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Boletim Letras 360º #216

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No dia 3 de abril abrimos mais um sorteio no âmbito das celebrações dos 10 anos do blog Letras in.verso e re.verso. Depois de sortearmos dois exemplares de A montanha mágica , de Thomas Mann (Companhia das Letras), vamos presentar um leitor com a edição que reúne toda poesia de Hilda Hilst, Da poesia  (também editada pela Companhia). Ainda falta alguns dias para o sorteio, mas só restam, até a hora em que fechamos a edição deste Boletim, oito inscrições.   Se correr, ainda dá tempo .  Romance de Dalton Trumbo que se tornou um potente texto contra a guerra ganha nova tradução no Brasil. Segunda-feira, 03/04 >>> Brasil: Os dois novos lançamentos da Editora Rádio Londres O primeiro deles é Instrumental , um livro escrito pelo pianista inglês James Rhodes e que fez barulho no Reino Unido em 2015. Trata-se de uma autobiografia na qual ele repassa um histórico de violência sexual na infância, e como superou o trauma com ajuda da música clás...

João Gilberto Noll, voyeur de todos nós

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Por Pedro Fernandes João Gilberto Noll. Foto: Fernando Gomes Alguém escreveu que João Gilberto Noll foi um cronista da intimidade humana e revelou, com sua obra, os nossos recalques e o que, mesmo inconscientemente costumamos negar que somos. É uma definição muito apropriada. Se o mundo literário do escritor é o do que se esconde, esse mundo também chegou a ultrapassar as fronteiras da obra: Noll, ele próprio, não foi o escritor que, mesmo incensado pela crítica acadêmica, quis estar à frente dos holofotes. Se alguns podem atribuir esse interesse à timidez ou mesmo ao zelo da imagem, que esta seja sobreposta pela obra produzida, com a afirmativa sobre seu interesse literário, esse não-estar na impulsão da fama tem, logo, outra dimensão. É que, concordemos ou não, há entre o universo ficcional e o de fora da ficção, vasos comunicantes que inter-relacionam um e outro ao ponto de confundir-se fronteiras. Talvez porque essas fronteiras não existam, como é preferível acreditar num te...

A marca humana, de Philip Roth

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Por Pedro Fernandes Philip Roth. Foto: Bob Peterson. As informações sobre A marca humana colocam este romance ao lado de Pastoral americana e Casei com um comunista entre os livros de Philip Roth sobre a vida na América do pós-guerra – “um painel impressionante em que indivíduos de grande vigor moral e intelectual são assolados por forças históricas fora de controle”, diz a contracapa da edição publicada no Brasil com tradução de Paulo Henriques Brito pela Companhia das Letras. A citação desses termos aqui tem um interesse: o de repensá-los. Que este é um romance sobre as interpenetrações sócio-históricas no processo de constituição das identidades dos sujeitos não há dúvidas. Aliás, pode-se mesmo dizer que toda a obra do escritor circula essa perspectiva sobretudo quando são as identidades deslocadas do padrão defendido pelos estadunidenses mais radicais, como é o caso do negro e do judeu especificamente.  Mas que as personagens sejam meramente “assoladas por ...

Dostoiévski, um romântico desgarrado entre a revolução e Deus

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Por Rafael Conte A figura de Fiódor Dostoiévski tem chegado para nós repleta de equívocos em parte devido sua esmagadora celebridade. Considerado durante muito tempo como um dos titãs do romance universal, ao lado dos maiores, sua obra tem produzido toneladas de exegeses e interpretações, nem sempre desprovidas dos ataques tão apaixonados como se ditirambos e em sua maior parte tão injustificadas que o único valor, muitas vezes, é só empecilho para seu verdadeiro conhecimento. Contra isso só existe uma solução: lê-lo, relê-lo deixando de lado todo prejuízo causado por essas leituras transversais, todo apriorismo, toda impressão superficial, própria ou alheia. A revolução soviética condenou Dostoiévski ao limbo e ao esquecimento, pois o revolucionário juvenil que até foi condenado à morte e sofreu o exílio e os trabalhos forçados na Sibéria, abominou, na sua velhice os pecados juvenis e transformou sua obra numa criação mística. A crítica progressista para salvá-lo – ...

Escritores narcisistas

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Por Andrea Aguilar Gerard van Kuijl. Narciso . Extrema sensibilidade e considerável fragilidade, certo vampirismo, algo de vaidade – pouco ou muita dissimulação –, o convencimento de que o que alguém sente ou percebe é único, e um considerável egoísmo são características comuns no comportamento criativo. Os grandes artistas – divos e divas, mestres – não são necessariamente boas pessoas, mas são, inevitavelmente, narcisistas? A crítica Gayatri Spivak aponta: “A possibilidade do sucesso artístico é particularmente sedutora para o narcisista pela construção social do gênio. A ideia de gênio captura a quintessência do narcisismo; alguém que foi tocado pelos deuses e que sem esforço pode alcançar grandes coisas”. Lancemos o debate e concentremos a questão no plano literário. Não faltam as vozes que encontram na autoficção um claro reflexo da onda atual do eu. Os seis volumes do romance Minha luta , em que o escritor norueguês Karl Ove Knausgård assume o papel ...

Ievguêni Ievtuchenko

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Nenhuma crítica é dissidente sobre o talento criativo de Ievguêni Ievtuchenko, conhecido mundialmente pela sua poesia, mas também pelo grande romancista, ator e diretor de cinema que foi. Nascido em Zimá, pequena cidade camponesa da Sibéria, Rússia, em 18 de julho de 1933, Ievtuchenko morreu em Tulsa, Oklahoma, Estados Unidos, em 1º de abril de 2017. Ele foi o último dos poetas que, juntamente com Bella Akhmadulina (reconhecida por Joseph Brodsky), Robert Ivanovitch Rojdestvenski e Andrei Voznesensky, lotavam estádios de futebol. Era o tempo em que na União Soviética a poesia podia competir com o futebol. O degelo fez aquele milagre de levar dezenas de milhares de pessoas a lotar o Estádio Lênin de Moscou quando a poesia encarnou a liberdade que se respirava depois da condenação oficial ao culto à personalidade de Stálin. Ievtuchenko nasceu numa família que em parte tinha o veio da arte: sua mãe era atriz. Quando tinha 11 anos de idade mudou-se para Moscou, onde fez seus est...