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Sergio Pitol: muito além dos lugares comuns

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Por Jezreel Salazar Sergio Pitol, 1988. Foto: Rogelio Cuéllar Diante o universo anedótico que só se multiplica quando desaparece um autor insubstituível, é essencial ir além dos lugares comuns em torno de sua personalidade para situá-lo da melhor maneira na história literária do país. Entre as qualidades que acompanham Sergio Pitol (e que seguramente se repetirão centenas de vezes), há uma que me parece difícil de continuar sustentando: o vanguardismo voluntário de sua obra, que se supõe acompanharia sua extravagância pessoal. A ideia de que pertenceu ao universo “dos raros” me parece pouco séria, muito conjuntural e associada ao desconhecimento de seus livros. Quando alguém revisa os comentários críticos da série de textos que publicou depois de voltar a Xalapa em 1993 (depois do grande périplo de quando viveu fora do país), se fala de livros insólitos, híbridos, pós-modernos ou difíceis de classificar. Há alguma razão nisso, mas estes epítetos nos levam a ler tais obr...

Boletim Letras 360º #269

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Uma chamada para todo amante e para os que precisam amar a poesia. Já falamos outras vezes sobre o projeto LeiaPoesiaBr, mas vale a pena um clique aqui para saber mais e melhores informações sobre; só adiantamos: no último dia 9 de abril as atividades do projeto começaram. E está imperdível! Daqui a pouco você olha e participa, porque antes deve correr os olhos para as publicações que fizeram o calendário da semana em nossa página no Facebook . O boom Hilda Hilst. Nesta semana a Companhia das Letras anunciou várias edições com a obra da poeta homenageada em Paraty em 2018.  Segunda-feira, 09/04 >>> Brasil: A Universidade de Campinas herdará a biblioteca de Antonio Candido Segundo o jornal Folha de São Paulo , o acervo do professor e crítico literário passava por negociações para fazer parte da Universidade de São Paulo, no Instituto de Estudos Brasileiros, onde estão boa parte de seus papéis. Mas, a USP desistiu da aquisição alegando que gerar...

Por quem os sinos dobram?

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Por Rafael Kafka A cena final de Por quem os sinos dobram mostra Robert Jordan, prestes a morrer por uma ideia, escondido pronto para matar um oficial do exército franquista, um gesto simbólico que para seu grupo de guerrilheiros representa muito: ferir uma figura de alto escalão era visto como um duro golpe contra um exército muito mais bem equipado em número e em recursos materiais. A cena em si não mostra o momento da morte, mas não precisa. Ela está ali no romance o tempo todo, no ritmo seco e pujante de Ernest Hemingway, cuja reflexão central no enredo parece ser o luto inerente à própria guerra. O terror existente nos conflitos bélicos é justamente o fato de estarmos diante da certeza de que do outro lado das trincheiras há também seres humanos. Matá-los é de certa forma matar a si mesmo, pois estamos matando um pouco da humanidade. Jordan, cuja missão no livro é destruir uma ponte importante para o exército de Franco, aos poucos se apercebe disso e chega a demon...

Enterre seus mortos, de Ana Paula Maia

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Por Pedro Fernandes O título deste romance aponta pelo menos para duas direções. A primeira corre em simultâneo ao sentido imediato que a sentença recobra. Isto é, o ato de enterrar os mortos, que remonta toda uma tradição de dimensões variadas: da necessidade de preservar o corpo dos predadores, no alvorecer da comunidade humana, a um zelo afetivo pela memória do outro, depois do surgimento das atividades de vivência do luto. A segunda direção é dada pelas camadas sedimentares de sentidos que formam sob determinadas expressões linguísticas. Neste caso, enterrar seus mortos significa resolver em definitivo situações e sentimentos passados no intuito de restaurar uma ordem de tranquilidade psíquica para com a existência. Não se trata de um apagamento, mas da reafirmação do indivíduo no intuito de compreender o acontecido como uma condição cuja força do momento exigiu-lhe uma tomada de decisão irreparável e até distinta do seu código de conduta moral. A o...

Ratos de praia, de Eliza Hittman

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Por Pedro Fernandes O filme de Eliza Hittman é de um realismo brutal e assustador. Basta dizer que apresenta de maneira muito segura e precisa pelo menos uma das possibilidades para a condição desta praga social que atenta contra as liberdades individuais chamada homofobia. Não é que esta seja a questão principal da narrativa. Trata-se de uma história interessada em compreender as complexidades envolvidas no processo de autoconhecimento e autoaceitação de um jovem. Mas, as situações para as quais a personagem principal nesta obra é arrastada estabelecem como alternativa a gênese do mal. Situado na região de Conney Island, em Nova York, o espectador acompanha a rotina de um grupo formado por rapazes que, como quase todos das zonas de periferias urbanas, pela estreita relação de amizade gastam o tempo no exercício de pequenas trapalhadas típicas das suas condições: bebericagens, atrair mulheres para o sexo, consumo de drogas, pequenos furtos para os custos do ócio nas r...

Contos para sempre

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Por Tereixa Constenla A obra de Horacio Quiroga (Salto, Uruguai, 1878 – Buenos Aires, 1937) teve melhor vida que seu autor. Há 100 anos foram publicados seus  Contos da selva  e ganhou uma popularidade que não bastou para apaziguar seus dias. Tampouco para despertar o reconhecimento unânime das gerações literárias seguintes. “Horacio Quiroga é na verdade uma superstição uruguaia”. Não foi a única frase envenenada que Jorge Luis Borges lhe dedicou. Também disse que todos os contos já haviam sido escritos antes e melhor por Edgar Allan Poe ou Rudyard Kipling. Mas há critérios além dos de Borges. Em 1987, por motivo de uma homenagem celebrada em Madri pelo cinquentenário de sua morte, Juan Carlos Onetti levantou sua bandeira. Edificou sua obra, afirmou, “com contos tremendos escritos sem tremendismo, com contos para crianças inteligentes que expõem uma escondida e rebelde ternura” e – isso sim – “com um par de medíocres romances que confirmam sua insin...