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Não é meia noite quem quer, de António Lobo Antunes

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Por Pedro Fernandes “não temos certeza se existiu ou nos deram imagens que amontoamos na esperança de conseguir o que se chama vida”. Este fragmento coletado de Não é meia noite quem quer * bem poderia servir de síntese temática sobre esse romance ou ainda de chave de leitura sobre os títulos da obra mais recente de António Lobo Antunes, estes que foram lidos pelo próprio escritor como a revisão obsessiva de um mesmo livro. A razão para tanto – a da síntese – é também enunciadora dessa afirmativa que o português faz sobre a sua obra. Novamente, estamos diante do limiar da condição humana – território sobre o qual tão bem a literatura antuniana tem se construído. A voz que domina esse complexo labirinto de idas e vindas da memória ou esses lapsos que surgem numa e desaparecem noutra vez do pensamento é de uma mulher marcada por uma diversidade de perdas; o conjunto de iluminações nasce do seu reencontro com o passado através da visita à casa onde viveu até antes do casa...

Qorpo Santo: louco, gênio e um homem muito adiante do seu tempo

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Por Neiva Dutra Joaquim José de Campos Leão – Quorpo Santo – homem obcecado pela ideia da santidade, cuja vida foi um verdadeiro pesadelo, viveu entre 19 de abril de 1829 e 1º de maio de 1883. Na Vila do Triunfo, às margens do Rio Jacuí, no interior do Rio Grande do Sul, surgiu como um dos mais poderosos e criativos dramaturgos de meados do século XIX, um dos precursores do que mais tarde seria chamado de teatro do absurdo.  A descoberta de sua obra só ocorreu na década de sessenta do século passado, mas o resgate do seu valor é algo que ainda está para ser cumprido. Sua biografia se confunde com a sua produção literária. Em sua autobiografia, refere que aos três anos sofreu profundo choque moral, acreditando-se perseguido pelas autoridades provinciais. Sua insanidade mental foi atestada pela Justiça e, a partir do momento em que nomearam um curador, de tal forma sentiu-se desamparado que se voltou para dentro de si mesmo, refugiando-se na literatura. ...

Boletim Letras 360º #155

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Sábado de Carnaval. E nós no bloco das notícias que fizeram a semana do Letras no Facebook . Por lá, começamos na sexta-feira e vamos até a Quarta-feira de Cinzas com poemas temáticos sobre a data. Uma folia com Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Cecília Meireles e muitos outros. E por falar em poesia, cadê o seu vídeo recitando um poema? Estamos aguardando inscrições para o 01:MIN DE POESIA. Na nossa página no Facebook, logo no início, você encontra todas as informações necessárias para participar.  Segunda-feira, 01/02 >>> Brasil: Nova edição de O som e a fúria  e a obra de William Faulkner Entre os títulos que saíram da extinta Cosac Naify para a Companhia das Letras, estão os da obra de W. Faulkner. A nova edição de O som e a fúria  sairá já no mês de outubro. E a partir de 2017, serão lançados dois por ano, na sequência: Absalão, Absalão! , Sartoris , A árvore dos desejos , Palmeiras selvagens  e Luz em agosto . Terça-fe...

Conselhos de Roberto Bolaño sobre a arte de escrever contos

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No Brasil, o escritor chileno será sempre lembrado pelos grandes romances Os detetives selvagens e 2666 . Mas, como a grande maioria de seus contemporâneos ou de outros romancistas, Bolaño também escreveu poemas – aliás, era como poeta que ele se via enquanto escritor – e contos. Se pelos grandes romances ele se tornou uma febre entre vários grupos de leitores, é preciso dizer que muito antes a construção do gosto leitor pela sua obra vem da maneira como trata uma série de temas coerentes com a existência humana. A multiartista Patti Smith, fã e leitora confessa de nomes da chamada Geração Beat, é uma desse grupo de aficcionados pela obra de Bolaño; numa entrevista em 2010 disse que 2666 “é a primeira obra mestra do século XXI e que ler a obra do escritor chileno era naquela ocasião “uma revelação”. Para muitos, Bolaño foi uma descoberta tardia; para outros não. Mas, o culto pela sua obra, pode-se dizer, foi algo que nasceu ainda quando o escritor estava vivo e se consolidou...

O regresso, de Alejandro González Iñarritu

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Por Pedro Fernandes O regresso é uma materialização do imaginário sobre o explorador estadunidense Hugh Glass, quem, pela vida que levou e os feitos heroicos converteu-se numa lenda popular; tanto que o trabalho conceituado de Iñarritu, louvado pela grandiosidade e pela beleza cinematográficas, não é o primeiro a reanimar os acontecimentos biográficos de Glass. É conhecido, dentre tantos outros, o poema “The song of Hugh Glass”, um dos cinco textos de tom heroico escrito por John G. Neihardt, este em 1915, o romance biográfico Lord Grizzly , de Frederick Manfred, finalista do National Book Award em 1954, o faroeste Fúria selvagem , de Richard C. Serafian, de 1971, e, mais recente, a reimaginação de Michael Punke no livro que serviu de propulsor ao filme de agora  O regresso . Possivelmente Iñarritu deva ter se alimentado, além das histórias populares que ouviu ou leu sobre Glass, de todas essas referências dado o seu aguçado senso de tornar crível, da maneira mais n...

Traduções inéditas que se destacaram em 2015

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Por Alfredo Monte Como sempre digo, não dá para ler tudo, nem gostar de tudo. Por isso, faço uma lista de destaques entre traduções de livros ainda inéditos (apesar das várias versões diretas de obras anteriormente traduzidas do francês ou do inglês, não as levei em conta) por aqui, dentro do meu recorte pessoal, limitado, de leituras: Livro do Ano Submissão , de Michel Houellebecq (Alfaguara): os impasses do Ocidente diante do islamismo assombram o romance moderno desde sua fundação, com Dom Quixote . Não é surpreendente, então, que embasem a mais perturbadora obra do gênero (inclusive devido aos acontecimentos na França) desta década. Leia notas aqui . Destacaram-se também — e de antemão pedindo desculpas pelos comentários genéricos: O rosto de um outro , de Kobo Abe (Cosac Naify): o rosto associado à noção de identidade dando ensejo a mais uma fábula-pesadelo do originalíssimo autor japonês (do clássico Mulher das dunas ) — indicado apenas para le...