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Boletim Letras 360º #223

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Antes de apresentar as notícias publicadas durante a semana em nossa página no Facebook, é necessário registrar um esclarecimento aos nossos leitores mais atentos (e aos parceiros com os quais chegamos a entrar em contato diretamente por e-mail). Falamos da repentina mudança de nome do blog, que durou o intervalo de 24h, da quarta para a quinta-feira. Realmente não discordamos do que noticiamos nas redes sociais e pelos correios eletrônicos de que o nome Letras in.verso e re.verso  é um bocado quarentão  e complicado na hora de apresentação do blog aos novos leitores; também alguns dos nossos propósitos com este lugar online mudaram um pouco, desde quando aparecemos em 27 de novembro de 2007. Mas, a essa altura, 10 anos depois, descobrimos que já não é mais possível passar por crises de identidades. Tínhamos pela frente ao alterar o Letras  pela sílaba-verbo-imperativo LÊ!  um trabalho gigantesco de revisões e atualizações que talv...

Os sete capítulos esquecidos de Cem anos de solidão

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Por Álvaro Santana-Acuña Meses antes de terminar de escrever Cem anos de solidão , Gabriel García Márquez carregava sérias dúvidas sobre a qualidade de um romance que acabaria por se tornar um clássico da literatura. “Quando li o que havia escrito”, confessou por carta a um amigo, “tive a desmoralizante impressão de estar metido numa aventura que poderia ser de uma catastrófica sorte”. Algo pouco conhecido é que García Márquez publicou sete capítulos do romance no intuito de resolver essas dúvidas. E faz ainda quando não havia acabado de escrever a obra (a concluiu em agosto de 1966) nem havia assinado contrato com a Editorial Sudamericana, feito realizado no dia 10 de setembro do mesmo ano. O livro foi publicado no dia 30 de maio de 1967. Os sete capítulos foram publicados em jornais e revistas que circulavam em mais de 20 países. Representavam mais de um terço do romance, que ao todo tem 20 capítulos. Não há sequer cópias desses textos no arquivo pessoal do escritor ag...

Pequeno poema pedagógico

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Por Rafael Kafka Há algum tempo ouço que alunos são seres os quais devemos manter à distância de nós para nossa própria segurança. Isso se deve a uma série de motivos, mas em especial eles podem não reconhecer muito claramente os limites na relação professor e aluno, o que levaria a conflitos bem constrangedores. Nesta semana, passei por algo assim que me fez quase acreditar nessa visão. Na verdade, era uma situação comum em meus tempos de rede privada, mas na rede pública eu dificilmente passei por algo do tipo e me sinto me divertindo com meus estudantes enquanto passo seus trabalhos, suas aulas e fazemos debates. A situação ocorrida se deu com um aluno extremamente brincalhão e que me faz rir com facilidade. Na verdade, a maioria dos estudantes percebe em mim esse riso constante, um jeito brincalhão mesmo em dias nos quais me sinto profundamente cansado e aborrecido. Infelizmente, muitos viam isso como um motivo para deboche e indisciplina em sala de aula e sempre fui...

Um amor incômodo, de Elena Ferrante

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Por Pedro Fernandes É e não é sempre o mesmo universo da tetralogia napolitana o que Elena Ferrante se preocupa em descrever nos demais livros que compõem sua obra – como A filha perdida e Um amor incômodo . É, porque o cenário é sempre a degenerada periferia de Nápoles, seus habitantes e os dramas os mesmos de natureza diversa que acometem as sensibilidades femininas e seu lugar numa sociedade marcada pelo estreitamento machista. E não é porque a natureza diversa dos dramas não o fazem ser únicos e tampouco compreendidos por um só prisma. No caso destes dois romances, o leitor se encontra diante da relação controversa entre mãe e filhos, sendo que, no primeiro, tal relação é vista pelo prisma da mãe interessada em recuperar sua independência social depois da saída de casa dos filhos e, no segundo livro, pelo ponto de vista da filha, depois que esta perde a mãe. Para todos os casos, o tema da libertação e melhor compreensão sobre seu lugar no mundo é, quando não o ...

É urgente redescobrir a poesia de Hilda Hilst

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Entre os nomes que ousaram intervir com os chamados temas pouco poéticos está o de Hilda Hilst. Isso está agora ainda mais claro porque se tem acesso ao mais completo panorama de seu trabalho com a poesia: a publicação de um novo volume que compila toda sua obra do gênero. Hilda, talvez pela razão de ser avessa a dogmas, aos modelos do establishment cultural de seu tempo,  e porque não se interessou pactuar com determinados grupos do Olimpo (leiam a expressão com a máxima de ironia possível), porque fez-se sozinha, foi parar no rol daqueles cuja obra melhor ficaria se caída no esquecimento. Contra essa última imposição podemos pensar na saída engenhosa construída por ela: muitas vezes, na parte de sua obra mais vista, passar-se pelo que não era (ou será que era?) no intuito de, enquanto se desfazia da voz comum de rebaixamento seu trabalho, se mostrar igualmente como as outras já ingressadas por toda sorte de subterfúgios ao panteão dos sacrossantos. Essa posição é a...

José Américo de Almeida: literatura se faz também com engajamento

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Aconteceu com a literatura brasileira um fenômeno que terá se manifestado em grande parte das literaturas ao redor do mundo. Trata-se da integração no material literário de elementos concernentes à realidade histórico-social do país. No nosso caso, tal interesse remonta ainda ao período quando os intelectuais, filhos do país, insistiam em demonstrarem-se capazes de produzir uma literatura à maneira da produzida pelos europeus. A isto que Antonio Candido chamou de literatura empenhada cujos ecos são escutados no interior de projetos como os oferecidos pela cena modernista, e que visam estabelecer uma compreensão acerca de nossa identidade e do nosso sentido enquanto nação culturalmente livre, é possível acrescentar o que ficou conhecido por literatura engajada . Isto é, apesar de contextos e situações bastante distintas, cada uma delas guardou uma preocupação: revelar o Brasil, reconhecê-lo em sua pluralidade e discrepância. A partir dos anos 1930, por exemplo, destacou...