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Henry David Thoreau: o libertário para uma vida sublime

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Henry David Thoreau McAllister, o diretor da Welton Academy, prestigiada instituição educativa de Vermont, Estados Unidos, olha com certa condescendência o professor de Literatura John Keating, cujos métodos fora dos trilhos são-lhe um quebra-cabeça. “Mostre-me um coração não afetado por sonhos tolos e mostrarei um homem feliz”, diz. E Keating responde: “Só no sonho temos liberdade. Sempre foi assim e sempre será”. E McAllister: “Tennyson?” E Keating: “Não. Keating”. A cena é uma das mais lembradas de Sociedade dos poetas mortos , o filme de Peter Weir que agitou as mentes dos jovens (e não tão jovens) em finais da década de 1980. Espectadores que, em sua maioria, desconheciam a conexão entre Thoreau, Walt Whitman, Jonh Muir, Robert Frost... e John Keating. A personagem interpretada por Robin Williams não tem Lord Tennyson, o poeta inglês do pós-romantismo, como sua chave de salvação. Por isso surpreende o severo McAllister e, sobretudo, seus alunos, que e...

A atualidade da tragédia grega

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Por Carlos García Gual e Aurora Luque As melhores tragédias gregas, como escreveu Aristóteles, tratam de crimes em família. Um jovem que mata seu pai e se casa com a mãe e desse modo chega a ser rei; uma mãe que para vingar-se do marido que a abandona assassina seus dois filhos; um rei que condena à morte sua sobrinha porque ela quis derrubar seu irmão, são alguns bons exemplos. Os estragos contra esse laço afetivo que os gregos chamavam philía e consideravam a base de uma existência digna e feliz produziam sempre uma comoção profunda no público ateniense. As narrativas encenadas suscitavam compaixão e espanto ( éleos e phóbos ) por empatia com a catástrofe sofrida pelos protagonistas do drama. E, por sua vez, certa purificação emotiva ( káthasis ). Édipo, Antígona, Medeia, nomes ressoantes de figuras gloriosas de relatos míticos, no teatro de Dionísio da democrática Atenas, renovam seu sentido. A mitologia provê a matéria, mas o dramaturgo dá uma nova forma aos arc...

Boletim Letras 360º #221

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Nesta semana foi que iniciamos a promoção que sorteia um exemplar do livro que reúne todos os contos do escritor russo Fiódor Dostoiévski. Para saber como concorrer e se inscrever, basta pedir entrada no Grupo da Página do Letras in.verso e re.verso no Facebook . Enquanto isso, vamos fazer o que objetiva este boletim: ver as notícias que foram publicadas em nossa página na rede que agora reúne mais de 64 mil amigos.  Adeus ao mestre Antonio Candido! Foto: Renato Parada Segunda-feira, 08/05 >>> Brasil: Textos inéditos de José Alencar ganham edição A obra será publicada pela EDUFSCar, em julho. Ao correr da pena (folhetins inéditos)  é produto de pesquisa do professor Wilton José Marques, que encontrou os oito folhetins em edições de 1854 e 1855 do jornal Correio Mercantil . A obra é composta por um ensaio sobre o porquê da ausência desses textos na obra do autor. >>> Brasil: Mais Thomas Pynchon nas nossas livrarias, anuncia a Companhia...

Em teu ventre, de José Luís Peixoto

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Por Pedro Fernandes Em teu ventre , de José Luís Peixoto é um romance que pertence à categoria dos enganos produzida pela publicidade. A edição portuguesa afirma que esta é uma obra que “retrata um dos episódios mais marcantes do século XX português: as aparições de Nossa Senhora a três crianças, entre maio e outubro de 1917” e acrescenta que “este livro propõe uma reflexão acerca de Portugal, naquilo que tem de mais subtil e profundo”. Esta sinopse se complica ainda mais quando o livro chega ao Brasil com uma capa que muito aquém daquela imagem poética da edição original exibe a imagem do registo historiográfico, isto é, a fotografia das crianças de Fátima.  Mas deixando de fora os jogos editoriais de promoção da obra, que não é este o interesse deste texto e sim a inquietação de um espírito que guarda certo carinho e zelo pelo trabalho dos escritores, guarde o leitor mais exigente uma recomendação: abstrair-se disso tudo o levará a uma descoberta fabulosa. Sim, ...

Medeia, de Pier Paolo Pasolini

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Por Pedro Fernandes A obra cinematográfica de Pier Paolo Pasolini é, sem dúvidas, uma dentre as mais ricas de sempre. Ancorada entre o imaginário cultural universal e literário, suas releituras acrescentaram e muito na composição interpretativa e significativa das obras com as quais buscou diálogo. Uma delas, a tragédia de Eurípides, Medeia , que bem mais tarde ganhou outra poderosa versão para o cinema ao ser encenada por Lars Von Trier – em 1988; a de Pasolini é de 1969. Encenada pela primeira vez em 431 a. C., num concurso teatral em Atenas, a peça, pelas mãos do italiano, ganha outros contornos que ampliam sentidos e possibilidades simbólicas, além é claro, de introduzir na composição imagética, um rosto muito próprio para uma figura de rara força e vigor dentre as criações dramáticas. Nesse caso específico a narrativa adquire os contornos que se ausentam da peça: a vida anterior de Medeia, antes de chegar a Corinto com Jasão e receber as ordens de Creon de exílio...

Os sofrimentos da jovem Lotte

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Por Isabel Bellido O pintor alemão Wilhelm Amberg retratou em Vorlesung aus Goethes Werther (1870) [imagem: detalhe], um de seus quadros mais conhecidos e belos, cinco moças lendo Os sofrimentos do jovem Werther , de Goethe, tranquilamente sentadas em meio de frondoso bosque através do qual pode atravessar apenas uma nesga da luz do sol. Uma delas lê em voz alta enquanto as outras escutam atentas as altas exclamações de Werther – a de vestido púrpura segura um lenço úmido de lágrimas; outra tem o olhar distante preso num vórtice de pensamento; por seus gestos, seguramente se aproximavam das últimas páginas do romance, justamente quando a tragédia alcança o summum . Com fez Marta Sanz em seu romance Susana e os velhos (2006), quando vi o quadro me apeteceu aproximar-me delas para conversar; libertá-las – ainda que no fundo me comovam – dessas poses afetadas e austenianas, da contenção da mão sobre o peito, dos lábios angustiados, da cabeça pensativa que cai sobre o ombro ...