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Fibrilações, de Ana Hatherly

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Por Pedro Belo Clara Dado o recente desaparecimento da autora em epígrafe citada, é justo que a presente edição sirva de palco à apresentação de uma das suas obras; no caso, poética. Embora reconheçamos a singeleza do acto, não deixa o mesmo de intentar, junto da visada, o préstimo da devida homenagem. Ana Hatherly, nascida na cidade do Porto em 1929, foi uma profícua autora que, para além das produções literárias, desempenhou o papel de professora catedrática em Lisboa, revelando-se ainda uma artista plástica de reconhecido mérito e louvor (actividade essa iniciada um pouco mais tarde, já durante a década de 60). Licenciou-se em Filologia Germânica e obteve o seu doutoramento em Estudos Hispânicos na Universidade de Berkeley, Califórnia, possuindo ainda um diploma em Cinema, emitido pela London Film School. Os trabalhos que dentro da área desempenhou ainda hoje se encontram guardados nos principais arquivos do género. A partir estas escassas linhas concluím...

Boletim Letras 360º #133

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Cartas inéditas revelam paixão secreta de Clarice Lispector. Saiba mais ao longo deste boletim. Num final de semana prolongado com este (no Brasil, o 7 de setembro é feriado nacional) ganhamos um dia a mais para descanso e, claro, atualizar as leituras. Ressaltamos que temos algumas novidades quentinhas, mas só iremos dizê-las depois desse largo tempo de descanso. São novidades boas! Além das novidades que deixamos apenas a curiosidade aguçada, há nossa meta: estão lembrados? Vinte mil amigos no Facebook e uma promoção supimpa! Está longe, mas quem disse que desistimos? Bom, enquanto isso, relaxem e revejam outras novidades, estas a que fizeram a semana (onde?) em nossa página no Facebook.  Segunda-feira, 31/08 >>> Portugal: Inéditos da geração de Orpheu, inclusive um de Fernando Pessoa Em 2015, cf. já lembramos várias vezes por aqui, alcançamos os cem anos da publicação do primeiro número da revista Orpheu . Ainda por ocasião da data as Edições ...

O caminho estreito para os confins do norte, de Richard Flanagan

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Por Pedro Fernandes Dos seis romances publicados por Richard Flanagan, este é o terceiro a ser publicado no Brasil. Os primeiros foram O livro de peixes de Gould (Companhia das Letras, 2001 e reeditado em 2015 pela Biblioteca Azul / Globo Livros) e A terrorista desconhecida (2009). Este é também o seu título mais recente apresentado em grande parte das várias entrevistas que o escritor australiano concedeu como uma das obras mais difíceis de escrever (teria levado doze anos de trabalho com algumas extensas sessões de isolamento do mundo comum); nessas mesmas conversas, Flanagan ressalta que o ponto final da narrativa coincidiu com a morte do pai, figura de quem sugou muitas informações para composição do romance, sobretudo, no que se refere às descrições do campo de prisioneiros. O pai do escritor foi um dos poucos que sobreviveram a um desses campos e aos horrores da Segunda Guerra Mundial – era o prisioneiro 335 conforme está lembrado na dedicatória, em que seu nome é ...

Um mapa do século de ouro da literatura russa e dez romances fundamentais

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Por Sergio Pitol Dostoiévski e Tolstói ainda disputam pelo lugar de representantes da literatura russa. Em meados do século XIX começou a aparecer nos círculos culturais europeus a existência de uma notável e estranha literatura surgida na Rússia. No início, parecia uma extravagância, uma grande piada. Daquele lugar se esperaria sair homens silvestres e cândidos, o bom selvagem sonhado pelos enciclopedistas, ou príncipes de aparência intensamente elegante que disfarçaria uma realidade mais tumultuosa que a estabelecida na Europa como um todo. Deles se podia esperar tudo, mas não a criação artística e muito menos uma cultura literária. De imediato, a chegada dos russos apaixonou os leitores ocidentais e venceu todos empecilhos. No fim do século, Tolstói, Dostoiévski, Turguêniev eram traduzidos para quase todos os idiomas europeus e estavam na boca de gente como Nietzsche, Freud, Gide, Hamsun, Fontane, entre outros. Essa floração literária era o prodígio de uma nação q...

Juan Rulfo

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A universalidade de Juan Rulfo Por Juan Marichal André Gide dizia que Cervantes era o escritor mais universal da Espanha porque era o mais espanhol de seu tempo e era, por sua vez, o mais espanhol porque era mais singular, o mais radicalmente individual. Talvez não haja na literatura de língua espanhola deste século um escritor cuja obra verifique tão precisamente a afirmativa de Gide como o já clássico Juan Rulfo. Porque, sem dúvida alguma, Pedro Páramo (e, em menor proporção, Chão em chamas ) é um dos livros mais universais das letras hispânicas do século XX, embora seja aparentemente uma obra muito ligada a uma realidade específica de uma época da história mexicana, o Jalisco dos chamados cristeros .  E os dois livros citados foram escritos por um autor muito singularmente mexicano, e muito ele mesmo. Muito deliberadamente oposto a qualquer gênero de rotular e a todo papel de “homem de letras”. Havia em Rulfo uma firme vontade de individualização...