Postagens

Elena Ferrante, a leitora

Imagem
Ilustração: Sarah Wilkins “Os livros são organismos complexos, as linhas que nos perturbaram profundamente são o momento mais intenso de um terremoto interno que o texto provocou em nós, como leitores, desde as primeiras páginas”. A obra de Elena Ferrante tem sido esse terremoto. Reinaugurou uma expectativa pelo romance capaz de combinar uma escrita de grande fôlego e uma leveza narrativa, isto é, unindo duas polarizações estabelecidas pela academia e pela crítica desde o advento da literatura de massa. Não é o caso de uma unanimidade, afinal, qual é será mesmo o sentido desta palavra numa conjuntura de fragmentação e esvaziamento das unidades. Mas, a recepção da literatura da escritora italiana entre os leitores que leem livremente e entre os chamados leitores formados para a crítica diz alguma coisa sobre o que mídia tem simplificado usando o termo fenômeno . Os romances de Elena Ferrante têm demonstrado não pertencer apenas ao rol do entretenimento; além da escrita ...

Boletim Letras 360º #275

Imagem
Entramos na última semana de inscrições na promoção que sorteia um exemplar de Na outra margem, o leviatã , de Cristhiano Aguiar (Lote 42). O sorteio é realizado no Instagram do blog Letras in.verso e re.verso . Recado passado, vamos às notícias de uma semana marcada por perdas marcantes para nossa comunidade: Júlio Pomar e Philip Roth. Essas notícias e outras que passaram pelo mural do Letras no Facebook estão disponíveis a seguir.  A morte de Philip Roth e a publicação de obra inédita do escritor no Brasil. Mais detalhes ao longo deste Boletim. Segunda-feira, 21/05 >>> Brasil: Uma homenagem ao poeta alheio a homenagens Foi disponibilizada online o n. 16 da Revista 7faces​; organizada pelo poeta Leonardo Chioda e os editores do periódico, Pedro Fernandes e Cesar Kiraly, a edição reúne alguns dos principais estudiosos da obra do recluso poeta português Herberto Helder como Eduardo Quina, António Fournier, Rafael Lovisi Prado, Maria Lúcia...

Donnie Darko, de Richard Kelly

Imagem
Por Rafael Kafka Donnie Darko  mexe com nossa noção de leitura. O enredo do filme é cheio de brechas que nos convidam, como um bom filme de autor, a mergulhar no universo desenvolvido por Richard Kelly e sua equipe. Impossível assistir ao drama existencial e psíquico de Donnie de forma passiva esperando a ocorrência de algo que feche tudo em algo pronto e acabado. Ou ainda uma cena de ação que funcione como catarse para uma percepção conformada. Darko vive um drama cuja escrita por si só já é provocativa por nos exigir rompimento com velhas estruturas cognitivas que limitam nossas leituras ao lugar comum da linearidade. Algo aprendido por mim estudando sobre tradução há alguns anos é justamente o poder dos significantes em provocar por si sós reações na subjetividade dos sujeitos. O arranjo e rearranjo deles causa efeitos interessantes, gerando um estranhamento que provoca nas mentes inquietas um desejo de desvendar essas obras. A grande questão é que muitas vezes sim...

O Leopardo, de Giuseppe Tomasi di Lampedusa

Imagem
Por Pedro Fernandes Dentre as questões fundamentais de interesse da literatura está o dilema do homem com o tempo. Nesse interior, figura a tentativa de compreender acerca da nossa degeneração – a rapidez com que tudo é tragado por uma força impossível de ser contida. Compreender aqui não significa determinar causas ou oferecer uma resposta ao maior dos enigmas da existência, mas testemunhar tais transitoriedades. Embora, a literatura se apresente como uma das muitas tentativas de eternidade, ela própria sabe-se que numa hecatombe futura, a que sempre estivemos expostos, pouco ou nada resulte de sua passagem pela Terra. O romance único de Giuseppe Tomasi di Lampedusa se filia a esse grupo dileto de obras que tematizam a decadência, a luta do homem contra a indelével transformação das coisas com a passagem do tempo, afinal, tal força não deixa sobrar nem mesmo a mais secular das tradições. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, para recuperar uma frase de José ...

Philip Roth, agora mesmo começam outros círculos

Imagem
Philip Roth. Foto: Sara Krulwich.   É quase unanimidade que Philip Roth é um dos autores mais importantes da literatura estadunidense da segunda metade do século XX. Quase porque é pública a querela na entrega do Man Booker Prize ao escritor em 2012. Carmen Callil, reputada crítica literária e membro do júri, demitiu-se do seu posto e dentre as declarações que deu sobre a obra do escritor uma dizia que ele “continua com os mesmos temas em cada um de seus livros. É como se sentasse sobre minha cara e não me deixasse respirar”. Bom, desprezando certa grosseria nos temos, é fala coloca em relevo algo do perfil de Roth que chegou a ser sublinhado, por exemplo, no obituário escrito pela revista The New Yorker no qual recordava os temas preferidos do escritor: “a família judia, o sexo, os ideias estadunidenses, a traição aos ideais estadunidenses, o fanatismo político e a identidade pessoal”. Philip Roth nasceu em 19 de março de 1933 em Newark, Nova Jersey. Filho de e...

O estilo Tom Wolfe

Imagem
Por Juan Tallón A notícia da morte de Tom Wolfe no último dia 14 de maio me pegou na página 332 de Bloody Miami , do escritor. Não podia acreditar. Que tipo de causalidade será essa? “Aqui morreu o autor”, anotei numa margem do romance, que fechei durante várias horas. Depois me pus a pensar no estilo que embebia Bloody Miami , que era o que havia embebido Um homem por inteiro (1998) e antes A fogueira das vaidades (1987), e ainda antes suas célebres reportagens. Fui tão atrás que me encontrei com Tom Wolfe aos seis anos de idade, em sua casa de Richmond, onde havia nascido em 1930. Era aquele garoto que um dia viu seu pai trabalhando no escritório, pois tinha uma revista agrícola chamada The Southern Planter . Thomas Kennerly Wolfe era agrônomo e seu filho assumiu que também ele, no futuro, viria escrever. “Há uma grande vantagem em ter (erroneamente ou não) a impressão que tens uma vocação muito cedo porque a partir desse momento em diante começas a focar todas tu...