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Brooklyn, de John Crowley

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Por Pedro Fernandes Há muito que a obra de Colm Tóibín circula pelo Brasil; e por sua presença não só aqui mas ao redor do mundo e pelos prêmios que já angariou parece ser uma das mais consideráveis para a literatura contemporânea. Embora não seja esta a impressão que fica quando damos pela atenção muitas vezes fria da crítica (no sentido de nunca ser as mais efusivas e nem as mais exageradas); é notório que a leitura sobre sua literatura funciona com algumas reservas; talvez à espera do grande momento (uma epifania) capaz de resgatá-la do limbo para onde arrastou-se.  No entanto, parece que o autor não se interessa em construir uma obra capaz de fazer escola e sim preocupada apenas com o desejo de ser uma literatura cujo o exercício dos bons preceitos da narrativa sejam executados com máximo primor. Notem que essa observação tem ela também suas reservas, mas sublinha, sobretudo uma concepção importante sobre qualquer escritor: entre aventurar-se numa subversão, podemo...

Memória, emoção e transformação: de Jorge de Sena a Carlos Drummond de Andrade

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Por Maria Vaz   Imagem: Lobokoff e Fabienne Rivory De vez em quando uma questão assola-nos o pensamento e perdemo-nos na impossibilidade de uma resposta certa: afinal, o que é a memória? Óbvio será dizer que a resposta variará de acordo com as premissas de que partamos. Já repararam que a razão distribui lógica entre pontos pretensamente certos, mas se perde na incerteza dos pontos iniciais e finais. Pois é: quando começará a memória? Ela nascerá da nossa consciência? Ou encontrar-se-á ligada a pontos tão profundos como a base do iceberg que exemplifica a dimensão do nosso inconsciente?  Terá ela um fim, ou seja: deixa de existir com a morte da matéria animada pela nossa energia? Ou será que perdura com aquilo que de mais imaterial ou intangível existe em nós? Os neurologistas dizem que a memória se encontra intimamente ligada às emoções, às nossas tendências cognitivas e, por conseguinte, ao nosso processo de desenvolvimento desde a infância até à idade adulta,...

Não é meia noite quem quer, de António Lobo Antunes

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Por Pedro Fernandes “não temos certeza se existiu ou nos deram imagens que amontoamos na esperança de conseguir o que se chama vida”. Este fragmento coletado de Não é meia noite quem quer * bem poderia servir de síntese temática sobre esse romance ou ainda de chave de leitura sobre os títulos da obra mais recente de António Lobo Antunes, estes que foram lidos pelo próprio escritor como a revisão obsessiva de um mesmo livro. A razão para tanto – a da síntese – é também enunciadora dessa afirmativa que o português faz sobre a sua obra. Novamente, estamos diante do limiar da condição humana – território sobre o qual tão bem a literatura antuniana tem se construído. A voz que domina esse complexo labirinto de idas e vindas da memória ou esses lapsos que surgem numa e desaparecem noutra vez do pensamento é de uma mulher marcada por uma diversidade de perdas; o conjunto de iluminações nasce do seu reencontro com o passado através da visita à casa onde viveu até antes do casa...

Qorpo Santo: louco, gênio e um homem muito adiante do seu tempo

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Por Neiva Dutra Joaquim José de Campos Leão – Quorpo Santo – homem obcecado pela ideia da santidade, cuja vida foi um verdadeiro pesadelo, viveu entre 19 de abril de 1829 e 1º de maio de 1883. Na Vila do Triunfo, às margens do Rio Jacuí, no interior do Rio Grande do Sul, surgiu como um dos mais poderosos e criativos dramaturgos de meados do século XIX, um dos precursores do que mais tarde seria chamado de teatro do absurdo.  A descoberta de sua obra só ocorreu na década de sessenta do século passado, mas o resgate do seu valor é algo que ainda está para ser cumprido. Sua biografia se confunde com a sua produção literária. Em sua autobiografia, refere que aos três anos sofreu profundo choque moral, acreditando-se perseguido pelas autoridades provinciais. Sua insanidade mental foi atestada pela Justiça e, a partir do momento em que nomearam um curador, de tal forma sentiu-se desamparado que se voltou para dentro de si mesmo, refugiando-se na literatura. ...

Boletim Letras 360º #155

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Sábado de Carnaval. E nós no bloco das notícias que fizeram a semana do Letras no Facebook . Por lá, começamos na sexta-feira e vamos até a Quarta-feira de Cinzas com poemas temáticos sobre a data. Uma folia com Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Cecília Meireles e muitos outros. E por falar em poesia, cadê o seu vídeo recitando um poema? Estamos aguardando inscrições para o 01:MIN DE POESIA. Na nossa página no Facebook, logo no início, você encontra todas as informações necessárias para participar.  Segunda-feira, 01/02 >>> Brasil: Nova edição de O som e a fúria  e a obra de William Faulkner Entre os títulos que saíram da extinta Cosac Naify para a Companhia das Letras, estão os da obra de W. Faulkner. A nova edição de O som e a fúria  sairá já no mês de outubro. E a partir de 2017, serão lançados dois por ano, na sequência: Absalão, Absalão! , Sartoris , A árvore dos desejos , Palmeiras selvagens  e Luz em agosto . Terça-fe...

Conselhos de Roberto Bolaño sobre a arte de escrever contos

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No Brasil, o escritor chileno será sempre lembrado pelos grandes romances Os detetives selvagens e 2666 . Mas, como a grande maioria de seus contemporâneos ou de outros romancistas, Bolaño também escreveu poemas – aliás, era como poeta que ele se via enquanto escritor – e contos. Se pelos grandes romances ele se tornou uma febre entre vários grupos de leitores, é preciso dizer que muito antes a construção do gosto leitor pela sua obra vem da maneira como trata uma série de temas coerentes com a existência humana. A multiartista Patti Smith, fã e leitora confessa de nomes da chamada Geração Beat, é uma desse grupo de aficcionados pela obra de Bolaño; numa entrevista em 2010 disse que 2666 “é a primeira obra mestra do século XXI e que ler a obra do escritor chileno era naquela ocasião “uma revelação”. Para muitos, Bolaño foi uma descoberta tardia; para outros não. Mas, o culto pela sua obra, pode-se dizer, foi algo que nasceu ainda quando o escritor estava vivo e se consolidou...