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Natália Correia: um sopro de liberdade na poesia portuguesa

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Por Maria Vaz Confesso aquilo que o ‘dever ser’ evitaria: não sabia bem sobre quem escreveria desta vez. Contudo, há sempre qualquer coisa de correspondência anímica que nos envia para aquilo que amamos em alguém. A inconvencionalidade que só tem quem é tocado pela liberdade. Uma liberdade que é amor. Um amor abstracto e nada mesquinho. Pelos Direitos Humanos. Pela emancipação feminina. Pela preocupação com genuinidades, e não com o politicamente correcto: que nunca é para nós, mas para o que os outros possam pensar; que, paradoxalmente, não é altruísmo de nenhum tipo, mas egoísmo e vaidade. Enfim. Para quem passe os olhos pela biografia de Natália Correia torna-se facilmente visível o brilho ontológico que carregava consigo: um brilho que a perseguia em palavras ordenadas em estrofes ou, simplesmente, na liberdade que a sua existência sempre exalou. Era uma existencialista. Uma rebelde. Não lhe chamemos poetisa, afinal sempre defendeu que a poesia era assexuada. A sua exa...

Boletim Letras 360º #190

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Octavio Paz. Encontrados papéis inéditos do poeta mexicano no arquivo da censura na guerra civil espanhola. Antes de apresentar as notícias que fizeram a semana do Letras no Facebook, apresentamos que estão abertas as inscrições para participação na promoção sobre os 10 anos do blog. Entre os brindes está toda a obra do Valter Hugo Mãe publicada em 2016 pela Biblioteca Azul e a obra completa de Raduan Nassar. Saiba mais aqui .  Segunda-feira, 03/10 >>> Portugal: Flores , o romance de Afonso Cruz, ganha o Fernando Namora de 2016 "A elevada qualidade estética", "o domínio da linguagem de ficção, a capacidade de construção de uma história e das suas personagens, sabendo lidar com a introdução do aleatório numa estrutura bem montada", o "registo lírico de apreensão do real", a relação entre "a cultura clássica a referências correntes - através de uma assinalável compreensão do quotidiano e da sua riqueza multifacetada" - eis al...

Julio Ramón Ribeyro: um homem com cigarro apagado

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Por Javie Goñi Assim o recordo. Um homem com um cigarro apagado. De face magra. Ou absorvendo – com raiva, com convicção, tanto faz – o fumo de seu cigarro. Então, era permitido fumar nas livrarias; fumava-se em todos os lugares. Fumava-se. A equipe da TVE – até princípios dos anos oitenta, não havia outra televisão –, abundantemente. Abundantemente como se fosse o Real Madri em estado de graça; duas pessoas por posto: o câmera e o seu ajudante; a câmera de cinema num tripé – então se gravava com câmera de cinema; o chispas se encarregava do foco para os três, devidamente bem colocados. Em certas ocasiões, se era em casa onde se gravava, podiam soltar os pombos; o encarregado do som, às vezes com ajudante, para que se preparasse, para que aprendesse, para que fizesse número; o diretor, ah, o diretor com veemências de D. W. Griffith ou de Cecil B. DeMille, com calça esporte e camiseta sem mangas: diretor ou ajudante de diretor, este também com veemências; o da produção; e o ...

Dias de abandono, de Elena Ferrante

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Por Pedro Fernandes A certa altura da narrativa de Dias de abandono , a narradora volta a uma situação presente na série napolitana sobre a escrita de um romance por recomendação de uma professora e o anseio pela composição de um livro que, ao contrário dos sugeridos, não fosse sobre “senhoras cultas, em boa condição social, quebrando-se feito bibelôs nas mãos de seus homens distraídos”; que não fosse sobre “mulheres emocionalmente burras”: “queria escrever histórias de mulheres com muitos recursos, mulheres com palavras indestrutíveis, não um manual da esposa abandonada com o amor perdido como o próprio pensamento da lista”. Se o desejo se cumpre? Em parte sim; noutra parte não. Em parte sim porque Dias de abandono é a história de uma mulher abandonada; em parte não porque não é um manual, é a narrativa de mulher com palavras indestrutíveis. As elucubrações de uma mulher que, de uma hora para outra, recebe a notícia da separação e que não sabe ao certo como fará para c...

O vento da noite, de Emily Brontë

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Há um livro que sempre será apresentado como se fosse o único de Emily Brontë e cujas edições e traduções têm crescido consideravelmente desde sua popularização: O morro dos ventos uivantes . Mas, há uma face da escritora que certamente é novidade para muitos leitores e é também uma das melhores da sua obra – a poesia. A nova edição de O vento da noite , livro em que desde o título ecoa traços recorrentes do universo literário da escritora é uma das melhores surpresas. O livro integra o trabalho de recuperação da obra de outro escritor, Lúcio Cardoso, quem trabalhou durante longo tempo com a tradução de importantes obras da língua inglesa para o português. Isto é, O vento da noite significa muito não apenas para os que desejam contatar com a escrita de Brontë mas também com a escrita do brasileiro – um duplo diálogo favorável à compreensão criativa de um e outro. Há, por exemplo, na escolha de Cardoso pela tradução dessa obra uma série de temas que lhe servem à composiçã...

Dez poetas necessários da nova literatura brasileira

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Qualquer movimento cujo interesse seja o de tentar colocar a poesia brasileira entre limites – seja julgando forma, tema ou conteúdo – estará fadado ao fracasso. Mesmo as divisões didático-pedagógicas que buscam reunir este ou aquele autor pelas correntes ou escolas literárias, determinação mais ou menos homogeneizante, nunca conseguiram responder adequadamente por essa organização sem deixar de ser questionada pela diversidade de indagações que obrigam exceções frente às imposições das regras. Quando o núcleo temporal é o das últimas décadas, as dificuldades mais aumentam porque os critérios criativos, formais, temáticos e de conteúdo dos poetas são bastante heterogêneos. Reanimam com essa diversidade a natureza plural e multissignificativa da literatura brasileira já não mais presa ao reduto nacional mas sempre em busca de integrar-se ao lugar de criação universal. Logo, a lista de autores que cuidadosamente selecionamos abaixo jamais será uma lista completa, tampou...