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A imagologia de nosso contexto político

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Por Rafael Kafka Dos autores que eu lia há dez anos e ainda hoje leio, Milan Kundera é o que mais é revisitado por mim em meus pensamentos cotidianos. A insustentável leveza do ser , por exemplo, é um texto lido em 2006 e em 2007 por mim cujo fio central, as relações amorosas em tempos líquidos narradas por um romance com pretensões filosóficas até hoje são lembradas em momentos de reflexão e devaneio por minha pessoa. Os outros livros de Kundera com que tive contato possuem uma mescla interessante entre uma doçura existencialista a falar de temas complexos como as relações humanas e essa permuta de papeis entre o escritor e o ensaísta que se utiliza da literatura para iluminar as ideias que acometem a sua mente. O autor tcheco, nesse sentido, sempre me lembra demais José Saramago, pois o seu narrador se confunde demais com a figura do autor. Há passagens em livros como o acima citado em A imortalidade , por exemplo, nas quais o autor e coloca como personagem de seus livro...

Dezesseis conselhos de escrita por Gabriel García Márquez

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Para Gabriel García Márquez não havia outra maneira de aprender a escrever que não fosse lendo os grandes escritores. O escritor manteve durante toda sua vida o mesmo fascínio pelas pessoas, lugares e situações que à primeira vista pareciam-lhe comuns, mas logo os transformava e mostrava-os que nada é totalmente simples. E essa complexidade do mundo aprendeu lendo: Faulkner, sua grande obsessão, Hemingway, Virginia Woolf, a literatura clássica, com os contos de As mil e uma noites . Dessas relações, saíram criações sensíveis e profundas marcadas pela exclusão do pedantismo filosófico ou da narração marcada pela simples complexidade da forma. Sua obra cria um mundo à parte do mundo conhecido dos latino-americanos e com ela deu forma a uma das correntes literárias mais importantes do século XX. O homem que dizia encontrar inspiração para o realismo mágico dos contos e lendas contados pela avó quando criança esboçou ao longo de vários textos, cursos e entrevistas alguns pontos ...

Aqui jaz uma amante

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Por Marina Enriquez  Ted Hughes e Sylvia Plath No dia 11 de fevereiro de 1963, a enfermeira que ajudava Sylvia Plath não teve resposta quando tocou a campainha do apartamento da poeta, o n. 23 da Fitzroy Road. Haviam sido meses difíceis para Sylvia: desde setembro do ano anterior estava separada de Ted Hughes, tomava antidepressivos receitados por seu médico John Horder – o mesmo que havia recomendado a assistência de uma enfermeira – e vivia num estado muito vulnerável com seus dois filhos, Frieda, de dois anos, e Nicholas, de nove meses. O inverno londrino havia sido o mais frio em anos – congelava a água nas tubulações, as crianças estiveram doentes. Ela, apesar de tudo, escrevia com furor os 26 poemas que só seriam editados postumamente no livro  Ariel . A enfermeira pediu ajuda a um pedreiro que trabalhava numa obra próxima e quando conseguiram entrar no apartamento encontraram Sylvia morta, ajoelhada frente ao fogão, com a cabeça dentro do forno,...

Juan Rulfo, fotógrafo

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Juan Rulfo reconhecia que viver era seu único ofício. Sua personalidade melancólica com sombras de nostalgia se formou quando ainda era um menino e a morte alcançou seus pais. Este halo de solidão cobriria sua obra literária e lhe permitiria ser, além disso, um criador de imagens. Certa vez Rulfo escreveu que “em todos que gostam muito de ler, de tanto estar sentados lhe dá preguiça de fazer outra coisa”. Ele gostava muito de ler; mas lhe apetecia a história, a música da Orquestra Sinfônica Nacional e a fotografia. E, diferentemente dos preguiçosos e leitores vorazes, desenvolveu uma vasta obra fotográfica em desacerto com o trabalho literário. Quer dizer, um desacerto apenas em parte; a sensibilidade nata que possuía e que deu forma a obras como Pedro Páramo e alimentou o seu gosto pelas artes, além da música clássica e a pintura, teria um impacto maior na expressão fotográfica. Através dela deixou um testemunho da desolação que cobria sua visão da realidade e um registr...

Baudelaire, um obcecado pela revisão

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Detalhe da folha de rosto de uma das provas de As flores do mal . Personagem de distraída modéstia, Charles Baudelaire sabia ser chamado à glória. “Rejeito tudo, o espírito de invenção e inclusive o conhecimento da língua francesa. Rio desses imbecis e sei que este volume, com suas qualidades e seus defeitos, encontrará um lugar na memória do público letrado, ao lado das melhores poesias de Victor Hugo, Théophile Gautier e talvez Byron”, escreveu para sua mãe em julho de 1857, depois de publicar As flores do mal , a antologia poética que revolucionaria as letras francesas.  Se essa história é mais ou menos conhecida de todos, outra também não deixa de ser muito famosa: o poeta francês sempre soube que, antes de se inscrever na posteridade, devia construir uma obra sólida e irreparável. Por isso, passou quase uma década corrigindo suas provas para impressão, reescrevendo uma e outra vez seus 150 poemas com uma persistência quase patológica, a em que todo autêntico perf...

Boletim Letras 360º #164

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Estas foram as notícias sobre o universo de interesse do blog que circularam durante esta semana na página do Letras in.verso e re.verso no Facebook (você já nos segue?) Viva, mais um First Folio foi encontrado! Mais detalhes sobre essa descoberta o longo deste boletim. Segunda-feira, 04/04 >>> Suécia: Morreu Lars Gustafsson Escritor, poeta, editor,filósofo, professor, tradutor e um grande dramaturgo; o sueco Lars Gustafsson, que chegou a ser um dos favoritos ao prêmio Nobel de Literatura, nasceu em Västerås em 1936. Publicou seu primeiro romance aos vinte e um anos. Foi durante a década de 1970 um dos mais ferozes críticos ao pensamento socialista de seu país. Viveu e trabalhou em Alemanha e Estados Unidos, durante o período em que se dedicou à carreira acadêmica, isso logo quando defendeu seu doutorado em 1978. Reconhecido internacionalmente recebeu prêmios como o John Simon Guggenheim Memorial Foundation Fellowship de poesia (1994), a Medalha Goethe (20...