinerário que aqui começa sobre as rotas criativas, as escritas e leituras de um grupo diverso de autores, de ontem e de hoje, clássicos e modernos, que têm em comum a reflexão sobre seus processos e motivações da criação literária, sobre o sentido e o alcance de um labor que escapa a qualquer tipo de classificação, de convenção, por sua natureza inapreensível. O que pensava Woolf de si mesma? Como Flaubert enfrentava o mundo? Que impulsos motivavam a Cortázar? São algumas das perguntas que podemos responder através dos seus testemunhos em cartas, diários, conferências, aulas, que eles nos deixaram. Em que fontes bebe hoje o escritor argentino Ricardo Piglia? De que maneira elabora suas próprias experiências e comp...

Pescador

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Por Jeferson de Carvalho Eu lembro das cores. Ou melhor, da confusão de tons que o rio assumia naquele fim de tarde. Lembro-me de falar, ou pensar, não sei bem ao certo, as lembranças não ficam guardadas em departamentos à disposição do usuário, que tudo aquilo era parecido com um quadro que uma professora havia mostrado na escola. Meu pai perguntou se era a pintura de um rio, mas eu logo disse que não, que era uma pintura borrada, cheia de cores, assim como o rio naquela fatia de tempo. Pensando hoje, não sei se respondi corretamente à pergunta de meu pai, será que não era um rio que o artista pintara? Nunca mais vi aquele quadro. Gostaria de vê-lo novamente, mas teria que falar com minha antiga professora, e ela eu também nunca mais vi. Nem lembro do nome dela, lembro do cheiro, um perfume forte e gostoso. Lembro das coisas pelas coisas. Do primeiro dia que andei de bicicleta, lembro através do joelho ralado devido ao tombo; do primeiro dia de escola, lembro através das ...

Boletim Letras 360º #129

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O n.11 do caderno-revista 7faces apresenta manuscritos inéditos de Manoel de Barros, o homenageado da edição. Mais informações ao longo deste boletim. Alcançamos mais uma semana. A de n.126 desde que decidimos contar as semanas com esses boletins. Claro, o blog tem mais idade. E já nos aproximamos de 9 anos on-line! Nunca achamos que chegássemos a tanto! A seguir você tem todas as notícias que circularam durante a semana em nossa página no Facebook. Acompanhem: Segunda-feira, 03/08 >>> Estados Unidos: "Temperature" é um conto de F. Scott Fitzgerald que por décadas se pensou estar perdido e agora virá a lume Concluído em julho de 1939, um antes da morte do escritor, o conto narra a história de um escritor beberrão diagnosticado com uma doença cardíaca - enredo que muito se aproxima do que vivia o próprio Fitzgerald na ocasião: entregue ao álcool, sem perspectivas de manter seu vínculo com Hollywood e hospitalizado por várias vezes até morrer de um...