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Matar em nome de Deus

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Por Pilar del Río Matar em nome de Deus é fazer de Deus um assassino, disse José Saramago. Caluniar, difamar, plantar ódio e incitar rancores em nome de Deus é fazer de Deus um canalha, acrescento com mais modéstia embora com igual firmeza. Assassino, canalha. Não são estes os adjetivos que frequentemente se aplicam a Deus, mas se olharmos mais longe ou inclusive prestarmos atenção ao ruído que nos circunda, são os qualificativos que saltam primeiro porque, em nome de Deus, de qualquer deus inventado pelas culturas ou homens, se perpetraram e se perpetram os piores crimes e as atrocidades mais vergonhosas. Tanto no âmbito do público como na esfera privada, onde a consciência parece não se bastar e necessita recorrer a dogmas para evitar enfrentar a capacidade de decidir e de escolher de acordo com a razão. In nomine Dei é uma peça de teatro que reflete a irracionalidade que nos habita e na qual habitamos. Saramago, nesta obra, conta um feito real: a matança que com sanha ...

Boletim Letras 360º #143

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Uma semana belíssima porque chegou muitas novidades interessantes. Basta ler o nosso boletim para saber o que falamos. Mas, antes disso, lembramos que já entramos no mês de nosso aniversário! Sim, entramos no 9º ano online. Quantos ainda teremos? Não temos resposta para essa pergunta. Só queremos, antecipadamente, dizer que fiquem atentos; estamos preparando surpresas! Com livros. Enquanto isso e por falar em livros, ainda está online o desafio: 1.5 mil partilhas em nome de dois exemplares da  Nova reunião de poesia , de Carlos Drummond de Andrade. Mais informações  aqui . Ana Cristina Cesar, a próxima homenageada da Festa Literária Internacional de Paraty. Segunda-feira, 09/11 >>> Brasil: Em 2015, o poema “Morte e vida severina”, de João Cabral de Melo Neto chega aos 60 anos de sua publicação E para assinalar a data, uma equipe da GloboNews partiu rumo a Pernambuco para refazer o trajeto imaginado pelo poeta, inspirado nos milhões de Severinos que...

A invenção de Hugo Cabret e a autonomia da arte

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Por Rafael Kafka É difícil dizer por que A invenção de Hugo Cabret é um grande filme. São diversos fatores que me levam a gostar demais dessa obra de Scorsese que possui um bom apelo para o público mais jovem. Em duas horas, o roteiro do filme consegue ir da aventura mais fantástica até uma bela análise das relações entre o discurso da História e o discurso da narrativa artística. Hugo é um jovem que vive em uma estação de trem. A sua ida para tal local se deve à precoce morte de seu pai por conta de um acidente no museu onde este trabalhava. O garoto é levado, então, para morar com o tio bêbado que cuida dos relógios da estação de trem. Todavia, um belo dia o tio some e Hugo precisa manter os relógios funcionando caso ainda queira se manter com alguma moradia, por mais precária que ela seja. A sobrevivência de Hugo se dá por uma série de pequenos furtos: de comida, para matar a fome, e de peças da loja de um senhor de nome George, que um belo dia descobre o garoto e...

As rãs, de Mo Yan

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Por Pedro Fernandes Na minha muito recente vida de leitor, há dois instantes de aproximação com a literatura oriental que recordo neste texto porque são experiências frustradas possivelmente vencidas pela leitura das quase quinhentas páginas de As rãs , de Mo Yan. É, não fui logo à leitura do breve Mudança , publicado no Brasil assim pouco depois de sabermos que o Prêmio Nobel de Literatura em 2012 tinha sido para o escritor chinês. A aproximação com a obra de Yan, logo antecipo, se deu quando visitei com maior curiosidade sua biografia, assinalada por uma sorte de eventos capaz de inclui-lo, depois de alcançar o posto máximo na carreira literária, entre as figuras de interesse aos interessados por vidas próximas ao fato heroico. O primeiro instante de leitor da literatura oriental, é um episódio certamente pouco importante porque muito inocente, aconteceu quando era moda entre os jovens um anime japonês chamado Death Note . Por causa do vício na animação qua...

"Carla Lescaut" e a narrativa potiguar no inicio do século XXI

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Por Thiago Gonzaga “Seja qual for o caminho que eu escolher, um poeta/romancista já passou por ele antes de mim”. Sigmund Freud Na já famosa obra Literatura em perigo , o filósofo e linguista búlgaro radicado em Paris, Tzvetan Todorov, defende que, o texto literário tem muito a dizer sobre o ser humano, principalmente porque se permite incursionar para além do censurável, revelando assim o indivíduo, o particular, entre outras coisas. Esta é umas das capacidades de incursão que o escritor realiza, adotando o ponto de vista do outro e tentando desvendar os mistérios íntimos do ser humano. Ora, analisemos, apesar de a literatura não ter o compromisso de retratar a realidade, ela é desenhada a partir da verossimilhança, favorecendo a apreensão e compreensão de certo tempo, de um espaço, dos acontecimentos construídos e reconstruídos. Por conseguinte, levará o leitor a refletir, e modificar, a sua leitura de mundo e, de alguma forma, analisar a sua própria...

Julio Cortázar: “As coisas me chegam como um pássaro que pode passar pela janela”

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Por Emma Rodríguez Há muitas fotografias de Julio Cortázar que nos ajudam a situá-lo em seus lugares de trabalho, ante a máquina de escrever, armando as peças diversas de suas histórias, sempre jogando. Mas ao ler suas Aulas de literatura , livro que compila as aulas ministradas na Universidade da Califórnia, Berkeley, em 1980, a imagem emergente e viva em toda obra é a do professor. Andava a longos passos pelo espaço fechado da sala de aula, anotava palavras, frases, na lousa, convidava e se sentia à vontade conversando com seus privilegiados alunos? Sondemos, mas, sem dúvida, os alunos deviam sentir-se tocados com uma varinha mágica a pensarem na sorte que tiveram de escutar um professor nada comum, o professor “menos pedante do mundo”, como escreve no prólogo do livro Carles Álvarez Garriga. As aulas de Cortázar gravadas e depois transcritas, nos seduzem porque manifestam a capacidade do escritor na transmissão de conhecimentos e experiências, mas, sobretudo, porque...