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Algumas aproximações à poesia de Rachel de Queiroz

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Por Pedro Fernandes Em 2010, o Instituto Moreira Salles (IMS) publicou, de Rachel de Queiroz,  Mandacaru ,   um livro de poemas escrito em 1928 e até então inédito. Este livro sobreviveu graças ao interesse da amiga Alba Frota e revelou uma tentativa da escritora em se integrar à comunidade dos poetas que então foram tomados, direta ou indiretamente, pelos ventos do Movimento Modernista de 1922. Os poemas apresentados por Elvia Bezerra, coordenadora de literatura do IMS, constituem ainda a obra de uma jovem de 17 anos em busca de seu estilo e forma literária – o que não tardaria acontecer, afinal, O Quinze , romance que a consagrou, só levaria, a partir da data de escrita de Mandacaru , dois anos para sua publicação. Mas, se no livro em questão pode-se vislumbrar, ainda que em textos deveras determinados pelos elementos de um cardápio modernista – cite-se, para efeito, a descontinuidade dos poemas, a linguagem entre o erudito e a conformação do registro popula...

Raymond Carver, o melhor escritor de contos do século (junto com Tchékhov)

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Por Manuel de Lorenzo Recordo a primeira vez que li algo de Ernest Hemingway. Era um livrinho de contos que havia na casa dos meus pais. Nem sequer lembro o título. Na época estava entusiasmado com os labirintos de Julio Cortázar, com a exuberância de Mario Vargas Llosa, com a minuciosidade de Gabriel García Márquez. Apenas começava a entrar no assombroso universo de Jorge Luis Borges. A literatura, durante aqueles anos de adolescência feliz, começa e terminava na América Latina. Nas páginas de Hemingway encontrei um deserto. Nada me fascinava. Na me surpreendia. Seus contos não eram mais que palavras colocadas em ordem, uma após outra, tediosamente fiéis às normas da sintaxe e da gramática. Avançava por seus parágrafos em estado de tensão, esperando os fogos artificiais, a explosão repentina, mas logo o conto começava a languidescer pouco a pouco, como se a pólvora tivesse sido molhada em algum ponto impreciso de suas linhas e finalmente tudo se apagava. Sua literatura...

Gostaria que você estivesse viva

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Por Jenn Díaz – Gostaria que você estivesse morta – disse Chauvin. – E já estou – disse Anne Desbares. Moderato cantabile , Marguerite Duras A menina Marguerite. Primeiro Donnadieu, depois Duras. A menina francesa pobre com os lábios pintados, com sapatos de salto para ir jogar tênis, a menina do desejo físico, a inesgotável menina e duplamente menina na velhice. Marguerite Duras viveu cada um de seus dias como se estivesse a ponto de morrer e também como se ela mesma fosse a causa de sua morte, como se a vida valesse tudo, como se ela fosse a única com valor. Se algo não faltou à menina Marguerite foi paixão: na política, na literatura, no amor, na bebida, na maternidade, no cinema, na sexualidade. Sua infância, à qual voltará reiteradas vezes e a recriará em sua obra literária, está ocupada inteiramente pela violência e pela dureza. O amante não é, como assim tem sido considerado, uma autobiografia; é verdade que algumas passagens de sua v...

O caminho para o sucesso já não passa mais pelo exotismo

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Por Ana Llurba Ilustração Pietar Posti Quando tentava publicar seu primeiro romance há mais de uma década, uma emergente escritora nigeriana precisou escutar o comentário depreciativo de um agente literário que tentou demovê-la afirmando que para ela seria mais fácil publicar se fosse indiana porque os autores desse país estavam na moda naqueles anos. Ao que agregou o conselho não pedido de que situasse a narrativa do seu romance na América, ao invés de na Nigéria natal, para poder aproximar-se do público anglo-saxão. Quinze anos depois, a consagrada Chimamanda Ngozi Adichie (1977) pode orgulhar-se de ter sido fiel a si mesma e não ceder àqueles conselhos, como recordou há alguns anos numa entrevista para The New York Times . A autora do celebrado Americanah , assim como Taiye Selasi, que alcançou reconhecimento internacional   com Far from Ghana , foram precursoras do que esta última escritora chamou como “afropolitismo”. O conceito se resume a escrever a...

Boletim Letras 360º #297

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O fim de semana é tempo de Boletim Letras 360º; estas são as notícias do universo editorial e artístico que apresentamos em nossa página no Facebook. Tudo reunido num só lugar! Boas leituras. Luiz Carlos Prestes e Graciliano Ramos (1949). Foto: José Medeiros. Acervo IMS. Do escritor brasileiro, Vidas secas ganha edição especial. Mais detalhes ao longo deste Boletim. Segunda-feira, 22/10 >>> Brasil: O rei das sombras , novo título de Javier Cercas é publicado pela Biblioteca Azul O romance narra a busca pelo rastro perdido de um rapaz quase anônimo que lutou por uma causa injusta e morreu do lado errado da história. Seu nome era Manuel Mena e em 1936, na explosão da Guerra Civil Espanhola, ele se juntou ao exército de Franco; dois anos depois, morreu em combate na batalha do Ebro, e durante décadas foi o herói de sua família. Era tio-avô de Javier Cercas, que sempre relutou em investigar sua história, até que se sentiu obrigado a fazê-lo. Quem foi Manue...

O livro da vida de Virginia Woolf

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Por Winston Manrique Sabogal Vinte e seis anos antes de Virginia Woolf se afogar nas águas frias do Rio Ouse, em 1941, publicou seu primeiro romance em que a vida da protagonista termina de forma prematura, ao mesmo tempo que avança seu renovador e magistral futuro literário. Era 26 de março de 1915, e o romance premonitório intitulado A viagem . A partir daí começou sua contagem regressiva, não só ao contar a história da jovem Rachel Vinrace, em que ela criticou o mundo da época, quebrou os esquemas narrativos e também colocou em livro o que foi e haveria de ser sua vida, sua concepção de si e suas últimas horas. A viagem então é uma entrada biográfica e literária a Virginia Woolf e da qual irradiam conexões entre o romance e os últimos dias da escritora: as dos acontecimentos que sucedem quase ao começo da Primeira e da Segunda Guerra Mundial, respectivamente. Ambos estão precedidos por irrupções psicóticas da narradora e ensaísta; a protagonista quer desliga...