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Tirza, de Arnon Grunberg

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Por Pedro Fernandes A vida que se esconde no subsolo. Esta é uma definição acertada para Tirza , de Arnon Grunberg. Este é um romance que volta a algumas das obsessões do escritor, sobretudo aquela que poderíamos designar como o impasse entre culturas num estágio da civilização ocidental em que essa se vangloria de que as relações globais é sua maior conquista depois de instaurada as fronteiras de nação e de identidade nacional. Mas, nele, o holandês se debruça a investigar o complexo das relações de posse imposto por um modelo familiar segundo o qual os pais têm sobre os filhos uma responsabilidade desmesurada de prepará-los para mundo e em parte alimentados pelo desejo de não perecerem, no futuro, do abandono e do esquecimento. Nesse ínterim, a personagem Jörgen Hofmeester é um retrato ideal através do qual se pode avaliar agudamente a condição em que a posse é tornada obsessão individual ao ponto de toda uma existência ser canalizada para o que, aos olhos do manda...

Vinte e uma obras recentes do romance francês

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Jean Marie-Gustave Le Clézio ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 2008; seis anos depois, um compatriota seu, Patrick Modiano, recebia também o galardão mais importante das letras. A França foi a terra de Stendhal, Balzac, Flaubert e na atualidade continua tendo uma diversidade de romancistas de primeiro nível. Embora nem sempre sejam nossos conhecidos, pela maneira tímida como suas obras circulam por aqui, a lista a seguir chama atenção para o que podemos dizer "estes são nomes do primeiro quartel do século XXI para se ter em conta". É impossível ficar só num romance de Modiano, mas muitas de suas obsessões estão nas páginas que circulam no Brasil, que, muito recente recebeu duas trilogias do escritor: Para você não se perder no bairro ( Ronda da noite ,  Uma rua de Roma , vencedor do prestigioso prêmio Goncourt em 1978, e  Dora Bruder ) e Essencial ( Flores da ruína , Remissão da pena e Primavera de cão ). Algo semelhante acontece com Le Clézio, que nesta lis...

Eu sei que nunca se dirá tudo o que a poesia é

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Por Pedro Fernandes A constatação exibida neste título é de Sophia de Mello Breyner Andresen; aparece num texto recuperado pela edição 10 da Revista 7faces publicada em 2014, mas data dos anos 1960 quando é apresentado no oitavo número da Colóquio / Letras, periódico da Fundação Calouste Gulbenkian. Na passagem da primeira década do século XXI, se ensaiou no Brasil uma entrada da obra da portuguesa. No mesmo ano da aparição da revista brasileira, a extinta Cosac Naify chegou a editar dois contos de Sophia: A menina do mar e A fada Oriana . Depois disso nada mais foi feito para que a aparição da luz do cometa se convertesse entre nós em algo mais que um ponto cintilante. O momento não foi único. Exatamente dez anos antes, apareceu uma antologia organizada por Vilma Arêas, Poemas escolhidos . Porque Sophia, se tornou reconhecida como poeta, este momento, aliás, pareceu mais verdadeiro para os que esperavam por ver sua obra editada no Brasil. Mas, gorou em definitivo. Não...

Do Globe para o globo: Shakespeare in loco

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Por Guilherme Mazzafera Gonçalo Viana. William Shakespeare´s portrait for a feature marking the 400th anniversary of his passing. Toda biografia é uma espécie de ficção: há um esforço inato da imaginação para preencher as lacunas deixadas pela história com o intuito de compor uma imagem una, concreta e factível do ser representado. Toda biografia é uma aspiração ao verossímil, e não à verdade, que não há, sendo sempre uma construção interessada e erigida sobre pontos de vista específicos que cabe ao leitor rastrear. Posto de outro modo, o biógrafo é como um poeta que tem ao seu dispor um arsenal de recursos materiais (as palavras em estado de dicionário ou em imanência no corpo de outras obras), cabendo ao artista a capacidade de unir, alijar e ressignifcar tais palavras, daí a importância de preposições, conjunções e espaços de não palavra na composição e leitura de um poema.   Não é à toa que o mais difícil em decorar versos está em internalizar estas p...

Boletim Letras 360º #273

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Uma edição turbinada de informações excelentes que fizeram a semana em nossa página no Facebook . Reabra espaço nas listas de leitura – é impossível sair daqui sem querer ler mais. E, por falar em listas de leitura, na segunda-feira, 14 de maio de 2018, esteja atento  à nossa conta no Instagram : publicaremos nossa nova promoção.  Eduardo Lourenço em cena do novo filme de Miguel Gonçalves Mendes. Mais informações ao longo deste Boletim. Segunda-feira, 07/05 >>> Brasil: Quem dedurou os Frank? A pergunta cuja resposta alguma suspeita foi recentemente revelada, cf. dissemos por aqui noutra post, dá forma a um novo livro sobre Anne Frank Quem se dedica à resposta é Vincent Pankoke, um agente aposentado do FBI. Ele lidera uma investigação que envolve uma equipe multidisciplinar, novas técnicas e moderna tecnologia – e que promete novos resultados para 4 de setembro de 2019, 75 anos depois de o esconderijo da família Frank e de outros quatro ...