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O dom, de Vladimir Nabokov

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Por Pedro Fernandes Há escritores que dedicaram toda uma vida na escrita de um só livro. Alguns, com esse desejo universal conseguiram a proeza de escrever mais de um que se destaca no âmbito de seu projeto literário. Estes são pouquíssimos. E entre estes não se encontra Vladimir Nabokov. A afirmação poderá parecer arriscada para um leitor estagiário na sua obra, mas não é vazia ou produto de uma suposição profética. Ela se apoia na leitura de vários textos sobre outros livros do escritor russo-estadunidense que sublinham mais ou menos o mote a partir do qual se constrói suas narrativas: um escritor em busca da obra ideal se debruça no seu projeto, escreve, alcança o feito, e o feito é a própria obra que o leitor tem em mãos com a assinatura de Vladimir Nabokov. É possível que este procedimento varie, obviamente; mas, em linhas gerais o mote de composição se estabelece: o escritor encerrado em seu labirinto de obsessões trabalha as matérias que tem ao seu alcance, grand...

Projeto Flórida, de Sean S. Baker

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Por Pedro Fernandes É verdade que não é de hoje a preocupação do cinema para com uma crítica ao modelo social vigente, este que tem sido vendido como o ideal de civilização e de liberdade dos indivíduos. Mas, o cinema estadunidense, porque integrado a tal modelo não foi de nenhuma maneira um precursor nessa crítica, embora tenha apostado de vez em quando em releituras de outras obras – e aqui podemos citar As vinhas da ira . A crise inaugurada no começo deste século terá sido o ponto crucial para o estabelecimento de uma cinematografia que deixa a mera idolatria de corte nacionalista para a partir do desenho de algumas situações propor um questionamento de determinados status quo .  E esse movimento os estadunidenses acompanham a partir do cinema europeu, sempre mais afeito a uma lente realista e não meramente fabuladora da história. A safra nesta seara é grandiosa e poderíamos citar como exemplo mais próximo à proposta de Sean S. Baker, I, Daniel Blake , um filme...

Torquato Neto, exercício de liberdade

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Por Pedro Fernandes eu sou como eu sou pronome pessoal intransferível do homem que iniciei na medida do impossível Os versos que abrem este texto são do poema “Cogito” incluído na antologia Melhores poemas Torquato Neto preparada por Cláudio Portella. É um daqueles textos em que o poeta exercita uma definição sobre si, um trabalho de constituição de sua identidade pela obra da qual é criador e pela qual, por que não, também se cria. Possivelmente, este poema deve comparecer em quaisquer coletâneas do poeta, porque é uma de suas melhores composições. A afirmativa está livre de qualquer arroubo heroicizante sobre um poeta continuamente redescoberto nos últimos anos. E, muito menos, se interessa em reduzir o valoroso trabalho criativo do autor a apenas um texto. E, ainda que fosse, sosseguemos, era já motivo para não o desmerecer do epíteto que o designa. O diálogo desse poema é com o pensamento fundador da razão proposto por René Descartes no seu Discurso do ...

Livros para o Dia do livro

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Ilustração Fernando Vicente Não podíamos fazer melhor. Um blog cuja vida está em grande parte marcada pela presença dos livros, encontra uma maneira à sua cara de celebrar uma data fundamental aos amantes deste objeto artístico de maior interesse. O Dia do Livro começou a ser celebrado na Catalunha em comemoração ao aniversário de Miguel de Cervantes, isto é, no dia 5 de abril. As celebrações depois foram transferidas pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura (UNESCO) para o dia 23. Isso foi em 1995. No território de origem, a data já havia sido mudada para esta ocasião em 1930. Nas duas situações a marca era, agora revista, o dia da morte do autor de Dom Quixote . Sabe-se que Cervantes morreu um dia antes. De toda maneira, restou ainda uma data marcante, a da morte de William Shakespeare, embora ainda exista imprecisão sobre se este acontecimento aconteceu mesmo num 23 de abril. Com ou sem acontecimento para assinalar este dia, o livro reúne t...

Boletim Letras 360º #270

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No dia 26 de abril findam as inscrições para o sorteio de Primeiro caderno do aluno de poesia de Oswald de Andrade ; é o primeiro de uma parceria entre o blog Letras in.verso e re.verso e o projeto Leia Poesia Brasileira disponível no Twitter @LeiaPoesiaBr. Aviso entregue, vamos percorrer as notícias apresentadas durante a semana na página do Letras no Facebook. A edição de dois livros de Alejandra Pizarnik abre a possibilidade de termos no Brasil a íntegra da obra da poeta argentina. Segunda-feira, 16/04 >>> Brasil: Nova tradução para Almas mortas , de Nikolai Gógol A grande obra-prima de Gógol, romance publicado pela primeira vez em 1842, no qual o autor, considerado o fundador da moderna literatura russa, elabora um retrato ao mesmo tempo lírico e satírico de seu país de adoção. O livro traz a história de Tchítchikov, um especulador de São Petersburgo que viaja pelo interior da Rússia adquirindo dos nobres locais documentos de posse dos servos (ou ...

O homem do século

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Por Luiz Mendes Ilustração Eoin Ryan. Sobre a capacidade única de escrutínio do homem pela literatura neste século   Há um homem a ser decifrado... sempre! E quem somos neste início de século? Em que nos diferimos de nossos vizinhos do século XX? Bom, talvez para você, que, como um Gurgel, acredita que a literatura deva ser primordialmente uma imersão nos clássicos, questões como essas não façam sentido e, por isso, parar a leitura por aqui certamente é o melhor a se fazer. Mas se, como eu, acredita que um dia um clássico foi um contemporâneo, atual, e que, por isso, se apropriou das características do homem de sua época e as interpretou sob o véu da ficção, vamos prosseguindo... Quero dizer que um clássico como Odisseia , por exemplo, dialoga com sua época, a Antiguidade Grega, a grandiosidade das conquistas helênicas, a visão de mundo dos gregos sobre vida, morte, família e sociedade. Tudo isso pode parecer distante de nosso mundo contemporâneo, mas torna-s...