Postagens

Boletim Letras 360º #317

Imagem
Na sexta-feira, 15 mar. '19, finalizamos uma seleção de novos colunistas para o Letras in.verso e re.verso. Fomos motivados pelo sucesso da primeira vez quando cumprimos uma empreitada do gênero. E deu certo. Nas duas vezes. É verdade que recebemos menos inscrições, mas as candidaturas, dessa vez, estiveram melhora afinadas com nossa proposta editorial e superaram as do primeiro concurso em termos de qualidade. No final, foram dez os selecionados que começaremos a apresentá-los em breve. Estamos muito felizes com a propícia oxigenação de ideias porque passaremos nos dias vindouros, pelo fortalecimento e a ampliação desse despretensioso projeto num país cada vez mais precisado da arte para sua redenção e do debate para uma ruptura com a celeuma esquizofrênica que se abateu sobre nós. Agradecemos, de coração, a todos que participaram da seleção, que divulgaram e reiteramos, publicamente, os parabéns aos selecionados. Agora, passamos ...

Olavo de Carvalho e uma curiosa análise do banditismo literário

Imagem
Por Rafael Kafka ©  Matt Mullican O guru da direita conservadora brasileira possui posições bem curiosas em seu livro O imbecil coletivo . Algumas delas estão ligadas à questão da segurança pública, como não poderia deixar de ser diferente. Lendo o que pude ler desse livro, ficou evidente para mim o motivo de tantas pessoas defenderem a ideia de a esquerda sentir empatia por crimes e por isso defender tanto aqueles que os cometem, como se fosse a mesma coisa defender uma sociedade pautada em direitos humanos e que as pessoas saiam por aí de forma impune cometendo barbáries. Antes que me perguntem se ando com tempo excessivo para gastar lendo textos de Olavo, respondo ser importante nos permitirmos dentro de nossos tempos apertados esse exercício de crítica para fugirmos um pouco de uma maldição que um personagem de Bertolluci fala: a de que só conseguimos falar com quem pensa igual a nós. Após as eleições eu criei a ideia de me permitir ler textos de pensadores ...

O eleito, de Thomas Mann

Imagem
Por Pedro Fernandes É curioso que O eleito não figure, de imediato, entre as obras mais importantes de Thomas Mann; curioso, mas compreensível para quem escreveu Doutor Fausto , Os Buddenbrook , A montanha mágica ou José e seus irmãos , obras de grande fôlego que juntas atentam contra toda impossibilidade de realização de um só homem. A monumental obra do escritor alemão atesta, aliás, o verdadeiro sentido de um termo hoje tão depreciado quanto o gesto de ser aplaudido de pé depois de um espetáculo – gênio. Há quase duas décadas fora de catálogo no Brasil, a obra é reapresentada e abre-se, assim, outra possibilidade, a de redescoberta, nesse caso diferenciada, que é a de compreendê-la parte importante do amplo universo de um criador exponencial. As razões para tanto são diversas, mas basta que se diga uma delas: neste romance está toda a técnica do escritor e é, portanto, uma oportunidade valiosa para os que ainda estão à beira de percorrer suas maiores invenções. ...

Poesia, mitologia e amor

Imagem
Por Candido Pérez Gallego Quando T. S. Eliot morreu em 1965, a poesia inglesa ficou órfã. A fatalidade não foi total porque ainda vivia em Veneza um velho estadunidense chamado Ezra Pound e em Mallorca outro senhor britânico, Robert Graves, que podiam, do interior de sua eterna juventude, impulsionar os ritmos dos criadores vindouros. A lírica seria questão de experiência, memória íntima de toda uma vida, testemunho sedimentado de uma existência e por isso o eco dos Quatro quartetos seria a música mais perigosa para os que queriam expressar suas emoções. Robert Graves era sete anos mais jovem que T. S. Eliot e sua capacidade de criação era fascinante, não se limitando unicamente ao campo poético nem se contentando com essa joia que são os seus Collected poems , mas adentrando-se com puro vigor no romance histórico, como Eu, Claudius, Imperador , para citar apenas um exemplo; no âmbito do ensaio, e agora relembramos Mitos gregos e, certamente, a autobiografia Adeus a iss...

Augusto Monterroso. O mestre da brevidade

Imagem
Por Andrés Olascoaga A alguns autores bastam um texto para destacá-lo na história da literatura. No caso do escritor hondurenho Augusto Monterroso, esse texto foi um breve conto que tinha “interpretações tão infinitas como o próprio universo”, repetindo suas próprias palavras. Monterroso apresentou o referido texto, “O dinossauro”, na sua primeira reunião de contos, Obras completas (y otros cuentos) [Obras completas (e outros contos)] , publicada em 1959. Desde então seu trabalho literário, tal como a personagem principal de seu conto, se manteve presente no imaginário coletivo. Mas, seria injusto limitar a vida do escritor a apenas seu mais célebre texto. Afinal, sua história é uma das mais interessantes da literatura latino-americana. Nascido em 21 de dezembro de 1921 em Tegucigalpa, Honduras, Augusto Monterroso Bonilla cresceu mantendo-se distante da pátria onde nasceu e se instalou junto com seus pais na Guatemala. Durante a adolescência, o...

Notas à Borda dos Noventa: aprendendo a escrever menos

Imagem
Por Donald Hall Donald Hall, que faleceu em junho de 2018 aos 89, foi um prolífico poeta, ensaísta e editor cujo trabalho teve enorme impacto nas letras americanas. Foi o primeiro editor de poesia do The Paris Review e serviu aos EUA como poeta laureado. A sua Art of Poetry Interview apareceu na edição de Outono de 1991 da publicação referida. Antes de morrer, compilou um último livro de ensaios, A Carnival of Losses: Notes Nearing Ninety [Um Carnaval de Perdas: Notas à Borda dos Noventa], um excerto do qual aparece abaixo. Quando tinha dezesseis anos de idade, eu lia dez livros por semana: E.E. Cummings, William Faulkner, Henry James, Hart Crane, John Steinbeck. Pensava que progredia em literatura ao ler mais e mais rápido – mas ler mais é ler menos. Aprendi a desacelerar. Trinta anos depois, em New Hampshire com Jane, eu ganhava a vida com freelas de escrita o dia todo, então lia livros apenas à noite. Li Declínio e queda do Império Romano e seis imensos volum...