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O pálido fogo da literatura é sua própria (possibilidade de) existência

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Por Álvaro Arbonés Vladimir Naboko. Foto: Horst Tappe. 1 Fogo pálido: um poema em quatro cantos, por John Shade Pretender resumir toda uma vida sempre é um trabalho injusto que tende a se tornar absolutamente obsoleto sobretudo se estabelecê-la enquanto escrita. Sempre que pretendemos reduzir nossa existência a sequências parecerá que ficamos muito pequenos, que aqui ou ali sempre poderíamos dizer algo a mais, ou talvez certa situação poderia ter sido explícita ou mais obscura; ao descrever nossa própria vida sempre ficará honoráveis faltas que gostaríamos de não haver cometido. Por isso, escrever uma biografia, pior ainda se uma autobiografia, é uma tentativa de viver a vida em si mesma, esta que se produz sempre em trânsito e por isso inconclusa. Que é se não uma utopia pretender escrever a vida em si mesma em sua totalidade? O que John Shade, pouco antes de morrer, tenta é resumir sua vida em 999 versos – embora se diz que ficou um perdido, ...

Com carinho, suponho

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Por Rafael Ruiz Pleguezuelos Ernest Hemingway.  Todos os bons leitores acabam desenvolvendo um ritual privado que repetem toda vez que se aproximam de um novo livro. Alguns leem a contracapa e as informações apresentadas na orelha do livro, para ter melhor ciência das promessas oferecidas pelo objeto que tem em mãos. Outros passam os olhos por sobre a tipografia, observam a capa e viajam mentalmente com ela, julgando imaginar o conteúdo da obra antes de começar a lê-la. Os leitores mais sensoriais cheiram o papel e, passando as páginas, desfrutam do aroma que possui um livro novo, um gesto que tantas pessoas associam ao prazer da leitura. Depois desses rituais íntimos, chega o momento de abrir o livro e mergulhar na letra impressa e aqui também há preferências entre os leitores. Começar uma leitura parece-se bastante com entrar numa piscina. Há quem, como em Sociedade dos poetas mortos , despreza as introduções, estudos críticos ou resenhas para se encontrar apenas...

Ivan Búnin

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Ivan Alekséievitch Búnin nasceu em 10 de outubro de 1870 em Vorônej no seio de uma família aristocrática constituída a partir da emancipação dos trabalhadores e da crescente industrialização do seu país. Todos seus antepassados, tanto por parte de mãe como por parte de pai, haviam sido grandes proprietários de terras na Rússia Central. Seu pai era descendente da mais alta nobreza; sua origem remonta muito além do século XV e entre seus ínclitos ascendentes se contavam escritores tão importantes como Vasili Zhukovski ou Anna Búnina. Ivan Búnin passou sua infância na casa paterna de Vorônej, rodeado dos cuidados de uma criança de alta classe. Mas pai não se destacava precisamente devido às suas inquietações espirituais ou intelectuais e sim pelo alto consumo de bebidas e sua paixão por jogos de azar; sua mãe, entretanto, muito superior a ele, moral, cultural e religiosamente, amava a poesia e foi sempre carinhosa com seus filhos. Três anos depois do nascim...

Boletim Letras 360º #244

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Nesta semana, na página do Facebook do Letras , iniciamos uma nova promoção. O sorteio é realizado no dia 29 de outubro. Um ganhador. E dois títulos: Zero K , o novo romance do estadunidense Don DeLillo; e A família Manzoni , da italiana Natalia Ginzburg. As escolhas foram realizadas pelos próprios leitores do blog que nos acompanham no Instagram a partir de uma lista com alguns livros que ainda iremos ler neste restante de 2017. Para saber mais, divulgar e participar, clica aqui .   Elenco principal de Guerra e paz , seriado da BBC que ganha estreia no Brasil. Mais detalhes ao longo deste Boletim. Domingo, 16/10 >>> Estados Unidos: Morreu o poeta Richard Wilbur A morte foi confirmada por seu filho Christopher; foi no sábado, 14 de out., em Belmont, Massachusetts. O poeta tinha 96 anos. Ao longo de mais de 60 anos foi aclamado como uma das mais importantes vozes da poesia estadunidense contemporânea. Wilbur seguiu uma musa que valorizava o virtuosis...

Onze livros sobre escravidão e racismo na literatura estadunidense

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Em 2016 Colson Whitehead se tornou uma das surpresas literárias nos Estados Unidos. Com o livro Os caminhos para a liberdade conseguiu o Prêmio Pulitzer e o National Book Award, rara façanha, e todo mundo só falava sobre a obra e o seu autor. A narrativa aborda um assunto muito recorrente na literatura estadunidense (e muito ao gosto dos prêmios): a época da escravidão. Mas, Whitehead incorpora algo mais ao enredo: a narrativa se apoia na metáfora da rede de caminhos que possibilitaram a fuga dos escravos das plantações do sul. Daí, os galardões e a consideração da crítica de que sua obra é uma das importantes desta década. Os caminhos para a liberdade foi publicado no Brasil pela Harper Collins.  Desde romances como os clássicos A cabana do Pai Tomás ou Negras raízes , a temática dos escravos estadunidenses e o racismo está no coração literário daquele país. Mas, talvez porque saídos do mandato de Barak Obama, talvez porque agora governa os Estados Unido...