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Garotos do Leste, de Robin Campillo

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Por Pedro Fernandes Um passeio pela filmografia de Robin Campillo servirá para que possamos perceber o quão diverso pode ser um criador que não mede esforços para se reinventar a cada trabalho. Com quase uma dezena de produções uma prova que poderíamos utilizar para comprovar isso – e outros textos que porventura vierem sobre algum outro título do cineasta dirão a mesma coisa – é a distância entre o premiado 120 batimentos por minuto , um de seus trabalhos mais recentes e Garotos do Leste , de 2003. Naquele, a atenção da narrativa é pela construção de uma historiografia da luta pela humanização do Estado em relação aos soropositivos; e neste uma encenação de alta carga dramática e tensional sobre uma condição que estava no início de tudo, os fluxos de migração dos povos que continuamente atravessam condições adversas em seus territórios de origem para a Europa abastada.  Em 120 batimentos Campillo dispõe do material do qual irá compor sua narrativa: a históri...

Sonhos do insone Vladimir Nabokov

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Por Ignacio Vidal-Folch Vladimir Nabokov. Foto: Philippe Halsman O professor da Universidade de Missouri, Gennady Barabtarlo, tradutor para o russo dos últimos romances de Vladimir Nabokov por escolha do filho do escritor, Dmitri, organizou, comentou e editou os sonhos que o autor de Lolita anotou durante o ano de 1964 e seus comentários sobre reunidos em seus Diários . São materiais atualmente preservados pela Biblioteca Pública de Nova York e até agora inéditos. A publicação (da Princeton University Press) intitula-se de forma alusiva à persistente insônia do romancista russo-estadunidense que apenas uma forte medicação diária conseguia resolvê-la: Insomniac dreams. Experiments with time by Vladimir Nabokov (algo como: Sonhos insones. Experiências com o tempo por Vladimir Nabokov).   Se Nabokov desenvolveu interesse especial pelas visões e os relatos que vivemos quando estamos dormindo não foi, que se diga, uma consequência das teorias da interpretação...

O Mentiroso, de Henry James

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  Por Pedro Belo Clara O seu maior biógrafo, Leon Edel, não teve dúvidas quanto à qualidade da breve novela que hoje se apresenta: "Um grande êxito", diria oportunamente. Criada pela mão de um escritor que nasceu norte-americano e faleceu inglês, e que nos entretantos publicou, de romances a narrativas curtas, trabalhos tão emblemáticos quanto Daisy Miller (1878), Os Europeus (do mesmo ano), Washington Square (1880) ou O Retrato de uma Senhora (1881), não goza, apesar de ser digna dos seus louvores, do mérito das produções de proa de Henry James, actualmente creditado como um dos maiores novelistas da língua inglesa, nomeado para o Prémio Nobel em 1911, 1912 e 1916 – os derradeiros anos da sua vida. Mas nem sempre foi assim. Na verdade, James vestiu muitas vezes, mesmo que não o desejasse, o traje do malfadado autor, embora tenha arduamente lutado pela aceitação da sua literatura junto da mais exigente crítica – ao ponto de, como o próprio admitira a seu ...

Boletim Letras 360º #272

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Eis uma edição novinha com as informações que fizeram o mural do Letras no Facebook nesta semana. Por aqui, os que nos frequentam com certa assiduidade perceberão que fizemos pequenos e importantes ajustes na organização do blog. Sabe o que isso significa? Que aquele grande trabalho de revisão iniciado há cinco anos pode está próximo, se fecharmos a terceira e última etapa, do fim. Apesar de ser este um espaço, não cansamos de dizer, em contínuo reparo. Estamos aqui. Interaja conosco! Brasil sedia colóquio alusivo aos 20 anos de entrega do Prêmio Nobel de Literatura a José Saramago. Mais detalhes ao longo deste Boletim.    Segunda-feira, 30/04 >>> Brasil: Uma caixa reúne três obras de Virginia Woolf Mrs. Dalloway  é considerada a obra-prima da escritora inglesa. Publicado originalmente em 1925, o romance descreve um dia na vida de Clarissa Dalloway, uma dama de nobre linhagem casada com um parlamentar cons...

Os conselhos de Wislawa Szymborska aos aspirantes a escritores

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A revista Vida literária inclui durante longo tempo uma seção que recuperava a tradição de um gênero comum em revistas; nesse caso, um correio literário. No espaço eram publicizadas respostas a autores que enviassem suas obras para leitura e parecer. Uma das pessoas responsáveis por esta seção era Wislawa Szymborska. Mais tarde, em 2000, os textos foram recolhidos e formaram parte num livro que certamente é uma peça indispensável a dois gostos: daqueles que estimam novidades mais íntimas, por assim dizer, de seus escritores e para aqueles que gostam do escutar outras experiências com a escrita. Quando em 1996 a poeta recebeu o Prêmio Nobel de Literatura, a Academia Sueca justificou sua decisão porque em sua poesia a “precisão irônica permite que os contextos histórico e biológico venham à luz em fragmentos da realidade humana”. O prêmio descobriu sua obra a muitos leitores e a fascinação por Szymborska cresceu enquanto aprendíamos a pronunciar seu nome. Nessas breves pala...

O macaco e a essência, de Aldous Huxley

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Por Pedro Fernandes Diferentemente do livro de Pierre Boulle, em que os macacos descobrem a selvageria do homem e inicia uma revolução que os obrigará a repensar sua condição, não há neste livro de Aldous Huxley nenhum macaco revolucionário. O título da obra, aliás, não chega a ser um atributo próprio do seu autor; O macaco e a essência é o roteiro de um filme concebido por uma certa figura interessada pelas narrativas cinematográficas e abandonado por Hollywood entre toneladas de textos enviadas ao berçário do cinema estadunidense. A única notícia dada pela narrativa que abarca este datiloscrito encontrado casualmente pelo roteirista Bob Briggs, quando o caminhão de descartes deixa voar pela rua umas quantas brochuras das que serão incineradas, é que William Tallis está morto. Assim, o livro de Huxley se apresenta como uma transcrição do texto de William Tallis; a importância que o roteirista atribui a essa brochura, logo, se evidencia pela escolha do escritor inglê...