Postagens

Boletim Letras 360º #144

Imagem
Pesquisadores encontram três poemas inéditos de Carlos Drummond de Andrade. Mais detalhes ao longo deste boletim. Todo sábado, o leitor do  Letras in.verso e re.verso  tem a oportunidade de re/ver o que noticiamos ao longo da semana em nossa página no Facebook. E o que noticiamos? Sempre assuntos ligados a escritores, obras e temas comuns ao universo do blog. Esta é uma maneira não apenas de organizar o conteúdo disperso na rede social e muitas vezes não alcançado pelo público; é também uma resposta à política de comercialização do publicado no FB. Chamamos essa publicação dos sábados de Boletim Letras 360º; e esta é a edição desta semana. Segunda-feira, 16/11 >>> Estados Unidos: De Gabriel García Márquez para José  ‪ ‎Saramago "José Saramago é um dos escritores grandes deste século e seu Prêmio Nobel é um dos mais justos. A alegria que isto casou nos países de língua espanhola, como se fosse uma vitória nossa, confirma o que alguns escritore...

Para que serve um crítico?

Imagem
Por Rafael Kafka A pergunta que dá origem a esse texto é algo que me incomoda desde meados de 2009. Foi nesse ano que comecei a frequentar cineclubes na cidade de Belém. Na época, tais espaços eram locais ainda tímidos, novos nichos de cinema nos quais era possível ver o genuíno cinema clássico sem ter que pagar nada por isso. Além disso, após os filmes havia debates com os exibidores do filme, o que a princípio me soou como uma forma interessante de troca de ideias e incentivo ao hábito de idas ao cinema em busca de um entretenimento maduro, crítico e enriquecedor. Eu tinha o hábito de ir a dois cineclubes naquela ocasião. Em um deles, comandado por críticos mais experiente, eu percebia a presença mais firme de debates sobre a ideia do filme si. A maior preocupação era tirar do espectador a sua impressão de leitura acerca do longa-metragem visto e assim, em uma troca impressões, gerar uma boa conversa que por si seria um motivo a mais para idas mais frequentes ao cinema...

Mulheres de cinza, de Mia Couto

Imagem
Por Aurélio Furdela Chamou-me a atenção para a leitura do mais recente livro do respeitável escritor Mia Couto, uma apreciação feita por um companheiro das lides literárias, dizendo que por razões profissionais, lera o Mulheres de cinza ,¹ tendo concluído que estávamos diante de uma grande obra literária, talvez a melhor do autor em toda sua carreira. Fim-de-semana seguinte, outra coisa não me ocuparia, senão a leitura do romance, uma leitura ferida do grande defeito que marca um escritor, diante de uma obra de ficção, seja ela de poesia, prosa ou teatro, visto que, na verdade, um escritor não lê, reescreve com os olhos os livros que lhe chegam a mão.  E, na leitura do Mulheres de cinza , também deixei-me embalar naturalmente por este defeito congénito, que arrisco-me a dizer que persegue a todos os escritores, lendo não passivamente a prosa que se propõe conduzir o leitor a Inharrime. Porque também bastante elogiada esta obra, e muito realçados os aspectos positiv...

O mágico e umbral: as biografias conjeturais de Hermann Hesse

Imagem
Por Alfredo Monte 1 Não deixa de ser um fato inusitado, apesar de auspicioso, a Record publicar uma edição comemorativa dos cinquenta anos da tradução de Ivo Barroso para Demian – História da juventude de Emil Sinclair 1 .  Texto-ícone do século vinte, fez a cabeça de muitos. Nele encontramos a famosa e nietzschiana frase: «Quem quiser nascer tem que destruir um mundo». Hermann Hesse (1877-1962) publicou-o em 1919 sob pseudônimo e houve muita especulação na época sobre a verdadeira identidade do autor. Quando foi descoberta, o livro passou a ser considerado uma espécie de divisor de águas na sua trajetória artística. E um grande salto, constata-se hoje, embora na memória de quem aqui escreve e tenham permanecido, durante anos, após a primeira leitura, muitos aspectos irritantes e literariamente derrisórios, a saber: 1) essas pessoas ( guias , como são denominadas) que aparecem do nada e que dão ao leitor a ideia de que o universo inteiro está v...

Um panorama da poesia brasileira pelas lentes de Rubem Braga

Imagem
Por Pedro Fernandes Rubem Braga viveu um dos períodos mais férteis e únicos da literatura brasileira; basta dizer que no seu tempo estavam em plena forma Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes, Vinícius de Moraes, Cecília Meireles, Mário Quintana, João Cabral de Melo Neto, Jorge de Lima, entre outros nomes. Não é possível que, no meio de toda essa efervescência criativa até o pior dos poetas não se sentisse inclinado a cair no ofício do verso. E assim, nessa tentação pelo trabalho do poeta, terão caído o próprio cronista ou gente como Guimarães Rosa e Pedro Nava – também de seu tempo; o primeiro e o último por cometer vez ou outra um poema não um todo ruins e logo passíveis de pertencer a uma alcunha forjada por Manuel Bandeira, na sua já conhecida Apresentação da poesia brasileira , a do poeta bissexto. Agora, se esses nomes chegaram até nós, deve-se não somente ao caso da singularidade de sua obra mas porque tiveram leitores, essa espécie tão rara nos dias atu...

Matar em nome de Deus

Imagem
Por Pilar del Río Matar em nome de Deus é fazer de Deus um assassino, disse José Saramago. Caluniar, difamar, plantar ódio e incitar rancores em nome de Deus é fazer de Deus um canalha, acrescento com mais modéstia embora com igual firmeza. Assassino, canalha. Não são estes os adjetivos que frequentemente se aplicam a Deus, mas se olharmos mais longe ou inclusive prestarmos atenção ao ruído que nos circunda, são os qualificativos que saltam primeiro porque, em nome de Deus, de qualquer deus inventado pelas culturas ou homens, se perpetraram e se perpetram os piores crimes e as atrocidades mais vergonhosas. Tanto no âmbito do público como na esfera privada, onde a consciência parece não se bastar e necessita recorrer a dogmas para evitar enfrentar a capacidade de decidir e de escolher de acordo com a razão. In nomine Dei é uma peça de teatro que reflete a irracionalidade que nos habita e na qual habitamos. Saramago, nesta obra, conta um feito real: a matança que com sanha ...