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Os contos natalinos de Charles Dickens

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Por Gilbert K. Chesterton A literatura quase sempre fracassou quando tentou descrever o estado da felicidade. A tradição, a cultura e o folclore (embora muito mais verdadeiros e confiáveis que a literatura, em geral) poucas vezes acertou com os símbolos de um autêntico ambiente de camaradagem e alegria. Mas aqui e ali sempre se produz a vibração da vox humana . Na tradição, essa essência se produziu sobretudo nas antigas celebrações de Natal. Na literatura, se produziu sobretudo nos contos natalinos de Charles Dickens. Na celebração histórica do Natal, tal como se observa desde os tempos católicos em certos países nórdicos (e recordemos que nos tempos católicos os países nórdicos eram mais católicos que nenhum outro) existem três qualidades que explicam, no meu entendimento, sua influência sobre o sentido humano da felicidade, especialmente em homens como Dickens. Existem três notas de Natal, digamos, que também são notas da felicidade, e que são esquecidas pelos p...

Boletim Letras 360º #253

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E, como anunciamos no nosso Twitter, chegou o nosso recesso de final de ano; também, como repetimos todos os anos: não se trata de uma parada definitiva, só desaceleramos; estes boletins, por exemplo, continuam a sair nos sábados. Vale lembrar ainda que no dia 29 de dezembro divulgaremos as listas de melhores do ano; o dia comum dessas publicações é o último dia do ano, mas em 2017, se repete algo do ano anterior: a data cai num final de semana. Por isso remanejamos para a sexta-feira. No mais, vamos ao que viemos: eis as notícias desta semana que circularam no nosso Facebook. Fernando Pessoa, a história de um novo amor. Mais detalhes ao longo deste Boletim. Segunda-feira, 18/12 >>> França: Os 120 dias de Sodoma  como patrimônio nacional a fim de evitar o leilão do célebre manuscrito do marquês de Sade O mesmo gesto já havia sido realizado em relação aos Manifestos do Surrealismo , de André Breton. Os dois textos fazem parte de...

Pretérito imperfeito, de Bernardo Kucinski

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Por Pedro Fernandes Dos modos verbais, o pretérito imperfeito é um passado que não se realizou totalmente; é, dessa maneira, um passado que – como raízes que se deslocam e invadem outros territórios – se prolonga sobre outros tempos: o passado que poderia ter acontecido e o presente. E essa compreensão é oferecida ao leitor neste romance de Bernardo Kucinski do ponto de vista temático e formal. As ações de Pretérito imperfeito embora estejam situadas num passado qualquer do narrador se apresentam como uma sombra sobre o presente da rememoração e em estágio de se concluir, porque afinal, a atitude central desse narrador – a de renegar o filho adotivo – só se concretiza à distância e através da escrita. E não adianta o leitor procurar por trás ou no texto o acontecido. Este romance se filia a uma linha que em 2018, na literatura brasileira, ganhou outras duas representações de grande fôlego: em A noite da espera , o primeiro título da trilogia “O lugar mais sombri...

Elizabeth Bishop, a poeta que nos ensinou a perder

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Por Marta Rebón Elizabeth Bishop quando da sua estadia em Ouro Preto. Em 1951, quanto tinha 40 anos, a poeta estadunidense Elizabeth Bishop saiu de Nova York num cruzeiro desejosa de dar uma volta ao mundo. Não é uma simples turista em busca de prazeres e inspiração. Ao sair de seu país natal, almeja um porto seguro, fugir de um passado pesado e cheio de episódios marcados pela depressão e pelo alcoolismo, alternados com fortes ataques de asma e surtos de eczemas, que ameaçam acabar sua carreira como escritora. A competitiva cena literária nova-iorquina, somada à solidão que ali lhe invade, choca com sua extrema timidez e fragilidade emocional marcadas pela ausência de um pai que morreu prematuramente e não conseguiu sequer alcançar o primeiro aniversário da menina Bishop e de uma mãe que, marcada pela dor da perda, logo foi internada num manicômio e desapareceu por completo da sua vida. A partir de então, Elizabeth ficará às vezes sob responsabilidade da famí...

Por que somos obrigados a ler um pesado romance como Moby Dick?

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Por Kiko Amat Moby Dick é “um dos livros fundamentais da história da literatura universal”, segundo o Wikipedia e muitas pessoas, em sua maioria professores universitários. Foi publicado em 1851, e apesar de representar um grande fracasso comercial para Herman Melville, também o consagrou (com os anos) como um dos pais do romance moderno (em sua modalidade acadêmico-impenetrável). Melville foi pioneiro de várias coisas, como inventar o penteado Hipster ou encher seus escritos com alusões literárias até o ponto de se reduzi-los à lama. Melville, na época, naufragou do mesmo modo que este romance, assim talvez não seja necessário colocar-lhe o pé no pescoço. O pobre homem terminou seus dias esquecido, obsoleto, gritando com os que lhe serviam, protestando em conferências, brigado com Hawthorne e, pior de tudo, escrevendo poesia. Seu legado não passaria disso até que seu corpo começasse a se converter em fertilizante para uma extensa legião de discípulos post morte...

A escritora Prêmio Nobel de Literatura que salvou do nazismo outra escritora Prêmio Nobel de Literatura

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Por Tereixa Constenla A poeta Nelly Sachs No dia 10 de dezembro de 1966 a poeta alemã Nelly Sachs (1891-1970) recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em Estocolmo, compartilhado com Shmuel Agnon. Em seu discurso havia mais que agradecimentos. No verão de 1940 a amiga alemã veio à Suécia visitar Selma Lagerlöf para lhe pedir um refúgio para ela e sua mãe. Na primavera de 1940, depois de meses difíceis, Sachs e a mãe chegaram a Estocolmo. Já havia acontecido a ocupação da Dinamarca e da Noruega. Mas, a grande romancista já não estava. Lagerlöf havia morrido pouco antes da chegada das duas. Selma Lagerlöf, “a grande romancista”, a primeira mulher a receber um Prêmio Nobel de Literatura (foi em 1909), a autora traduzida para meia centena de idiomas, morreu no dia 16 de março de 1940 sem saber se sua intervenção havia sido suficiente para salvar a poeta e sua mãe, ambas de raízes judaicas, da máquina de extermínio nazista. Graças à sua mediação, fugiram de Berlim no últ...