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As colunas femininas de Clarice Lispector

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Por Juliana Perez Desde que perceberam a existência das colunas femininas de Clarice Lispector, uma assombrosa inquietação arruinou as certezas dos leitores de literatura. O alvoroço até rendeu um quadro sobre esta faceta de Clarice no programa de maior audiência da Rede Globo, o Fantástico . E a cada nova edição das colunas femininas, organizadas em coletâneas pela professora Aparecida Maria Nunes – recentemente a pesquisadora lançou o Correio para Mulheres – a interrogação reaparece: como uma escritora consagrada, com uma produção literária marcada por uma intensa introspecção, poderia escrever sobre temas tão banais e vazios? Os primeiros escritos de Clarice sobre a mulher surgiram ainda quando era acadêmica da Faculdade Nacional de Direito, no Rio de Janeiro, em 1939. Quando, em 1952, recebeu o convite do amigo Rubem Braga para escrever uma coluna feminina, confessou que não era cronista e que, portanto, não sabia escrever crônicas. O gênero, criado pelo ...

A visita do Dr. Witzig

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Por Lucas Grosso Juliano Kaglis "O que importa, no final das contas, é o afeto." Marina Colasanti I Foi em uma tarde de terça-feira, que o Dr. Inácio Witzig, cardiologista e cirurgião-chefe de um importante hospital paulista, foi visitar o seu amigo de longa data, o Dr. Venâncio Bessa, chefe do setor de radiologia do mesmo hospital. Venâncio, em decorrência de um derrame, vivia, agora, limitado a uma cadeira-de-rodas, e perdera os movimentos plenos das mãos; também veio cobrar seu preço, na forma de um tumor na faringe (combatido com sucesso), os tantos anos fumando quase diariamente um ou dois Romeo y Julieta, de forma que o radiologista dependia totalmente do trabalho atencioso de Juliano, enfermeiro de dedicação rara. O Dr. Venâncio e Juliano estavam a sós, assistindo s uma partida de basquete na TV, quando o interfone anunciou o Dr. Inácio. Maristela, a esposa de Venâncio não estava; teve de fazer, ela mesma, algum exame médico concorridíssimo e ...

Boletim Letras 360º #280

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Na segunda-feira, 25 jun. '18, realizamos mais uma promoção na página do Letras no Facebook; uma leitora do blog levou os dois volumes que compila a prosa completa de Hilda Hilst ( Da prosa , Companhia das Letras) e um livro surpresa. Reiteramos, por esta via, os agradecimentos a todas as leitoras e leitores que participaram desta ação. Ficamos na expectativa para próximas atividades do gênero. Enquanto isso, seguimos com as notícias que divulgamos esta semana. Em tamanho ampliado, nova fotografia de Machado de Assis encontrada em jornal argentino. Mais detalhes sobre ao longo deste Boletim.  Segunda-feira, 25/06 >>> Brasil: O corpo descoberto: contos eróticos brasileiros (1852-1922)  é o título de uma antologia que parte importantes dos textos neste gênero de autores nacionais O título sai pelo Selo Suplemento Pernambuco de Literatura e é organizado pela pesquisadora Eliane Robert Moraes, autora também de uma antologia de poemas c...

Romance de Kehinde, Cadernos de Kindzu

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Por Wagner Silva Gomes No livro Um defeito de cor  (2006), em que se discute muito a veracidade biográfica, se foi realmente uma mulher negra escravizada que escreveu, ou se é uma autoria fictícia, questão relatada por Ana Maria Gonçalves na introdução do livro, que também tem o relato de sua descoberta em uma igreja, nos papéis que seriam documentos guardados por um antigo padre, e que serviam na ocasião de rascunho para o filho da mulher que cuidava da limpeza da igreja pintar e desenhar, tem a seguinte passagem: “No meu sonho ele ia, não sei se para Aruanda, a terra do pai. E o mais interessante era que não usava embarcação nenhuma, mas sim aquelas folhas de papel que guardava com tanto cuidado.” (p. 393). Nesse trecho a protagonista fala sobre o negro Kuanza, que tem nome de rio e por isso acreditava que seu destino era viajar pelo mar e ir um dia pra África. Se a Ana Maria Gonçalves completou este trecho do romance com sua escrita, como tamb...

Debaixo de algum céu, de Nuno Camarneiro

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Por Pedro Fernandes   “O escuro serve-nos para esconder o que não queremos ver, esperamos o dia e depois lavamo-nos com água e luz na esperança de alguma coisa nova. Mas não somos diurnos como queremos ser, Manuela, fundeamos a noite, e do pescoço para baixo somos só mistério.” Este excerto é parte de um diálogo entre Daniel e sua vizinha, depois que ela toma a decisão de voltar ao apartamento do padre e reaver o tabuleiro deixado com restos de assado num dia anterior quando os dois se envolveram sexualmente. Esclarecido o contexto da fala, a expressão recobre por via indireta sobre os que dois têm vergonha de falar abertamente a fim de estabelecer uma compreensão ou justificativa que seja para o ato impensado ou guiado apenas pela força do desejo carnal. Mas, sua expressão pode de maneira bastante acertada oferecer uma compreensão sobre o romance de Nuno Camarneiro.  Debaixo de algum céu  se filia...