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A convergência dos ventos, de Nuno Júdice

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Por Maria Vaz Há dias em que os ventos convergem e, entre chuvas de dúvidas, lá nos levam a perder em palavras soltas, que nos respondem ou ampliam indagações. Sim: há palavras aglomeradas em estrofes em que – ainda que não nos revejamos totalmente em termos existenciais – trazem os ventos que nos levam a convergir para aquilo que vamos sendo. Sem esquecer essa mutabilidade do verbo ‘ser’: uma mutabilidade, tantas vezes, com bases fixas. Ontologias ou intelectualidades à parte, aquilo que extraímos do nosso interior não passa de uma narrativa subjectiva – com todas as críticas que a redução ao real-objectivo formalizam –, uma obra permite-nos sempre vislumbrar um pouco do seu autor de acordo com a nossa mundividência. Não obstante, procurarei enunciar as notas objectivas daquilo que ressalta na obra A  convergência dos ventos . Assim, podemos dizer que os ventos convergiram para questões e temas que perpassam a existência de todos os seres emocionalmente intensos. É ...

Boletim Letras 360º #192

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Ce c ilia Meireles. Toda a obra da poeta será editada em 2017. Mais detalhes ao longo deste Boletim. Falta menos de um mês para encerrarmos as inscrições para a promoção sobre os dez anos do Letras. Saiba todos os detalhes e não fique de fora aqui . Entre os brindes estão todos os livros do Valter Hugo Mãe publicados em 2016 pela Biblioteca Azul (incluindo o novo romance) mais a edição lindíssima com a obra completa (e inéditos) do Raduan Nassar publicada pela Companhia das Letras. Segunda-feira, 17/10 >>> Brasil: A poesia de Noémia de Sousa Sai pela editora Kapulana uma edição com a obra poética da chamada de "mãe dos poetas moçambicanos". É a primeira vez que a obra da poeta é publicada no Brasil. Sangue negro , que é produto raro mesmo em seu país, onde só teve duas edições, após a morte da autora reúne poemas que circularam na imprensa e em fotocópias. >>> Brasil: Os oitenta anos de Moacyr Scliar As celebrações começam em ma...

O quinze, de Rachel de Queiroz

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Por Rafael Kafka A jovem Rachel de Queiroz quando do período em que escrevia O quinze.  Arquivo do Museu Histórico de Quixadá. O quinze é longe de ser um romance grandioso se o compararmos com outras obras do regionalismo modernista brasileiro, como Vidas secas , ou mesmo obras da própria autora, Rachel de Queiroz, em momentos mais tardios de sua carreira, como Memorial de Maria Moura . Todavia há nele alguns elementos do ponto de vista formal e conteudístico os quais devem ser levados em conta no presente texto. A começar pela temática da seca sendo abordada por uma jovem de apenas 20 anos de idade na ocasião utilizando-se de memórias da grande seca que assolou o nordeste brasileiro em 1915 – ano que dá nome ao romance de estreia de Rachel, que pelo volume poderíamos facilmente dar o rótulo de novela, mas é mesmo um romance por em suas poucas páginas se utilizar de diversos focos narrativos. Devido ao fato de ser um romance estreante em fase tão juvenil, percebemos...

Dario Fo

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Depois de mais de setenta anos pisando as tábuas dos palcos, e forjando as do compromisso político, ficamos sem Dario Fo, o homem que gostava de se apresentar como um continuador dos menestréis; de uma narração oral arcaica e eficaz, cuja presença, pertinente em sua dramaturgia, Fo conseguiu preservar, contra o vento e as marés políticas e teatrais do século XX. Um século que atravessou levando a arte dramática desde o papel ao cenário como autor, ator, diretor e ativista. Seu compromisso político criou-lhe problemas com a censura, ataques fascistas, agressões graves – a ele e à sua companheira, a também teatróloga Franca Rame – e inclusive a proibição de participar em importantes trabalhos para atuar nos Estados Unidos devido sua posição de ferrenho esquerdista durante os anos sessenta. As mesmas razões que serviram para que sua obra tenha passado por boicotes em todos os países até pelo menos nos anos oitenta foram as que o converteram numa das mais importantes para a...

Cinco esquinas, de Mario Vargas Llosa

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Por Eugenio Fuentes A vida das grandes figuras sempre serviu de interesse às pessoas comuns. Surpreende encontrar em Ifigênia em Aulis , de Eurípides, um texto do século V antes de Cristo, as seguintes palavras: “Os ricos e famosos sonham ser o centro da atenção de todos os mortais. Entretanto vão dizendo: se realizará um himeneu ou o quê?” Em Shakespeare apresenta-se a mesma ideia em Noite de Reis , quando afirma: “Já sabeis o que as pessoas dizem do que faz a nobreza?” No Século de Ouro espanhol, os lugares públicos onde se reuniam os charlatões a comentar rumores e notícias tinham um nome irônico muito adequado: os mentideros . Talvez porque não se suspeitasse que não era verdade tudo o que ali se dizia. E Henry James, com sua penetrante capacidade de observação, estabelece em The Reverberator (1888) o diagnóstico definitivo de tanto interesse, através da voz de um jornalista visionário que decide fundar um jornal dedicado aos assuntos do coração: “Bom, qu...

O poeta abjecto insuperável

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Por Jesus Aguado  Tantos anos depois de sua morte em Marselha devido uma gangrena continuamos a acreditar que Arthur Rimbaud existiu. Uma hipnose que dura longo tempo e converteu esse leproso das letras e esse mestre em fantasmagorias numa referência inquestionável da literatura universal. Não há poeta que não deixe de se medir com o padrão-ouro fixado por seus versos e com o padrão-vertigem fixados pela sua existência. Uma obra e uma biografia alucinadas que, todavia, conspiram contra os que, sentindo-se obrigados a colocar a Beleza em seus trilhos não se atrevem a estrangulá-la por medo qualquer dos infernos que os conduzem à desordem de todos os sentidos ou, se atrever-se,  logo em seguida pedem perdão e acabam chorando em seus braços maternais. Ao lado de Rimbaud todos continuamos sendo elegantes parnasianos de coração sensível que, em maior ou menor grau, confiamos nas aparências do mundo e em suas inércias epistemológicas e hermenêuticas. Inclusive...