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Literatura sem final

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Por Guillermo Altares Marguerite Yourcenar, quem revisou integralmente, sempre que pode, sua obra. No célebre começo de seu romance Fim de caso , Graham Greene escreveu: “Uma história não tem nem princípio nem fim: alguém escolhe arbitrariamente o momento da experiência desde olhar para frente ou para trás”. Talvez os romancistas possam eleger o momento narrativo por onde começam seu relato, inclusive aquele com o qual o terminam. Mas, outra coisa muito diferente é quando terminam de escrever uma obra, porque muitos autores sentem que não o fazem nunca. “Borges dizia que o conceito de obra definitiva é apenas fruto da teologia do cansaço”, cita Alberto Manguel, autor de Uma história da leitura e leitor do autor para o escritor argentino quando este perdeu a visão. A relação dos escritores com suas obras é tão intensa como a relação com suas próprias vidas: alguns preferem não olhar para trás, outros não param de fazer isso; alguns são perfeccionistas até o infinito, o...

O horror sem adjetivos de um testemunho inédito de Primo Levi

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Por Guillermo Altares Como acontece com outros grandes escritores que relatam sua experiência como sobreviventes do Holocausto, como Elie Wiesel ou Imre Kertèsz, o valor da obra do italiano Primo Levi vai muito além do literário (embora neste terreno seja imenso). A era dos testemunhos da Shoah está a ponto de acabar; os últimos sobreviventes e também os últimos verdugos vão se apagando pouco a pouco e a memória desaparece com eles. Por isso, obras com a trilogia de Auschwitz* são mais importantes que nunca: só através da leitura dos relatos dos que estiveram aí é possível entender, ainda que remotamente, o horror incompressível do nazismo e do Holocausto. Primo Levi (1919-1987) escreveu também uma série de informes para diferentes instituições ou para prestar testemunho em processos penais contra crimes de guerra nos quais descreve sua passagem pelos campos de concentração; esses textos foram resgatados no volume Assim foi Auschwitz (Companhia das Letras, Federico Car...

Ó, Shakespeare, por quem és? Sobre o único manuscrito do bardo inglês agora online

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Data de 22 de outubro de 1685, a revogação do édito de Nantes por Luís XIV. O ato desencadearia, depois de quase três decênios de supressões de cargos públicos, destruições de templos e conversões forçadas, uma ampliação do círculo de horrores em nome da extinção do protestantismo na França. Viveria razoavelmente em paz quem abjurasse da religião protestante ou dissimulasse seus cultos. Mas, milhares não tomaram essa iniciativa e em nome dos seus dogmas seguiram o arriscado e incerto caminho do exílio; iam sobretudo para Holanda, Suíça, Alemanha e  Inglaterra . Esse extenso grupo não tinha como suficiente o abandono e nem a dissimulação da sua crença em um ambiente de intolerância e tinha o interesse de encontrar um lugar onde pudessem dispor de plena liberdade religiosa. Thomas Morus, pode-se dizer, foi um dos que lutaram à sua maneira para o estabelecimento da convivência entre católicos e protestantes sobretudo no que diz respeito ao lugar do refugiado. As b...

Todo mundo tem direito a um segredo, de Lia Sanders

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Por Pedro Fernandes Desde a ruptura com a narrativa clássica ou o padrão fixo de composição da forma de narração, que os escritores têm, depois de passar por uma febre da imitação da realidade, exercido outro trabalho com a linguagem. Grosseiramente, este texto prefere chamar esse lado de criação. Claro, o termo bebe da decomposição da ideia de que, apenas na lírica, o escritor é um criador. Isto é, cada vez mais o romancista tem buscado fundir a poesia à prosa. Essa observação não diz respeito, evidentemente, a Todo mundo tem direito a um segredo , ao menos no sentido direto com que ela é aqui apresentada, mas é para sublinhar outra questão (e esta, sim, diz respeito ao livro de Lia Sanders): mesmo livre, o ato de criação literária permanece ligado a alguns lugares que, uma vez o escritor não os observe, corre o risco de desandar o tom que faz com que uma narrativa seja vista como bem construída. Não é o caso de Todo mundo tem direito a um segredo se encaixar no rol ...

F. Scott Fitzgerald, poeta

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Por Antonio Lucas O mundo era feliz e Francis Scott Fitzgerald quis contá-lo como se ele o houvesse feito levantar do contágio dos sorrisos e das circunstâncias de excesso que entravam pela varanda de seu quarto. Era um jovem ungido pelo talento. Sedutor. Atrativo. Calçado com uns sapatos bicolores. Gravata fina. Com o cotovelo apoiado na porta dianteira de um conversível com apliques cromados. Ninguém podia alterar, de vez, esse instante perpétuo de fumar cigarros com piteira e levar pelo braço uma noiva de chapéu ornado com laço de seda. Aquele jovem tocado pela graça dos seres ímpares estava disposto a imolar-se em qualquer festa de destaque, mas não cedia por completo à frivolidade porque manejava as palavras com a combustão precisa para destacar num enxame de ricos herdeiros entre os que se moviam com virtude aerodinâmica. Scott Fitzgerald estava na Universidade de Princeton, não tinha ainda vinte anos e no instante que se mostrava o respeitável com modos de pícaro ...

Boletim Letras 360º #160

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Um poema inédito de Cecília Meireles. Saiba mais detalhes sobre essa história e leia ao longo deste boletim. Ah, esse mundo da literatura! Não para, desde que o mundo é mundo. E é por isso que este blog trabalha uma rede social como o Facebook a fim de repassar as boas ideias (sim, modéstia parte, o mundo da literatura, é um dos mais nobres da criação humana). Esse boletim compila o movimento da semana nessa nossa página social. Perdeu alguma coisa? Ache aqui. E, nunca esqueçam, temos um amor danado por aqueles que nos acompanham; se esse boletim existe é pensado a partir dessa consideração. Segunda-feira, 07/03 >>> Brasil: Uma exposição sobre um dos expoentes da Poesia Concreta A produção de Wlademir Dias-Pino, pioneiro da poesia visual, pode ser conferida em uma retrospectiva no Museu de Arte do Rio (Praça Mauá, 5, Centro, Rio de Janeiro/RJ). Na exposição "O poema infinito de Wlademir Dias-Pino", há mais de 800 peças entre livros, cartaz...