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Boletim Letras 360º #211

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Juan Rulfo. 2017 é o ano de centenário do escritor mexicano. O universo da literatura em língua espanhola conspira celebrações diversas em torno de sua obra. Nesta semana, as notícias que publicamos em nossa página no Facebook foram as que seguem. Segunda-feira, 27/02 >>> Argentina: Mais de 17 mil livros da biblioteca pessoal de Adolfo Bioy Casares integram agora a Biblioteca Nacional argentina O material, segundo especialistas, tem um valor cultural e histórico inestimável, já que o acervo (atualmente guardado em caixas, num depósito) pertencia também, de certa forma, a Borges, uma das pessoas que mais frequentava o pequeno palacete do bairro da Recoleta onde moravam Bioy Casares e Silvina. O patrimônio soma algo em torno de 400 mil dólares — adquiridos com patrocínios. Uma preciosidade do acervo é a edição de A invenção de Morel , de Adolfo Bioy Casares, com correções do próprio escritor. As 330 caixas de livros incluem primeiras ediçõ...

Quando a esquerda lacradora e a direita conservadora me mostram como a internet pode ser perigosa

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Por Rafael Kafka Umberto Eco pronunciou pouco tempo antes de morrer uma de suas mais célebres frases: as redes sociais deram voz a uma multidão de imbecis. O que o autor de Obra aberta esqueceu de mencionar é que tal geração além de ter ganhado mais voz teve também evidenciado o seu pouco gosto em ouvir o lado contrário. Mas talvez ele tenha deixado implícito outra fala famosa, associada ao escritor estadunidense Charles Bukowski, quem teria dito, certa vez, ser o mal do mundo o fato de os ignorantes estarem cheios de certeza enquanto os gênios viviam cheios de dúvida. Ou algo do tipo. Nas redes sociais o que mais vemos são nichos fechados em si de pessoas se provocando mutuamente sem conseguirem criar um campo de debate saudável. Dia desses, eu estava em uma de minhas várias confusões virtuais e comecei a me questionar sobre o porquê de gastar tanto tempo com essa bizarra ocupação. Sempre tive esse hábito de discutir demais, de sempre querer ter a razão, mas mais recen...

Duas novelas de Junichiro Tanizaki

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Por Pedro Fernandes Há na literatura oriental, ao menos nas obras de escritores como Junichiro Tanizaki, algo caro à literatura ocidental, sobretudo, as marcadas pelo experimentalismo que é um zelo agudo com a palavra e outra relação com a dimensão temporal – esta última, a grande rival dos leitores ávidos pela ação desbragada. Essa percepção comum e, logo, não característica de Tanizaki é aqui retomada, porque é um aviso aos leitores mais afoitos e desinteressados da contemplação: dificilmente um livro dessa literatura será bem-quisto se antes o leitor a costumado à literatura ocidental não  se desapegar da maneira como se relaciona com a leitura. Aos que se aventurarem nesse esforço, uma garantia: nunca lerão da mesma maneira mesmo os livros da literatura ocidental. O desenvolvimento detalhado das situações e o esgarçamento do tempo são alguns dos elementos que nos permitem manter outra relação com o texto, que é a de observação do mínimo detalhe capaz de introdu...

Marguerite Yourcenar e Grace Frick

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Por Telma Amaral Gonçalves  Marguerite e Grace conheceram-se em 1937 ocasião em que Grace, que era americana, estava em viagem pela França. Encantada por Marguerite, Grace se apaixona e passa com ela todo o restante de sua vida o que soma quarenta anos de relacionamento.  Marguerite era oriunda de uma família aristocrática e tendo perdido sua mãe onze dias após o parto, foi criada pelo pai de quem recebeu uma educação clássica, complementada por inúmeras viagens pelo mundo. Desde jovem passou a se dedicar à literatura, tornando-se uma escritora consagrada, a ponto de em 1981, ter sido a primeira mulher a ingressar na Academia Francesa.  Grace Frick também pertencia a uma família abastada do sul dos Estados Unidos e tendo ficado órfã cedo foi criada por um tio. Obteve seu diploma de Bacharel em Arte, em 1925 e seu Mestrado em literatura inglesa, em 1927, após o que tornou-se professora universitária.  Depois do contato inicial, Marguerite e Grace ...

Corpos e costumes, riquezas dos povos. Marcel Mauss sob o olhar de Lévi-Strauss

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Por Felipe V. Almeida Jorge Luis Borges dizia que o escritor é capaz de escolher sua ascendência, ou seja, sua obra contém sempre ecos e referências daqueles que o antecederam e o tocaram, sendo muito disso intencional, como uma filiação artística e intelectual. Foi assim que a partir de minhas leituras da obra de Georges Bataille acabei dando uma atenção cada vez maior a dois nomes basilares da antropologia: Lévi-Strauss e Marcel Mauss. Nessas leituras esbarrei em uma introdução que transita entre a interpretação e o elogio, uma possibilidade de ver a obra de Marcel Mauss (1872-1950) pelo olhar afiado de Claude Lévi-Strauss (1908-2009). Sobrinho do sociólogo Émile Durkheim, Marcel Mauss é considerado por muitos, entre eles Lévi-Strauss, um dos grandes fundadores da antropologia francesa. Na introdução ao livro Sociologia e antropologia  publicado em 1950 que compila grandes estudos de Marcel Mauss, Lévi-Strauss isola e aponta uma de suas grandes contribuições acadêm...

De poesia e de poetas

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Por Márcio de Lima Dantas Anjos rebeldes. Bruegel. Gostaria de que os leitores não inscrevessem este artigo no que habitualmente se chama de crítica da cultura. Uma vertente da crítica que aponta as mazelas e os simulacros do mundo contemporâneo e que tem sido, sem dúvida, muito útil à compreensão de fenômenos correntes, embora os mais desavisados vejam nela uma nota ressentida ou pessimista. Sucede, aqui, muito mais um pequeno diagnóstico do ambiente literário da cidade. Ao fazê-lo - chamando a atenção para o resguardo de nossa memória cultural e, consequentemente, para a importância da responsabilidade com a herança do passado - , tenho em mente um referencial de autores, de obras e de público constituidores de um circuito que confirma o nosso argumento. Longe de prescrever uma idealidade com relação a autor, a um tipo de obra e a um público modelo-fruidor de arte, mantenho intacto um marco teórico mais condizente com a especificidade deste objeto chamado literatura. Acred...