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O blues inútil para Kublai Kan e útil para o mercador de fato preto

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Por Wagner Silva Gomes Na obra de Sérgio Blank, poeta que publicou os seus seis livros em 2011 compilados n' Os dias ímpares , é visível o estilo pop condicionado a "um freezer no lado esquerdo do peito" - para citar um verso do poema de  A tabela periódica  (1988 -1993) -, condicionado a "Luz para o olhar", a "Os olhos do espelho", de seu dia útil e "estilo de ser assim, tampouco" (1980-1984).  Seu lugar de poeta é um hiato, uma "chama rival na mesma VÍRGULA um toco" de onde diz do "Azul o vermelho o amarelo": "posso pontilhar todo um prisma / eu e meus olhos e meus pleonasmos". É o pop de "o sucesso no isqueiro / gang de fumaça azul e cinza". Se os dias que passam no prisma dos olhos são aparentemente mesmices, Sérgio nos mostra que o que sai da fumaça azul e cinza e ele pode revelar é algo digno do mercador e explorador veneziano Marcopolo, que convocado por Kubai Klan, imperador mong...

O rei das sombras, de Javier Cercas

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Por Pedro Fernandes Javier Cercas. Foto: Francis Tsang “se me dessem para escolher entre passar por aquilo de novo ou morrer, eu escolheria morrer”. ( fala de Carme Manyà, sobrevivente da Guerra Civil Espanhola e a última que, talvez, tenha guardado na memória a imagem de Manuel Mena, ao explicar sobre seu silêncio acercado conflito em O rei das sombras) “adormeci perguntando-me se, como ele, Manuel Mena (o Manuel Mena defunto, mas também o Manuel Mena taciturno e absorto e desencantado e humilde e lúcido e envelhecido e cansado da guerra) não teria preferido ser um servo entre servos vivo a ser um rei morto, perguntando-me se no reino das sombras ele também teria compreendido que não existe vida além da vida dos vivos, que a vida precária da memória não é uma vida normal mas apenas uma lenda efêmera, um sucedâneo vazio da vida, e que só a morte é certa.” ( Javier Cercas , O rei das sombras) Em 2019 passam-se oito décadas do fim da Guerra Civ...

A sátira como recurso da verdade: uma resenha de Bobók

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Por Joaquim Serra A profundidade de Dostoiévski (1821-1881) é reconhecida nos grandes romances, principalmente em Crime e castigo (1866), Os demônios , O idiota (1869), O adolescente (1875) e Os irmãos Karamázov (1881). Não só densos quanto ao tema e a multiplicidade de pontos de vista conflituosos que seus personagens carregam, mas também são romances de fôlego em que há pouca ação de fato. O próprio autor dizia que “o novelista, o poeta, tem outras tarefas do que a descrição da realidade cotidiana: há o universal, o eterno e – parece – as profundezas sempre inexploráveis do caráter e do espírito humano”, conforme cita René Wellek no seu História da crítica moderna. O final do século XIX (Editora Herder, 1972). Já no conto “Bobók”, é possível ver o traço satírico do escritor. Com um texto que muitas vezes soa como uma resposta à recepção de Os Demônios . O conto traz como protagonista um escritor que quando sai à noite para se divertir, acaba ouvindo a conversa de...

O enigma Simenon permanece vivo

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Por Juan Carlos Galindo Georges Simenon. Foto: David Montgomery. Ficou conhecido como o homem das dez mil mulheres e dos quatrocentos livros. O primeiro epíteto pode ser algo exagerado; o segundo, não é. Personagem de biografia impossível, Georges Simenon (Liège, 1903 – Lausana, 1989) deixou para trás uma obra descomunal, um legado literário do qual o comissário Jules Maigret é apenas uma parte e cujo olhar continua oferecendo chaves sobre o ser humano de hoje. Pela passagem dos 90 anos da primeira aparição de Maigret em La Maison de l’inquiétude , criadores e editores recordam no festival Quais du Polar de Lyon a figura que para o Nobel e amigo íntimo seu André Gide era “o romancista maior e mais autêntico”. “É mesmo um dos poucos se não o único autor de literatura policial reconhecido como grande autor literário. Com grafomania, escrevia a todo tempo – não só as histórias de Maigret mas também os chamados romances duros, que são magníficos – era uma espécie de...

Vá, de ressaca – a (in)formalidade de Geovani Martins em “O sol na cabeça”

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Por Rafa Ireno Geovani Martins. Foto: Chico Cerchiaro Por coincidência ou não, quando ouvi falar d’ O sol na cabeça de Geovani Martins pela primeira vez, na universidade, eu estava lendo uma crônica de Rubem Braga a respeito do abstracionismo dos anos 1950, a qual se referia à polêmica que essa tendência de arte mais formal provocou na tradição brasileira de pinturas figurativas, em geral, engajadas. Na verdade, uma leitora pede a opinião do cronista sobre certas obras concretas expostas no Rio de Janeiro. Após confessar não ter ido na tal exposição, o cronista diz o seguinte: “Cada um faça o que lhe agrada mais, e sempre valerá alguma coisa tudo o que for feito com sinceridade e sabedoria. Creio mesmo que é normal essa oscilação da arte – ora se agarrando mais à vida, ora se satisfazendo mais a si mesma, obedecendo à pura lógica de seus meios.” Era numa terça, lembro, tinha que sair rápido do Butantã e ir para a Cooperifa. Aproveitei para consultar amigos de lá e nada...

Boletim Letras 360º #319

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Saudações, leitoras e leitores do Letras! Apresentamos nova edição desta postagem contínua criada há 316 semanas para reunir as notícias que divulgamos durante a semana em nossa página no Facebook. Antes, temos três novidades para contar: 1. Firmamos uma parceria com o blog argentino Eterna Cadencia. Os leitores mais assíduos já devem ter visto alguns textos que aqui publicamos que são traduções de textos apresentados neste canal; então, com a parceria, anotem, novas traduções virão e, claro, publicações de excelência. Este blog é na verdade parte de uma rede maravilhosa de criações no universo literário; além da presença na blogosfera, existe uma editora e uma Livraria. Chique, não? Tem um link para acesso no menu ao lado. 2. A outra boa novidade é que, em parceria com a Global Editora, sorteamos a nova edição de Sagarana , um livro que é fundamental para todo leitor que tem interesse em se iniciar na leitura da obra de Guimarães Rosa. Os leitores que nos acompanham também sabem que ...