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Andorinha, andorinha, de Manuel Bandeira

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Por Pedro Fernandes Há escritores que sempre se revelam como uma surpresa constante para os leitores, sobretudo quando demonstram uma impressionante versatilidade na prática da escrita; isto é, quando um escritor não é bom apenas com um gênero ou tipo textual, ainda que se destaque com um e seja sempre, quando lembrado, lembrado por ele. Há uma variedade incrível desses nomes, ora porque usam da diversidade de textos para construir seus experimentos de linguagem até alcançar a forma que lhe parece adequada, ora porque, tomado pela necessidade da expressão escritural não hesitam sossegar numa única posição, ainda mais quando essa necessidade se encontra abalada pelo sopro da impossibilidade de realizar-se em sua plenitude. Na cena literária brasileira, o leitor pode citar facilmente nomes como o de Carlos Drummond de Andrade que, além de reconhecido pela crítica e pelo público como uma das melhores vozes da nossa poesia, também se dedicou e muito ao exercício da crônica. ...

Óxido, de Gastão Cruz (Parte II)

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Por Pedro Belo Clara  O segundo capítulo da obra cuja discussão deixámos em aberto na anterior publicação (ver o final desta post), traz em seu prelúdio elementos antes abordados pelo autor. Embora logo os dilua, lentamente, poema após poema, sem que o capítulo termine antes de revelar o seu real teor. Denominado A VIDA DOS METAIS, abre com o poema “Um nome”, aquele que irá resolver a questão que em si mesmo embala – resgatada a poemas anteriores, como atrás confidenciámos: Chamar é um erro: que nome dar a alguém senão ninguém? Porém um nome é tudo o que subsiste (…) Torna-se difícil calar a sensação de que o tempo espraiado pelos textos poéticos apresentados é um tempo árido onde um certo metal (coração?) oxida. Ou, pelas palavras do próprio autor, um tempo «onde nenhuma vida / ou morte sobrevive» (“Thriller”). No entanto, importa sublinhar as impressões que “Corda”, mantendo a mesma linha de pensamento, nos lega a respeito do ser e de sua nomea...

Boletim Letras 360º #154

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Ilustração de Walter Crane para edição de 1874 de "A Bela e a Fera". Um estudo de universidades de Inglaterra e Portugal comprovam que o conto está entre uma das mais antigas formas de narrativa de que se tem notícia. Mais detalhes ao longo deste boletim.  No dia 1º de fevereiro retomamos nossas atividades! Ao ritmo de uma postagem por dia. Em nossa página no Facebook o ritmo de publicações também será normalizado apesar de que, a partir de agora, o trabalho de cuidado da rede, voltará a ser restrito a duas mãos. Recebemos o contato de desligamento de Gilberto Tavares quem durante esses dois últimos anos trabalhou incansavelmente na divulgação do blog e na criação de conteúdos, como os banners e as imagens aí publicadas. A construção e divulgação das notícias sempre foi tarefa de Pedro Fernandes, mentor, editor e quem escreve esta nota e continuará acontecendo. A saída dessas duas mãos poderá fazer com que o fôlego de antes não seja mais mantido. Veremos. Mas, por or...

A garota dinamarquesa, de Tom Hooper

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Por Pedro Fernandes Há algum tempo, numa das notas sobre filmes, escrevi uma observação um tanto óbvia até mesmo para espectadores comuns como eu que o melhor ator não é aquele que falseia o visual entre o truque de ganhar ou perder peso, como tem sido moda corrente, para citar um exemplo, mas abandona o que há de pessoal e torna existente o ser ficcional. Das produções mais recentes, de algumas que consigo me reportar agora, fiquei com essa impressão depois de ver O discurso do rei , O jogo da imitação , A travessia e A garota dinamarquesa . Neste último, o motivo dessas notas, Eddie Redmayne, que já havia demonstrado ter o talento natural de se camuflar noutras figuras em A teoria de tudo , outro título que é possível de acrescentar entre esses poucos que a memória me traz nesta ocasião, incorpora outra figura histórica, a da dinamarquesa Lili Elbe, que nasceu Einar Wegener, e que foi uma das primeiras na história médica a submeter-se a uma cirurgia para correção de s...

Carol, de Todd Haynes

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Por Pedro Fernandes Romper a estereotipia. Primeiro da visão rasa alimentada pela crítica repetitiva de que Patricia Highsmith só escreveu suspense e romances com certa inclinação para o policialesco. Segundo da visão sobre a sexualidade; esta nascida não pelo filme de Todd Haynes, que achou de adaptar o título da escritora estadunidense para o cinema, mas pelo papel desempenhado pela obra quando da sua publicação nos anos 1950; o romance foi o segundo da escritora e sofreu retaliação por parte da editora que primeiro publicou sua obra por se desviar do gênero com o qual estreou e, claro, pelo conteúdo.  No livro, Therese Belivet, num dia de movimentada clientela na loja de brinquedos onde trabalha, se vê hipnotizada pela “alta e clara, com um longo corpo elegante dentro do casaco de pele folgado”* que lhe aborda, depois de perceber certo interesse no olhar da vendedora em saber de um presente para a filha (essa cena é reproduzida pela narrativa cinematográfica)...

Quatro soldados, de Samir Machado de Machado

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Por Pedro Fernandes Há muitos elementos capazes de atrair um apaixonado por livros que não o peso do nome do autor, isto é, aquele que é conhecido de quase todo mundo ainda que seja por um ouvir falar e a publicidade em torno da obra, para citar um dos elementos mais utilizado desde sempre pelo mercado editorial na promoção de determinado trabalho de um escritor. No meu caso, não é a primeira e nem será a última vez que volto a falar sobre, há obras que me chegaram pelo acaso quando nas visitas a bibliotecas – houve um tempo que as frequentei com bastante costume – e nas visitas às livrarias, naqueles passeios despretensiosos ou cuja pretensão é unicamente sentir a companhia dos livros, perceber quão maiores do que nós se tornam quando reunidos em grande grupo ou reconhecer nossa incapacidade ante esse mundo de tinta e papel que é o nosso e é outro ao mesmo tempo. Foi assim que encontrei com Quatro soldados , de Samir Machado de Machado, e toda a narrativa sobre esse en...