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A poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen

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Por Maria Vaz Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu a seis de Novembro de 1919, na cidade do Porto. A sua família paterna tinha ascendência dinamarquesa, motivo que talvez tenha dado asas à criação da sua obra “O cavaleiro da Dinamarca”, um conto infantil publicado pelo ano de 1964. A família materna, por seu turno, tinha as suas origens intimamente relacionadas com a aristocracia portuguesa. Não obstante o fato de ter tido uma educação puramente conservadora e católica – o que seria de esperar devido às tradições do seu meio familiar –, Sophia teve a coragem de se assumir defensora de políticas liberais, criticando duramente o regime salazarista. O lado humanitário da poetisa fez com que se distinguisse além do mundo das letras: foi sócia fundadora da “Comissão Nacional de Apoio aos Presos Políticos” e foi, após o 25 de Abril de 1974, representante do Partido Socialista na Assembleia Constituinte. Matriculou-se na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, em 1936...

A gênese de Truman Capote

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Tem dois anos. Sua mãe vai a uma festa e o deixa trancado num quarto de hotel com a única companhia do próprio choro. Aí está; essa parece ser a semente da qual germinará o Truman Capote literário que aprenderá a ver o que está na escuridão. É o primeiro de um rosário de abandonos e desencantos: o divórcio de sua mãe, Lilie Mae Faulk, quem o envia com quatro anos para morar numa fazenda no Alabama com umas tias. Para sobreviver, aflora no menino o prodígio de aprender a escrever e a ler sozinho e, já desde os nove ou dez anos, muda o pranto por uma voz com a qual começa a produzir em segredo sobre os labirintos da solidão, a marginalidade, a temporalidade e os sentimentos impregnados de orfandade e desconsolo amoroso. Entre os anos 1970 e 1980 estiveram guardados esses primeiros gritos da voz de Truman Capote cuja edição foi publicada com o título de The early stories . São vinte contos e uma dezena de poemas escritos entre 1953 e 1943, com os quais o autor tentava apagar s...

Contos de cães e maus lobos, de Valter Hugo Mãe

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Por Pedro Belo Clara O último livro editado por um dos mais destacados vultos da literatura portuguesa (e até lusófona, dado o crescente interesse de leitores brasileiros nos seus trabalhos), é uma obra que compila onze contos propostos nos mesmos poéticos e emotivos modos com que Valter Hugo já habituou os seus seguidores mais entusiastas – sem esquecer as gravuras que abrilhantam as obras por graça de convites a artistas da sua eleição ou amizade.   Serão mesmo esses os adjectivos – poético e emotivo – que, de modo sumário, melhor caracterizarão o livro que hoje apresentamos e propomos. Aliás, o prefaciador, Mia Couto, também deles faz o ramo principal das linhas que esboça nas primeiras páginas da obra, referindo  que se trata de um «reencantamento de infância», tornando-se o livro uma autêntica «máquina de fazer sentir». Mas, sublinhe-se, isto acontece sem se perder de vista aquele que é o cerne da obra erguida por Valter Hugo Mãe: «o questionar das nossas c...

Boletim Letras 360º #159

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Roberto Bolaño: será publicado entre os leitores de língua espanhola um romance e um conjunto de contos, ambos inéditos, do escritor chileno. Mais detalhes sobre a obra ao longo deste Boletim.  Eis aqui, mais uma edição do já tradicional Boletim Letras 360º, uma reunião com todas as notícias que divulgamos durante mais uma semana de contatos em nossa página do Facebook.  Segunda-feira, 29/02 >>> Brasil: Filocalia é uma nova editora interessada em títulos clássicos Tudo já está em andamento para chegar aos leitores a partir de 8 de março. Idealizada por Edson Manoel de Oliveira Filho, o mesmo da É Realizações, o nome do novo projeto vem do grego e significa amor ao belo, ao bom. Na largada serão apresentados oito títulos: um livro de latim para crianças, um estudo de Santo Agostinho sobre o sermão da montanha, uma obra poética do séc. XVII; desse mesmo período, Discurso da reforma do homem interior , de Cornelius Jansenius. Além desses, dois livros...

Outros cantos, de Maria Valéria Rezende

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Por Pedro Fernandes Certa vez contei em duas linhas sobre meu encontro com o nome e a figura Maria Valéria Rezende em 2010 num evento realizado na Universidade Federal de Campina Grande (ver o final desta post). Esse contato não terá produzido qualquer reação de maior esboço porque, notem, minha relação com esse território da literatura brasileira contemporânea era muito incipiente – condição que tem pelo menos dois motivos. Primeiro, raramente se lê ou se sabe sobre o que se passa na literatura dos nossos dias através dos cursos de Letras, ainda em grande parte centrados na leitura e discussão dos nomes considerados essenciais da história literária. Segundo, justamente por isso, essa tarefa de saber sobre os contemporâneos passa a ser determinada como uma responsabilidade individual do estudante e esta, convenhamos, é peça rara mesmo entre os mais abastados de curiosidade; ela poderá ser despertada se, entre os professores de literatura, houver o hábito de ler os contempo...

Spotlight - segredos revelados, Thomas McCarthy

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Por Pedro Fernandes Há filmes que foram criados para causar no espectador qualquer coisa que lhe arranque o mundo das aparências, a realidade dos nossos dias, essa formada de tanto malfeito e que aprendemos desde pequenos a fingir que eles não existem ou pelo menos quando sim estão um bocado distante de nós ou, num processo mais alto da ignorância, em certas organizações não há coisas dessa ou daquela natureza. É preciso dizer que todas as instituições são conduzidas por homens e se há uma coisa que estes não carregam consigo, é a perfeição. É público, desde a revelação em massa dos casos que a Igreja Católica – que nunca foi exemplo de instituição de boa-fé – acoberta de maneira mais diversa possível, os altos índices de abuso sexual contra menores assim como num passado já distante de nós envolveu-se nos esquemas escusos de tráfico de humanos, como bem demonstra outro filme na linha de Spotlight , dos apresentados mais recentemente, Philomena .  Mas, o esquema ...