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Moonlight, de Barry Jenkins

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Por Pedro Fernandes É bem possível que Moonlight fique lembrado como o filme do imbróglio com a entrega do prêmio final do Oscar de 2017. Todos apostavam que La La Land , o anunciado como Melhor Filme que concorria ao maior número de indicações, fosse sim o ganhador. Desde quando o cinema se apegou em falar de si que interessados em arrancar premiações têm apostado em produções redondas cuja grande estratégia é reverter o alto investimento. Apesar de quisto pela crítica, todos se sentiam melhor inclinados pela remontant de musical. Prefiro acreditar que era por pura catarse, embora saiba que os imperativos da constante ideológica nunca me permitam crer que era só o encanto o que movia as reiterações da crítica. As razões para tanto não estão em La La Land . Estão em Moonlight . E se o contexto político nos Estados Unidos fosse outro ou se o discurso de Meryl Streep no Globo Ouro não tivesse ganhado a adesão de Hollywood dificilmente teríamos a surpresa que tivem...

Dez mulheres da literatura brasileira contemporânea

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O mês de março sempre tem sido o período de ações afirmativas no intuito de tornar relevante o trabalho de mulheres na literatura. Não é o caso de permanecer no erro grosseiro e grotesco de dizer que a elas sejam reservados nesse campo espaços especiais e diferenciados dos ocupados pelos homens. Às mulheres, seu melhor lugar é no lugar de todos, porque sua importância para a criação desses universos que acrescentam realidades à nossa castigada e caduca realidade são de valia inestimável. Mas, a dívida histórica que a cultura feita e dirigida por machos é tão extensa e tamanha que é preciso insistir outro tempo de igual proporção nas reafirmações sobre a necessária igualdade. Isto é, nunca serão gratuitas atividades como essas que agora promovemos. No Letras, noutros meses de março investimos na leitura de criações poéticas e nas criações ficcionais praticadas por mulheres. Além dos saraus online, promovidos nas redes sociais homenageando obras de poetas fundamentais para noss...

Edogawa Ranpo, o bizarro rei do pulp japonês

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Por Sergio Vera Hoje vamos falar sobre mistérios japoneses. E o primeiro é o sexo. O da sexualidade no Japão é um arquivo X. Porque o império dos sentidos é na verdade o dos sem sentidos. E se não, aí vai um dato alucinante: Japão, essa grande potência mundial do fetichismo, é um dos países onde menos se pratica o sexo. E não é porque as asiáticas tenham dores de cabeça. São elas próprias, as que logo se mostram disponíveis com uma massagem de orelha (e não é brincadeira), as que se fazem de difíceis. Será por isso que os reprimidos japonezinhos gostam tanto das fantasias sexuais? Talvez. Mas aqui nos interessa é o que na perversão nipônica nada é novo. Já nos anos vinte do século passado criaram um subgênero literário tão aberrante que só poderia ser Made In Japan : o ero guro (a palavra é uma contração adaptada para o japonês das palavras inglesas erotic   and grotesque ,   erótico e grotesco). As revistas de literatura populares no entre-guerr...

Modernidade no realismo mágico de Gabriel García Márquez

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Por  César  Cuadra Muito além desse lugar-comum que é recorrer ao tempo transcorrido , não podemos deixar de notar como nossa percepção sobre as transformações está marcada por uma nebulosa de circunstâncias que na prática é impossível ou muito difícil de ultrapassar. Daí o paradoxo que é comprovar que muitas vezes as mudanças mais radicais transcorrem de modo tão imperceptível que sequer chegamos a reparar nelas. E, por sua vez, aquilo que se apresenta para nós como uma verdadeira revolução, muitas vezes apenas deixa um rastro nas secretas leis da história. Talvez por isso nos seja tão reveladora a aproximação feita por Mario Vargas Llosa sobre a situação do romance latino-americano da segunda metade do século XX. Para o romancista peruano, a literatura – e em particular o romance – vive por esses anos um momento de extraordinária agitação e impulso criativo, de libertação e grande vitalidade, e a intensidade chega mesmo a afetar a natureza da linguagem ...

Boletim Letras 360º #211

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Juan Rulfo. 2017 é o ano de centenário do escritor mexicano. O universo da literatura em língua espanhola conspira celebrações diversas em torno de sua obra. Nesta semana, as notícias que publicamos em nossa página no Facebook foram as que seguem. Segunda-feira, 27/02 >>> Argentina: Mais de 17 mil livros da biblioteca pessoal de Adolfo Bioy Casares integram agora a Biblioteca Nacional argentina O material, segundo especialistas, tem um valor cultural e histórico inestimável, já que o acervo (atualmente guardado em caixas, num depósito) pertencia também, de certa forma, a Borges, uma das pessoas que mais frequentava o pequeno palacete do bairro da Recoleta onde moravam Bioy Casares e Silvina. O patrimônio soma algo em torno de 400 mil dólares — adquiridos com patrocínios. Uma preciosidade do acervo é a edição de A invenção de Morel , de Adolfo Bioy Casares, com correções do próprio escritor. As 330 caixas de livros incluem primeiras ediçõ...

Quando a esquerda lacradora e a direita conservadora me mostram como a internet pode ser perigosa

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Por Rafael Kafka Umberto Eco pronunciou pouco tempo antes de morrer uma de suas mais célebres frases: as redes sociais deram voz a uma multidão de imbecis. O que o autor de Obra aberta esqueceu de mencionar é que tal geração além de ter ganhado mais voz teve também evidenciado o seu pouco gosto em ouvir o lado contrário. Mas talvez ele tenha deixado implícito outra fala famosa, associada ao escritor estadunidense Charles Bukowski, quem teria dito, certa vez, ser o mal do mundo o fato de os ignorantes estarem cheios de certeza enquanto os gênios viviam cheios de dúvida. Ou algo do tipo. Nas redes sociais o que mais vemos são nichos fechados em si de pessoas se provocando mutuamente sem conseguirem criar um campo de debate saudável. Dia desses, eu estava em uma de minhas várias confusões virtuais e comecei a me questionar sobre o porquê de gastar tanto tempo com essa bizarra ocupação. Sempre tive esse hábito de discutir demais, de sempre querer ter a razão, mas mais recen...