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Silvina Ocampo: o et cetera da família

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Por Aloma Rodríguez A mais nova de seis . Silvina Ocampo (Buenos Aires, 1903-1993) era a mais nova das seis irmãs Ocampo, uma das famílias “mais ricas da aristocracia na Argentina”. A mais velha das irmãs era Victoria, fundadora da revista e editora Sur , e uma das intelectuais mais influentes do país. Manuel Ocampo, o pai, era “um homem rigoroso e conservador”. Por ser a última, os pais já estavam cansados de criar as filhas, e as normas relaxaram um pouco mais para Silvina, que disse em certa ocasião que se sentia como “o et cetera da família”. Além disso – e talvez por isso, precisamente –, aprendeu a manter-se num segundo plano no qual parecia se sentir cômoda: “Silvina é secreta”. Uma biografia de biografias . A irmã mais nova é um livro de Mariana Enríquez (Buenos Aires, 1973) dedicado à mais nova das Ocampo. É em parte uma biografia, mas é mais que isso: há fontes bibliográficas e fragmentos de entrevistas com os que foram amigos ou conhecidos de Silvina...

Os últimos dias de Thomas Mann

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Por Rafael Narbona Catorze meses antes de Thomas Mann começar a sentir dores numa perna enquanto atravessava as dunas da praia holandesa de Noordwijk, sua filha Erika acordou sobressaltada no meio da noite no sanatório onde lutava contra uma insônia crônica e uma gastrite nervosa. Não sabia se era um sonho ou uma alucinação, mas havia visto seu pai agonizando na cama de um hospital, com o rosto lívido e os olhos moribundos. Os médicos que o atendiam se mostravam partidários de amputar as duas pernas. Horrorizada, Erika suplicava que não fizessem isso, pois seu pai sofrera um derrame e sua morte era iminente. Não seria necessário submetê-lo a uma cruel intervenção cirúrgica. Tomada por sua visão, Erika subia e descia as escadas do sanatório, gritando fervorosamente. “Aquela alucinação foi de um horror indescritível, de um terror denso e forte, desconhecido para uma vida de insone – escreveria mais tarde. Quem sonha, quem sofre um pesadelo está totalmente entregue ao hor...

Boletim Letras 360º #289

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Desde a terça-feira, 28 ago '18, até o dia 10 set estão abertas inscrições para a nova promoção do blog Letras in.verso e re.verso realizada em parceria com a HarperCollins Brasil. Neste dia, publicamos uma resenha do nosso colunista Guilherme Mazzafera sobre O dom da amizade , livro que reconta a amizade entre dois grandes mestres da literatura de fantasia, J. R. R. Tolkien, de quem saiu por esses dias o inédito A queda de Gondolin , e C. S Lewis. Este é, portanto um livro imperdível e os leitores do Letras têm a oportunidade de novamente tentar a sorte e ganhá-lo. Então, quer participar? Vá aqui . A contínua renovação da obra de Agatha Christie no Brasil. HarperCollins disponibiliza duas caixas com os principais romances que têm seus dois principais detetives como personagem. Foto:  Agatha Christie em sua casa de Wallingford, Inglaterra, 1956 Segunda-feira, 27/08 >>> Brasil: Machado de Assis vivíssimo. É publicada edição de luxo para...

Ideologia

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Por Rafael Kafka Em uma barca Rio-Niterói, um policial é informado de que um grupo de militantes de dado partido de esquerda pretende fazer campanha política dentro do veículo, algo proibido pela legislação eleitoral do estado e pelas normas da empresa que gerencia o serviço das barcas. O policial decide usar da truculência para impedir a suposta ação, a qual parece se resumir apenas a um  selfie a ser postado nas redes sociais de uma candidata à ALERJ, apontando uma arma para os militantes políticos e a vereadora aspirante à deputada que com eles estava. Em dado momento, alguém diz que armas matam – em uma tentativa de conscientizar o policial do risco trazido às pessoas – o que gera a curiosa atitude responsiva: – Ideologia mata muito mais. Além da já habitual violência das forças de segurança, treinadas com o intuito exclusivamente repressivo, temos nessa situação um claro exemplo de ódio ideológico tão propagado pelas mídias sociais nos últimos anos, culmin...

O fim de Eddy, de Édouard Louis

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Por Pedro Fernandes Édouard Louis. Foto: Frédéric Stucin A literatura está repleta de histórias sobre a violência e a pobreza nos pequenos e grandes centros. Em princípio, as narrativas tristes cumprem uma tarefa fundamental à formação do campo discursivo do literário: revelar à humanidade uma projeção de sua própria face, colocando no centro de interesse personagens e realidades silenciadas pelos discursos dominantes. Faz sentido se perguntar o que seria da história dos povos se um Victor Hugo não tivesse revelado a extrema miséria a que estavam condenados os franceses de seu tempo enquanto uma pequena parcela se refestelava às custas dos esforços dos miseráveis, ou como conheceríamos a pobreza e a exploração em Inglaterra, sem Charles Dickens, das mazelas impostas por modelos desastrosos como o comunismo na União Soviética nos vários livros que denunciaram os gulags ou o fracasso do capitalismo com o retrato duro desenhado pelo escritor estadunidense John Steinbeck. As ...

“Andávamos sem nos procurar”, o filme de “O jogo da amarelinha”, de Julio Cortázar

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Por Ivanna Soto O jogo da amarelinha nunca foi levado ao cinema. Mas se alguém se atreveu a render homenagem ao meio século de sua publicação a partir de sua transformação em imagens. A encarregada da empreitada foi Daniela Lozano com o curta-metragem Andábamos sin buscarnos (Andávamos sem nos procurar, excerto do romance de Cortázar) toma os capítulos 1, 2 e 7 – Do lado de lá e 93 – De outros lados –, alguns dos que tocam no amor entre Horacio Oliveira e a Maga e propõe um final alternativo com fragmentos de Reino crepuscular , de Daniela Lozano.     Dentre todas as possibilidades, escolhe mostrar o amor entre eles e não o de Talita, Pola ou Lilith. “Como se se pudesse escolher no amor, como se amar não fosse um raio que quebra os ossos e nos deixa paralisados no meio do pátio. Tu dirás que eles escolhem porque-a-amam; creio que é o contrário. Não se pode escolher Beatriz, não se pode escolher Julieta”, escreve Cortázar no capítulo 93. Em Andávamos sem...