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Onze livros com animais no plano principal do enredo

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É bastante recorrente na ficção a presença de animais que desempenham ora um papel muito simbólico para a narrativa – caso de o cão das lágrimas em Ensaio sobre a cegueira , de José Saramago em que sua atitude de conforto à mulher do médico extenuada das forças em lutar contra algo maior que ela – ou mesmo assumem o papel de protagonista até o limite de ganhar destaque na capa do livro, isto é, dão nome à obra. Não raras vezes são animais cujas feições humanas ultrapassam a caracterização do próprio homem. A humanidade de baleia em Vidas secas , de Graciliano Ramos e dos cães na obra de José Saramago (eles lá estão em toda parte) é de chamar a atenção de qualquer leitor. E essas personagens marcantes pertencem a uma galeria para outra lista. Esta que agora se publica é também uma lista de animais, mas seu caráter é mais abrangente e chama atenção para aquelas obras cuja importância dessas personagens é tamanha que o seu autor ousou nomeá-las em referência explícita a el...

Com tinta vermelha, de Mireille Abramovici

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Por Pedro Fernandes Nem todo título de uma obra nos propõe um enigma. E os que comumente fazem isso estão marcados por uma sentença poética. Com tinta vermelha não se encaixa nem na primeira e nem na segunda constatação. A princípio, pelo tema proposto, o leitor poderá suspeitar que os termos assim dispostos signifiquem a marca da dor. Mireille Abramovici volta a um tema muito caro para história da humanidade: os horrores do nazismo contra os judeus. Apesar de ser esta uma obsessão manipulada de forma diversa pela literatura de ficção ou pela história nunca deixará de ser algo dispensável para os leitores de qualquer geração porque o horror é sempre necessário de fazer parte do imaginário a fim de que sirva como alerta sobre os desrumos que um projeto de intolerância – nascido de pequenas atitudes, para lembrar da brincadeira de mau gosto experimentada por um russo aos judeus na narrativa de Doutor Jivago , de Boris Pasternak – ganhe a proporção de uma obsessão col...

Paul Celan

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Por Carlos Ortega Do Holocausto ficaram vítimas mortais e vítimas moribundas. A quantidade de judeus exterminados pelo nazismo na Europa é conhecida, mas a verdadeira magnitude do Holocausto só é complemente visível se se tem em conta também os sobreviventes do crime. A tradição judaica criou um termo para referir-se a eles: sheerit , o remanescente, o que ficou. Essa carga residual vem de um termo hebraico, é uma matiz de orfandade: o que ficou, mas o que ficou sem nada nem ninguém. O núcleo deste remanescente constituiu-se de aproximadamente cinquenta mil judeus soltos dos campos de concentração espalhados pela Áustria e Alemanha entre abril e maio de 1945. A eles se somaria algumas centenas de milhares que antes haviam escapado por pouco dos tentáculos assassinos de Hitler, mas que se viram igualmente órfãos, vagando pelas frias estepes do Leste europeu ou por sórdidos ambientes das capitais onde se esconderam até alcançar um lugar mais seguro no mundo. O poeta Paul Ce...

Os clássicos nos fazem críticos

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Por Carlos García Gual   Ulisses e as sereias. Otto Greiner Como destaca Alfonso Berardinelli (em Ler é um risco ), os livros que qualificamos como “clássicos” não foram escritos para ser estudados e venerados, mas, antes de tudo, para ser lidos. O renovado e largo fervor de seus leitores tem sido o que deu prestígio a alguns livros e os mantém vivos ao longo dos séculos. Talvez por isso há quem acredita que esses escritos de outros tempos não são de fácil acesso, são desatualizados e distanciados de nós e mantidos única e exclusivamente por uma retórica acadêmica. Contra tão vulgar prejuízo parece-me excelente o conselho de Berardinelli: “Quem ler um clássico deveria ser tão ingênuo e presunçoso como pensar que esse livro foi escrito precisamente para ele, para que ele se decidisse a lê-lo”. Cada clássico convida a um diálogo direto, porque suas palavras não se perderam com o tempo, e podem ser tão atrativos hoje como quando foram escritos, para quem se arrisca a v...

Boletim Letras 360º #193

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As celebrações pelo Dia de Drummond começam hoje, 29, e seguem até o aniversário do poeta, o também Dia Nacional da Poesia, dia 31 de outubro. A data do Dia D faz parte da iniciativa do Instituto Moreira Salles em celebrar a obra do poeta. Falta exatamente um mês para entrarmos nos dez anos online. Uma maneira que encontramos de iniciar as celebrações entre nós leitores foi a realização desta promoção; entre os brindes oferecidos estão todos os livros do Valter Hugo Mãe publicados em 2016 pela Globo Livros / Biblioteca Azul (incluindo o novo romance anunciado neste Boletim) e a edição com a obra completa de Raduan Nassar publicada pela Companhia das Letras. Para saber sobre e como participar, basta acessar aqui . Segunda-feira, 24/10 >>> Brasil: A edição brasileira do livro O lagarto , de José Saramago sai em novembro No mês de setembro as livrarias portuguesas receberam o novo livro (cf. noticiamos por aqui). A crônica publicada há 40 anos...

E os tais inéditos de Roberto Bolaño?

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Roberto Bolaño nem sempre foi escritor; primeiro trabalhou como lavador de pratos, lixeiro, cozinheiro e até vigilante noturno. Nem sempre morou no mesmo lugar: passou pelo México, El Salvador e vários países europeus antes de ir viver na Espanha. Era janeiro de 1981, quando chegou a morar na casa do bairro Las Pedreras, em Girona; antes, havia deixado seu quarto na rua Tallers, em Barcelona, cinco anos depois de seu itinerário por parte da América Latina. Estava ainda na casa dos vinte anos e a instalação ao norte da Catalunha foi numa habitação alugada pela irmã Salomé que logo regressou ao México deixando o escritor só com sua cadela Laika. Foi aí que começou a se dedicar melhor à literatura; foi aí que construiu uma contínua recepção para velhos amigos. “Toda vez que eu o visitava estava sozinho e fazia um frio que carcomia os ossos”, recorda Bruno Montané. “Roberto se agarrou com a biblioteca de livros de ciência de ficção que o cunhado Narcís havia lhe emprestado”...