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Escrever romances

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Por James Salter Os romances são mais longos que os contos e, em virtude dessa extensão, ou digamos amplitude, têm a oportunidade – e obrigado, mesmo – de ser mais complexos e possivelmente envolver mais personagens, chamá-las personas. A maioria dos romances são narrativas, ou seja, linhas em forma e fiéis à cronologia, movem-se para frente ou flutuam entre idas e vindas no tempo. A narrativa conta uma história e as histórias são a essência das coisas, o elemento fundamental. E. M. Forster, em Aspectos do romance , um ensaio inglês ligeiramente ultrapassado, fala da importância da contar uma história e as habilidades de uma de seus mais brilhantes artífices, a perspicaz filha do vizir, Sherazade. E embora fosse uma grande novelista, requintada em suas descrições, prudente em seus julgamentos, engenhosa para narrar incidentes, avançada em sua moral, eloquente na caracterização das personagens e grande conhecedora de três capitais do Oriente, não recorreu a nenhum destes do...

Aquela água toda, de João Anzanello Carrascoza

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Por Pedro Fernandes   O corriqueiro também está repleto de significâncias. Esta parece ser a constatação que serve ao escritor contemporâneo. Claro, não é esta uma afirmativa que precise servir de verdade inconteste a toda a literatura atual, mas ao menos se verifica com certa precisão nesta antologia de contos de João Anzanello Carrascoza. Aquela água toda , que serve de título para a obra, pode ser por esta razão, a história principal das onze narrações que, salvaguardando pequenas exceções, parecem recontar situações com as mesmas personagens: dois irmãos, o pai e a mãe. Claro, em torno delas circulam outras que dividem a cena narrativa das histórias contadas. Isso significa dizer que, além do mesmo interesse que as une, há certo traço de continuidade narrativa marcada pela recorrência de papéis, além, do mesmo tom de voz objetivo e soturno com as histórias são narradas. A conclusão acima apresentada é evidentemente produto de uma suposição i...

O destino de uma nação, de Joe Wright

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Por Pedro Fernandes Vez ou outra o Oscar de Melhor Ator é atribuído ao que melhor se espera para a categoria – por exemplo, em 2016 a Leonardo DiCaprio pela atuação em O regresso . Mas, em boa parte o destaque da atividade do profissional confunde-se com categorias como o prêmio para Maquiagem e Penteados. Foi o caso de Gary Oldman o ganhador de 2018. Embora outras premiações provem o contrário – o reconhecimento por sua atuação foi quase unânime: Globo de Ouro, Sindicato dos Atores, Bafta, Critics Choice Award; e, claro, sua atuação não seja nenhum pouco medíocre, não é possível se negar que esta é mais que ajudada pela quantidade de apetrechos externos que buscam uma fidelidade à figura representada. Obviamente que o ator aqui interpreta uma personagem histórica e isso é ainda outro bom motivo suficiente para esquecer os tais elementos visuais. Entretanto, eles são o que findam por chamar maior atenção que sua atividade de ator. Isto é, ao invés de uma atuação, findamos...

Os pesadelos de Ambrose Bierce

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Por Alberto Manguel Ambrose Bierce não amava a humanidade.  "Animal perdido no êxtase da contemplação daquilo que pensa ser, a ponto de negligenciar aquilo que sem dúvida devia ser", reza a definição de "homem" em seu notório Dicionário do Diabo . E continua: "Sua principal ocupação é o extermínio de outros animais e de sua própria espécie, a qual, entretanto, multiplica-se com rapidez tão insistente que infesta todas as áreas do planeta e Canadá". A biografia de Bierce confirma estes prejuízos. Embora não conheçamos nem o lugar nem a data de sua morte, sabemos que Ambrose Bierce nasceu numa cabana no interior do Estado de Ohio no dia 24 de junho de 1842. Seu pai, Marco Aurelio Bierce era um fazendeiro pobre, mas dono de uma excelente biblioteca, um louco que acreditava ter sido o secretário pessoal de um presidente estadunidense cujas indiscrições contava nas histórias familiares. Teve dez filhos (três dos quais morreram pouco depo...

A Desobediência Civil / A Defesa de John Brown, de Henry David Thoreau

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Por Pedro Belo Clara Falamos, e é importante que se comece por sublinhá-lo, de um dos maiores autores norte-americanos de sempre. Não só o homem de vivência simples que nasceu em Concord, estado de Massachusetts, em 1817, e que se tornaria num celebrado transcendentalista, naturalista, filósofo e até poeta, certamente mais amado depois da sua precoce morte do que em vida, conforme o desabafo que a sua irmã, em jeito amargamente crítico, registou após o falecimento do autor. Falamos de muito mais. Essencialmente, de um espírito arguto e esclarecido, de uma mente capaz de produzir a mais inspirada das prédicas, de um coração irmão da própria terra, de um carácter ímpar no que toca à integridade da sua inata nobreza. São figuras assim – não se estranhe – capazes de abandonar tudo e viver durante dois anos numa cabana junto de um rio «para sugar todo o tutano da vida», e então regressar à cidade como se nada tivesse acontecido. Felizmente para todos nós, algo de muito significa...

Boletim Letras 360º #267

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No último dia 30 realizamos no Instagram @Letrasinverso o sorteio de um exemplar de Uma forma de saudade , de Carlos Drummond de Andrade. O ganhador é o 233º leitor que recebe do Letras um livro numa de nossas promoções. A próxima oportunidade já está gestada: como informamos no nosso Twitter @Letrasinverso, será através do Projeto @LeiaPoesiaBr, administrado pela Revista 7faces e em parceria conosco. Desta vez, o sorteio será de um exemplar de O  caderno do aluno de poesia Oswald de Andrade , edição fac-similar preparada pela editora-parceira Companhia das Letras. Interessados em participar basta se integrar à rede do projeto no Twitter. Enquanto isso vamos ler as notícias que passaram durante esta semana pelo mural da nossa página no Facebook?  Segunda-feira, 26/03 >>> Estados Unidos: Nova adaptação de Fahrenheit 451  será exibida em maio A notícia é da HBO, produtora da nova versão dirigida por Ramin Bahra...