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Ensaios para a queda, de Fernanda Fatureto

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Por Pedro Fernandes Este é o segundo livro da poeta Fernanda Fatureto; ela estreou em 2014 com o título Intimidade inconfessável (Editora Patuá). É preciso ler este seu primeiro trabalho a fim de compreender melhor a razão por que a poeta prefere ainda ficar ancorada, por timidez ou por um aguçado senso crítico sobre o que escreve, no vão das tentativas. É bem verdade que essa condição não se observa nos poemas, grande parte deles, acabados, muito bem lapidados, e que revelam a maturidade de uma escrita que se sabe segura; é por isso que o leitor mais atento irá questionar, atravessado os três momentos enformadores da obra, por que Ensaios para a queda ? Este texto, que não tem outro objetivo que não o de revelar algumas das melhores surpresas possíveis de encontrar numa primeira leitura, sem preocupação com a rasura de uma leitura mais profunda, tentará responder a pergunta que corta dos dois lados – para bem e para mal. Sublinhemos a segunda face que não é toma...

A melhor maneira de conhecer o ser humano é viajar a Marte (com Ray Bradbury)

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Por Pedro Torrijos Em setembro de 1949, Ray Bradbury reuniu várias cópias de seus contos, colocou numa mala e pegou um ônibus com destino a Nova York. Ali se hospedou numa pousada da YMCA por cinquenta centavos a diária durante cinco dias, enquanto passava o tempo oferecendo sua coleção de contos às principais editoras do país. Todas recusaram; não queriam histórias curtas, queriam um romance. Na penúltima noite, Bradbury arrumou uma fita que acabaria por se converter em cena com um editor da Doubleday Publishing chamado, casualmente e sem nenhuma relação, Walter Bradbury. Doubleday também queria romances, assim, o outro Bradbury perguntou a Ray se seria capaz de juntar seus contos numa só história e apresentá-los em formato de um livro completo. “Já que quase todos giram em torno do mesmo lugar, Marte, poderias chamá-lo de As crônicas marcianas ”. Dois dias depois, e com um cheque de setecentos e cinquenta dólares no bolso, Ray pegou o mesmo ônibus e voltou para Los Ang...

A palavra de um Federico García Lorca comprometido e lúcido

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Por Juan Cruz Federico García Lorca em seu quarto em Granada. Já não existe ninguém que tenha ouvido a voz de Federico García Lorca. Mas o poeta, assassinado em Granada no auge da Guerra Civil espanhola, foi o homem mais entrevistado de seu tempo. E essa voz presa em jornais e revistas do mundo hispânico volta a lume: 133 entrevistas foram copiadas e organizadas em Palabra de Lorca. Declaraciones y entrevistas completas (Palavra de Lorca. Depoimentos e entrevistas completas) que ganhou edição entre os leitores de língua espanhola neste ano de 2017. A edição é organizada por Rafael Inglada em parceria com Víctor Fernández. Outro título que também reúne conversas com o poeta granadino é Treinta y una entrevistas a Federico García Lorca (Trinta e uma entrevistas a Federico García Lorca)*, uma reedição, também apresentada neste ano, revisada e ampliada de conversas jornalísticas sob o encargo de Andrés Soria Olmedo ao editor Jaime Salinas que, sim, escutou a voz do poeta na...

Ao Nobel da música

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Por Diego A. Manrique Do que tem sido falado sobre Kazuo Ishiguro, sua relação com a música é apresentada apenas como uma primeira vocação: o rapazinho de Nagasaki exerceu o papel de compositor. Mas, o fato é que essa face não foi superada. Ainda compõe letras para canções que são gravadas e vendem. É possível entender esse silêncio: em certos ambientes é visto como extravagante que um alguém da literatura gaste sua energia em assuntos que consideram banais. Nas biografias de José Manuel Caballero Bonald, prêmio Cervantes de 2012, só se explora o dado nada comum de que foi discográfico. Isto é, empregado de um estúdio de discos durante vários anos, responsável pela produção e-ou lançamento de discos, inclusive diretor de um selo fonográfico chamado Pauta. Kazuo Ishiguro não chegou a essas alturas. Preserva-se uma ou outra fotografia sua dos anos setenta, cabeludo e rodeado de violões. Tinha um posto no serviço social em Londres e dispunha tempo livre para polir sua...

Boletim Letras 360º #250

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Passados a página da primeira década para a segunda, antes de repetir as informações que fizeram parte na semana do leitor que acompanha o blog no Facebook, algumas lembranças. 1. O espaço que reúne materiais apêndice às matérias no Letras e publicações importantes, como a Revista 7faces , têm novo nome e página no Facebook: PubliLetras . 2. O Letras é blog com cara de site e está operando em novo endereço, mais  clean , blogletras.com É isso. Vamos às notícias? Segunda-feira, 27/11 >>> Brasil: Simpósio assinala os 40 anos da morte de Clarice Lispector e da publicação de A hora da estrela Foi no dia 10 de dezembro de 1977 que perdemos a escritora que se tornaria uma das mais importantes de sempre da literatura brasileira e responsável por tornar possível entre nós uma estética já consolidada noutras culturas com Proust, Virginia Woolf e Joyce, para citar três dos exemplos: o romance de traço psicológico. No mesmo ano, em outubro, foi publica...

José Saramago e As intermitências da morte

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Por Claudia Rocha Lidar com a ideia da própria finitude sempre foi profundamente desconcertante para a humanidade. A morte é algo perturbador; muitas vezes nem sequer dela lembramos ou não fazemos questão de lembrar, mas a “esperta parca” (adjetivações utilizadas por Saramago) e a “inimiga enigmática” (adjetivações utilizadas por mim) nos ativa a memória e, de vez em quando, bate à nossa porta. Estamos quietinhos no nosso refúgio palaciano, com nossas insignificantes preocupações e, de repente, alguém de quem gostamos muito “falece”, “descansa”, entre outros eufemismos usados por nós para minimizarmos a própria dor.  Várias suposições são feitas para desvendar o enigma do fim. O fato é: “ninguém volta para contar o que viu do outro lado”. A morte seria então o outro lado da moeda, que nunca queremos tirar na sorte, embora saibamos que um dia virá. As instituições religiosas, em sua maioria, pregam a necessidade da morte para alcançarmos a vida eterna. Os mais c...