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Boletim Letras 360º #234

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Amigo leitor que acompanha sempre ou casualmente as publicações de Letras in.verso e re.verso, bem-vindo! Olha mais uma edição de um canal criado há 231 semanas para reunir todas as notícias que circulam em nosso Facebook .  Segunda-feira, 07/08 >>> Brasil: A nova edição de História do olho , de Georges Bataille Esta obra é uma narrativa erótica que mescla as reminiscências mais dolorosas a uma fabulação livre de peias, armada de tal modo que o jogo da ficção retire às circunstâncias pessoais o seu peso opressivo - sem contudo falseá-las. A novela acompanha as descobertas, feitos e extravagâncias sexuais do narrador e de sua amiga Simone, dois jovens que vivem magicamente à margem da censura adulta, percorrendo um cenário de sonho que faz pensar num conto de fadas noir. A cada novo lance, os dois entregam-se aos vários objetos do desejo que se oferecem ou se impõem a ele, num círculo completo de metamorfoses. Nesta narrativa surpreendente de um apre...

Pablo Neruda: o que não dá mais para ocultar

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Que umas memórias publicadas postumamente recebam por título  Confesso que vivi  pode soar uma brincadeira involuntária; a declaração íntima de um fantasma. Mas, a autobiografia em que o Prêmio Nobel chileno Pablo Neruda reviu, com a respiração de sua prosa poética, seus quase setenta anos, volta novamente às livrarias de maneira rejuvenescida. E traz muito do que ficou por dizer. Falamos sobre a reedição publicada entre os leitores de língua espanhola muito recentemente que apresenta dezoito textos inéditos, fotografias, manuscritos e um apêndice com três conferências ministradas na Universidade do Chile. Tratam-se de passagens ausentes na primeira edição que veio a lume ainda sob a ditadura do sanguinolento Augusto Pinochet, seis meses depois da morte do autor de  Canto geral .  A obra ficou por longo tempo entre as listas dos mais vendidos desde sua aparição e logo se tornou um Best-Seller. Nas suas caudalosas páginas, m...

Instrumental, de James Rhodes

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Por Pedro Fernandes Por que escrevemos? Esta talvez seja a pergunta para a qual mais se ofereçam respostas e as quais menos consigam compreender uma resposta certeira, no sentido de única e convincente. Há duas respostas, entretanto, recuperáveis aqui que dialogam diretamente com esta autobiografia de James Rhodes. A primeira, do poeta português Fernando Pessoa, compreende o ato de escrever enquanto salvação da alma; a outra, da escritora brasileira Clarice Lispector, para quem o ato de escrever confunde-se ao de viver porque um e outro se mantêm pela mesma força – fazer fazendo-se. Essas duas acepções se relacionam com Instrumental porque é a vida em todas as suas contradições e dramas o que James Rhodes deseja fixar quando decide passar tudo a limpo. A vida, a escrita – e acresça, agora, a música – existem existindo. E, logo se vê claramente que, sem a escrita, este pianista inglês não teria encontrado uma via pela qual pudesse expiar uma parte do estar alheio ao mu...

A viagem de Fanny, de Lola Doillon

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Por Pedro Fernandes O filme de Lola Doillon quer prestar contas com algumas das atrocidades que sustentaram a maior de todas as irracionalidades já produzidas por humanos: a perseguição sofrida por crianças judias pelo nazismo e a vergonhosa cumplicidade assumida por diversos estados, neste caso em específico o estado francês, para com o regime ao atentar contra seus próprios cidadãos em nome de uma selvageria arquitetada pela condição perversa de um tresloucado de natureza maior.  É evidente que toda sorte de desvarios praticados contra as gentes que não preenchiam a escala de requisitos da raça ariana não teria alcançado a proporção do horror se não fosse possível contar com os tais colaboracionistas e estes foram, em grande parte, seguidores cegos das palavras de ordem do ódio fascista. Mesmo que não possamos esquecer do estágio de subjugados dos governos ante o poder de destruição nazista, fazer vista grossa aos serviçais e atribuir toda culpa contra o seu idea...

Bruno Schulz: a felicidade de um mundo impreciso

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Por María Negroni Minha ideia é aprofundar-se infância a dentro (Bruno Schulz) Drohobycz, uma cidade pequeniníssima à beira dos Cárpatos, nos confins do então Império Austro-húngaro. Aí nasce, em 1892, Bruno Schulz. Uma criança doente, com problemas nos pulmões e no coração, que aprenderá desenhar e logo saberá falar polonês, alemão, russo, iídiche. Mais tarde irá viver em Viena para estudar Arquitetura. Também fará uma estadia em Paris. Schulz está na lista daqueles escritores que, como César Moro, disseram alguma vez “Je n’ai pas de Maison”. Drohobycz é e será sempre a “República dos Sonhos”, o lugar do maravilhoso, onde é possível intimar com o vasto mundo e suas antigas fábulas. Em algum momento, não necessariamente nesta ordem, traduz com Josefina Szelinska O processo , de Franz Kafka; ilustra Ferdydurke , de Witold Gombrowicz; troca correspondências com Thomas Mann; conhece Debora Vogel, escritora e doutora em Filosofia de Lwów que havia publicado uma antolog...

Gostamos de causar danos (com o grande romance estadunidense)

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Por Paula Corroto William Faulkner, o pai de uma tradição literária estadunidense: a da degeneração Poderiam abrir nosso coração com um canivete e quase desfrutaríamos vendo correr o sangue aos borbotões. Poderiam dizer que nosso pai é um assassino ou um estuprador e talvez encontraríamos um sentido para a vida. Poderiam comentar que nossa mãe nunca nos quis, que nos abandonou na sala de parto, e nos esqueceu e tudo estaria resolvido. Por fim, encaixariam nossos pensamentos de perda e abandono, o fim do emprego, aquele namorado ou namorada que nos traiu à nossa vista vinte metros de onde moramos. E ainda assim tudo bem. Esta espessa obscuridade mental, esta descida aos infernos que às vezes propõem as neuroses se fala em muitos romances que nos últimos anos têm gozado do gosto dos leitores e da crítica. Seus escritores são os novos reis do grande romance [estadunidense]: o que dita o pensamento mundial. São os David Vann e Cormac McCarthy que bebem de outros...