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Macbeth: ambição e guerra, de Justin Kurzel

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Por Pedro Fernandes Escrita entre 1605 e 1606, a peça integra o que a crítica comumente tem chamado de fase trágica de William Shakespeare. A história é já conhecida de todos: Macbeth é um general do exército escocês muito querido pelo seu monarca, Duncan, dada sua lealdade e seus préstimos guerreiros; em menor grau de importância, o amigo Banquo também o é. Na passagem de um dos confrontos, os dois são abordados por três bruxas que soltam as previsões as quais confirmam essa condição ora lembrada: “Macbeth será rei; Banquo é menos importante, mas mais poderoso que Macbeth; e os filhos de Banquo serão reis”.  A confissão do acontecido à sua companheira, Lady Macbeth, uma mulher amargurada por não poder dar herdeiros ao general, e os incentivos dela na ambição pela realização do primeiro plano do enunciado pelas bruxas, impulsiona-o a realização do predito. Macbeth, então, trama a morte do rei e, movido pela necessidade de esconder a culpa, inicia um reinado baseado ...

Manifesto de uma poesia na pós-modernidade

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Por Vivian de Moraes A publicação recente do meu livro Desconstrução (Patuá, novembro de 2015), levou-me a um debate livre com os participantes dos lançamentos e os leitores desse livro. Se hoje escrevo este manifesto, é porque sinto que há lacunas importantes na poesia atual, embora haja muito material de grande qualidade sendo produzido. Entre os autores que admiro estão nomes como Eucanaã Ferraz, Frederico Barbosa, Augusto de Campos, Arnaldo Antunes, Guilherme Gontijo Flores e muitos outros. Não pretendo, aqui, esgotar uma lista. No entanto, o mal da poesia atual é o grande narcisismo estético que se propaga na chamada “metapoesia”. Como tenho dito aos meus leitores, acredito que escrever versos sobre versos, prática hoje corrente em demasia, especialmente entre os autores jovens, leva a um espelhamento inócuo e fragmentário. Deve-se isto, talvez, ao fato de vivermos um tempo de conflitos. A pós-modernidade, tão bem analisada pelo sociólogo polonês ...

Boletim Letras 360º #150

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2016 é o ano de Juan Rulfo. 30 anos da morte do escritor mexicano e um rol de atividades no mundo da literatura de língua espanhola marcam as celebrações em torno do nome e da obra, uma das mais breves e mais quistas de sempre. Um pé em 2015 e outro em 2016. Assim é esta edição do Boletim Letras 360º: um demonstrativo de que mudam as datas, mas tudo são continuidades. Segunda-feira, 28/12 >>> Brasil: Mário de Andrade livre A obra do escritor entra em domínio público a partir do dia 1º de janeiro e já há muitos projetos na agulha para os leitores. Um deles é a antologia Briga das pastoras e outras histórias – Mário de Andrade e a busca do popular . Organizada por Ivan Marques, professor de literatura brasileira da USP, o livro reúne os textos menos óbvios do escritor: são 13 contos escritos nas décadas de 1920 e 1930, organizados com a ideia de mostrar como, a partir do Modernismo, e especialmente da obra de Mário de Andrade, o povo se tornou uma personagem i...

Os 10+ de 2015

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Por Pedro Fernandes A lista deste ano deveria responder por um tom diferente das listas dos anos anteriores; todos aqueles que acompanham o Letras sabem que não estou há algum tempo mais sozinho na empreitada de alimentar esse monstro que entra ano e sai ano está maior (e espero, melhor). Daí, seriam só livros e não filmes. Mas, por motivo indeterminado, as consultas que fiz não surtiram efeito. Quem sabe em 2016? Depois disso, gostaria, para não tomar mais o tempo do leitor, de dizer apenas os motivos que resultaram nesses títulos; há autores dos quais li mais de uma obra (é o caso de António Lobo Antunes, Gonçalo M. Tavares, José Luís Peixoto, entre outros) e mesmo tendo publicado notas sobre quase todos, tratei de destacar apenas um e poderia muito bem recomendar mais de um e indiretamente poderá ser citado, forjando assim uma lista além da lista. Há leituras sobre as quais não redigi notas para o Letras e mesmo assim gostava de colocar em destaque e alguns li muito ...

As aulas de literatura do mestre Julio Cortázar

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No prólogo para essas Aulas de Literatura , o organizador da edição, Carles Álvarez, sublinha que foram estes “os últimos dias felizes do autor”. As aulas aconteceram entre as quintas-feiras de outubro e novembro com média de duas horas cada; os textos foram compilados a partir de 15 fitas que em 1995 lhe entregou Aurora Bernárdez, primeira companheira e herdeira de Cortázar. Carles desconhece como esses áudios chegaram às mãos dela mas imagina que foram gravações de um aluno que devem ter passado de mão em mão como é comum aos produtos piratas. Delas, ouvem-se um Cortázar tranquilo e relaxado em seu último ano feliz, “pois pouco depois sua companheira de então, Carol Dunlop, adoeceu e ele também. Ela morreu em 1982 e ele dois anos depois”. ** Por Gérman Gautier   “Quero dizer que lhes agradeço profundamente a fidelidade e a atenção com que seguiram isto que não era um curso, que era algo mais, creio eu: um diálogo, um contato”. Quarenta e três anos depois e toda u...

A máquina de escrever de Juan Rulfo

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Por Pablo de Llano   Recibo de compra e máquina de escrever com a qual Juan Rulfo escreveu Pedro Páramo A máquina em que Juan Rulfo escreveu Pedro Páramo , o romance mexicano mais elogiado do século XX, é a mesma que o Exército dos Estados Unidos usou durante a Segunda Guerra Mundial: uma Remington Rand n.17, também conhecida como Modelo 17 ou KMC . Fabricada de 1939 a 1950. Preta, de ferro, 14,7Kg. Um artefato de fábrica do qual saiu uma obra-mestra que se preserva, sem tinta mas em boas condições, na casa de Clara Angelina Aparicio Reyes, companheira de Rulfo. Seu companheiro a comprou no dia 10 de novembro de 1953, na loja da Remington Rand, no n.30 da Avenida Insurgentes da Cidade do México. Hoje, nesse lugar, é um edifício abandonado de quatro andares, marcado de cima abaixo por grafites. Rulfo, que tinha 36 anos e dois filhos pequenos com Clara, pagou 1.000 pesos mexicanos pela máquina, um terço do que ganhava como bolsista do Centro Mexicano de Escrit...