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A efemeridade é também coisa de poeta e de poesia

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Por Pedro Fernandes A reedição da antologia organizada por Italo Moriconi vem em boa hora. Desde a publicação de Toda poesia , de Paulo Leminski, em 2013, que um novo olhar tem se levantado para os nomes de uma geração a bem pouco tempo comuns apenas entre uma parte dos jovens mas ainda situados na mesma designação de figuras marginais. Não é o caso de, depois do fenômeno da obra, seguido de outros, como a também reedição da poesia completa de Ana Cristina Cesar e de Waly Salomão, que essas vozes tenham saído do coro para o qual a crítica sempre o designou. Mas romperam com a ideia de que o marginal é necessariamente aquele que figura à margem para abrir-se uma ventilação no cânone nacional. Isto é, possibilitou-se falar sobre a reavaliação da obra desses escritores, cumprindo-se, assim, o que anseia o antologista de Destino: poesia , que, seja dada a abertura ao conhecimento sobre as principais vozes da poesia brasileira das últimas décadas. Independente se dentro ou fora d...

Henry James, entre a autoafirmação e o mascaramento

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Por Christopher D Michael  No dia 28 de fevereiro de 2016 cumpriram-se cem anos da morte de Henry James em Londres, outro acaso de celebridade misteriosa na história da literatura. Como foi possível que este romancista dedicado a um assunto antiquado e até banal, como a descoberta da Europa por uma elite estadunidense da Costa Oeste se converteu num recurso naturalmente inesgotável e para a indústria acadêmica da pátria que abandonou na busca do mais refinado dos cosmopolitismos? Para buscar uma resposta recorri a um dos primeiros estudos (uma edição pirata, certamente) dedicados ao romancista, o escrito por Rebeca West, a mãe do filho de H. G. Wells e a assombrosa cronista do México e dos Bálcãs, publicado pouco depois da morte de Henry em 1916. E também o apetitoso estudo Monopolizing the Master. Henry James and the politics of modern literary scholarship (2012), de Michael Anesko, uma documentada denúncia das trapaças praticadas por Leon Edel (1907-1997), se...

Robert Walser ou a escrita como caminhada

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Por Luigi Amara As vezes a escrita se converte numa espécie de traição. A ironia de tornar em borrão centenas de páginas para a evocação de uma memória insistente, ou o paradoxo de recorrer à uma linguagem própria a fim de marcar suas limitações ou ainda sua impossibilidade, deixam um sabor amargo de incongruência e desconcerto, a sensação de estar brincando com fogo, de haver preparado a armadilha na qual logo haveremos de cair; talvez de algum modo essas inevitáveis traições nos remetam aos mecanismos que se autodestroem em cinco segundos. Escrever sobre Robert Walser comporta algum desses perigos. Elias Canetti conjeturou que a insistente rejeição do escritor suíço acerca da grandiosidade se deve justamente a fato de que nada parece mais alheio ao seu estilo que a grandeza, que à frente de qualquer forma, o reconhecimento se torna uma saída torpe, imprópria, remendada. Como seja, a opção de respeitar a todo custo a relutância de Walser em não se destac...

Boletim Letras 360º #174

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Um caderno de inéditos de Van Gogh ganhará publicação em novembro. Mais detalhes ao longo deste Boletim. Aqui estamos, caros leitores, em mais uma edição que copia as notícias que circularam durante a semana em nossa página no Facebook. Deliciem-se e recebam os nossos agradecimentos por nos acompanhar diariamente. Segunda-feira, 13/06 >>> Espanha: Tudo sobre Cervantes online Numa das celebrações passadas o Google Cultural Institute favoreceu a leitura em vídeo através do canal no Youtube de Dom Quixote ; agora com o apoio do governo espanhol inaugura “As rotas de Cervantes”, uma das maiores mostras virtuais sobre o escritor espanhol. São 18 exposições organizadas em parceria com oito instituições que disponibiliza aos leitores 1 000 documentos sobre o autor.  O projeto pretende colocar à disposição dos leitores de qualquer parte do mundo materiais diversos em áudio, imagem e uma linha do tempo com a biografia de Cervantes. Entre as exposições já disponív...

O fascismo nasce da falta de leitura

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Por Rafael Kafka Quando li Admirável mundo novo  de Huxley há uns dez anos não imaginava que viveria em um mundo que odiasse os livros, que os vissem como algo inútil, nocivo. A massa de não leitores brasileiros para mim se explicava e ainda se explica pela rotina cheia de trabalho e vazia de dinheiro que muitos de nós temos de passar diariamente, complementada com uma vida sem incentivo à leitura e outros processos sociais mais amplos. Imagine isso, caro leitor: você é um trabalhador braçal, do varejo ou autônomo, áreas em que mais vi empregados em minha rotina de morador de periferia. Passa umas dez ou doze horas por dia indo e voltando do trabalho e trabalhando. Chega em casa, precisa dar atenção à família e, muito provavelmente se for mulher por ser cobrada a isso por nossa estranha sociedade patriarcal, terá de fazer uma quantidade imensa de tarefas que não deixam tempo para mais nada. No máximo, você se sentará em frente à TV, verá aquele jornal que vende a imag...

Nos tempos da grande mentira

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Por Carles Geli Não há quem sustente que a literatura tem a força para criar uma vida real? Não é o maior encanto da ficção nos permitir convertermo-nos em outros? Em todo caso, não fomos todos enganados – desde 2008 e ainda hoje – com a bolha financeira? Nessa linha, o escritor Jorge Volpi criou uma macrometáfora criando em seu livro  Memorial da fraude  (Alfaguara) “um narrador que é, aos olhos do leitor, uma fraude”. Completamente. O romance não é escrito por ele, mas por um tal de J. Volpi, nascido em Nova York em 1953 e não no México, em 1968;  não um escritor reconhecido mas o fundador e diretor geral da J V Capital Management; uma figura de paradeiro desconhecido e fugitiva da justiça depois de uma fraude bilionária em 2008. O vigarista entregou uma espécie de memórias ao seu agente literário A. W., seguramente o temível Andrew Wyle (ex-agente verdadeiro de Volpi escritor) que torna público este relato com a tradução de um tal de Gustavo Izquierdo e seguido ...