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A complexa relação entre Truman Capote e Harper Lee

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Truman  Capote e Harper Lee Poucos lugares tão pequenos produziram tanto talento literário. Duas das maiores figuras das letras viveram em Monroeville, um povoado de cerca de mil habitantes no interior do Alabama, sem qualquer via de comunicação e distante de qualquer grande cidade. Ambos escritores, Truman Capote e Harper Lee, eram vizinhos. A casa onde viveu Capote já não existe; resta um muro que delimita as fronteiras do terreno. Onde era a casa de Lee há agora uma sorveteria Mel’s Dairy Dream. Mas neste pequeno espaço, resumido a alguns metros quadrados da rua principal de Monroeville, ambos compartilharam muitas coisas: as brincadeiras infantis e as primeiras aproximações com a literatura são, de certeza, duas delas. Ali se forjaram carreiras formidáveis: a de Capote, errática, genial, atormentada; a de Lee, reservada e tranquila como a vida desses lugares no deep South , o sul profundo. Capote, autor de Bonequinha de luxo e A sangue frio (romance que chega a...

Boletim Letras 360º #156

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Novas cartas de T. S. Eliot dão outro tom sobre seu casamento com Vivien e sobre seus cuidados com ela quando da aparição de sua loucura.  Mais detalhes ao longo deste boletim. Olá, amigos do Letras in.verso e re.verso. Deixamos por aqui todas as notícias que publicamos durante mais uma semana de atividades informativas do blog em sua página do Facebook. Boa leitura! Segunda-feira, 08/02 >>> Brasil: Nova edição reúne toda poesia de Augusto dos Anjos Não é difícil encontrar nas livrarias a obra poética do paraibano e várias são as editoras que dedicam a reinventar a estética para o simples volume de 1912 cuja capa fora marcada em vermelho berrante com o título singular EU . Agora, a José Olympio volta a obra de AA e faz uma renovação de um livro do seu catálogo: o Toda poesia  que traz não apenas os poemas do referido título mas alguns outros que só aparecem em edições póstumas. São cerca de 140 poemas acompanhados pelo conhecido estudo crítico de ...

Reflexões sobre arte popular e arte erudita em Tia Julia e o escrevinhador, de Mario Vargas Llosa

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Por Rafael Kafka Tia Julia e o escrevinhador é mais um daqueles livros que se propõem a realizar várias narrativas ao mesmo tempo e por isso se torna de difícil classificação. Mesmo com uma prosa simples quando comparada com a de outros textos de Mario Vargas Llosa, como clássicos do quilate de A cidade e os cachorros , este romance pode ser considerado da boa safra de Prêmio Nobel peruano e uma boa introdução a recursos muito caros a ele em seus livros mais famosos, como as narrativas entrecruzadas que se unem em uma unidade em certo ponto do enredo e a presença feminina impactante na forma de alguma mulher dona de si e por isso vista como cruel pelos homens. Em Tia Julia... temos o romance autobiográfico em que o autor fala de seus anos de juventude, quando estava na faixa dos dezoito anos e era aluno de Direito ao mesmo tempo que jornalista responsável pelos noticiosos de uma grande rádio do país e aspirante a escritor, na fase em que a nossa criatividade e pressa só...

Brooklyn, de John Crowley

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Por Pedro Fernandes Há muito que a obra de Colm Tóibín circula pelo Brasil; e por sua presença não só aqui mas ao redor do mundo e pelos prêmios que já angariou parece ser uma das mais consideráveis para a literatura contemporânea. Embora não seja esta a impressão que fica quando damos pela atenção muitas vezes fria da crítica (no sentido de nunca ser as mais efusivas e nem as mais exageradas); é notório que a leitura sobre sua literatura funciona com algumas reservas; talvez à espera do grande momento (uma epifania) capaz de resgatá-la do limbo para onde arrastou-se.  No entanto, parece que o autor não se interessa em construir uma obra capaz de fazer escola e sim preocupada apenas com o desejo de ser uma literatura cujo o exercício dos bons preceitos da narrativa sejam executados com máximo primor. Notem que essa observação tem ela também suas reservas, mas sublinha, sobretudo uma concepção importante sobre qualquer escritor: entre aventurar-se numa subversão, podemo...

Memória, emoção e transformação: de Jorge de Sena a Carlos Drummond de Andrade

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Por Maria Vaz   Imagem: Lobokoff e Fabienne Rivory De vez em quando uma questão assola-nos o pensamento e perdemo-nos na impossibilidade de uma resposta certa: afinal, o que é a memória? Óbvio será dizer que a resposta variará de acordo com as premissas de que partamos. Já repararam que a razão distribui lógica entre pontos pretensamente certos, mas se perde na incerteza dos pontos iniciais e finais. Pois é: quando começará a memória? Ela nascerá da nossa consciência? Ou encontrar-se-á ligada a pontos tão profundos como a base do iceberg que exemplifica a dimensão do nosso inconsciente?  Terá ela um fim, ou seja: deixa de existir com a morte da matéria animada pela nossa energia? Ou será que perdura com aquilo que de mais imaterial ou intangível existe em nós? Os neurologistas dizem que a memória se encontra intimamente ligada às emoções, às nossas tendências cognitivas e, por conseguinte, ao nosso processo de desenvolvimento desde a infância até à idade adulta,...

Não é meia noite quem quer, de António Lobo Antunes

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Por Pedro Fernandes “não temos certeza se existiu ou nos deram imagens que amontoamos na esperança de conseguir o que se chama vida”. Este fragmento coletado de Não é meia noite quem quer * bem poderia servir de síntese temática sobre esse romance ou ainda de chave de leitura sobre os títulos da obra mais recente de António Lobo Antunes, estes que foram lidos pelo próprio escritor como a revisão obsessiva de um mesmo livro. A razão para tanto – a da síntese – é também enunciadora dessa afirmativa que o português faz sobre a sua obra. Novamente, estamos diante do limiar da condição humana – território sobre o qual tão bem a literatura antuniana tem se construído. A voz que domina esse complexo labirinto de idas e vindas da memória ou esses lapsos que surgem numa e desaparecem noutra vez do pensamento é de uma mulher marcada por uma diversidade de perdas; o conjunto de iluminações nasce do seu reencontro com o passado através da visita à casa onde viveu até antes do casa...