Postagens

Boletim Letras 360º #322

Imagem
No último dia 13 de abril sorteamos um exemplar de Sagarana , de João Guimarães Rosa, em novíssima edição pela Global Editora. O livro já está a caminho de um leitor do Letras in.verso e re.verso de Curitiba. Terá mais do escritor mineiro, em breve, no nosso Instagram. Bom, e nesta semana, especificamente, tivemos o privilégio de receber mais dois novos colunistas para compor o blog Letras in.verso e re.verso: Beatriz Martins e Davi Lopes Villaça. Não deixem de passar a acompanhá-los. Recadinhos apresentados, vamos às notícias que fizeram o mural do blog no Facebook. Julio Cortázar em Zabriskie Point (1976). Postal que o escritor enviou ao cineasta Antonioni. Arquivo EYE Film Museum Amsterdam.  A nova edição brasileira de O jogo da amarelinha  já está disponível. Segunda-feira, 15 de abril Uma releitura de 1984 , para a HQ. Em 2020 passam-se sete décadas sobre a morte de George Orwell. Passa assinalar a data, a Companhia das Letras prepara um...

Por não recear o olhar penetrante: desconstruindo o cenário do primeiro cinema

Imagem
Por Wagner Silva Gomes Studio Méliès A história do cinema registra que os primeiros filmes eram gravados em uma única cena em plano geral.   A câmara era afixada de frente para o cenário, não captando assim os movimentos e detalhes da cena. Até por isso os franceses responsáveis pelas primeiras películas chamavam o roteiro de cenário. Com isso, o cinema tinha como base a linguagem teatral, que é construída ainda hoje apoiada na recepção da plateia (público) frente ao palco (atores e cenário). Vitor Manuel Aguiar e Silva, em seu livro Teoria da Literatura , diz que o drama (teatro) é baseado na ação, ou seja, nas tensões momentâneas e imediatas entre os sujeitos. E isso é sugestivo porque o desafio que levou o primeiro cinema a progredir foi justamente se pensar na desconstrução da cena (do ilusionismo de Méliès, passando pelos cem olhos dos construtivistas Russos, ao travelling de Griffith e as inovações contemporâneas). Para isso, era preciso sair do caráter te...

Varlam Chalámov, contador de histórias

Imagem
Por Davi Lopes Villaça Varlam Chalámov, nos anos 1940, depois de retornar de Kolimá O escritor russo Varlam Tíkhonovitch Chalámov (1907-1982) viveu quase vinte anos como prisioneiro em campos de trabalho forçado soviéticos. Entre 1937 e 1951 trabalhou nos campos da região de Kolimá, na Sibéria, também conhecida como a “terra da morte branca”. Dessa experiência recolheu o material para sua obra mais importante, Contos de Kolimá , escrita entre 1954 e 1973. Duas narrativas, ambas presentes no primeiro livro da coletânea, lançam uma luz sobre o sentido dessa extensa obra, permitindo-nos também uma reflexão sobre a relação do autor com a literatura. Em “Pela neve” (não por acaso o primeiro conto do livro) Chalámov descreve o movimento lento e exaustivo dos prisioneiros que, postos a andar lado a lado, abrem caminho por entre a neve que cobre a terra, para a passagem de pessoas, comboios de trenós, tratores. “Se caminhassem sobre cada uma das pegadas do primeiro, abriria...

Poesia e metalinguagem em A palavra algo, de Luci Collin

Imagem
Por Fernanda Fatureto Como em um lance de dados Luci Collins celebra o jorro da linguagem em A palavra algo (Iluminuras, 2016) – livro que lhe concedeu o segundo lugar no Prêmio Jabuti 2017. A metáfora dos dados pode ser encontrada no poema “Lances” em que mostra como Collin utiliza as palavras para “cumprir o poema”: “dado que nos poreja / cumprir o poema / sagrar sua sorte/de verbos em chamas”. Sua poesia – apesar de cerebral – estabelece essa conexão com o improvável, o que lhe garante maior liberdade para compor seus versos:  dado que é sem doutrina  jogo de emblemas  ondulação das cortinas que tudo a voragem do início e os sons feito fossem azes  estilando  o âmago desimpedido de um esplêndido algo. Seu único comprometimento é com a poesia, ela mesma enquanto fluxo constante, como escreve em “Tule”: “assim aqui não se traceja perguntas / que os passos da dança são um jorro / as falas são manjar e reeditam / o...

“Uma nova mulher e a moral sexual”, de Alexandra Kollontai, e o desenvolvimento da produção literária de Hilda Hilst

Imagem
Por Beatriz Martins Hilda Hilst. Foto: Renata Falzoni “Durante 40 anos, Hilda Hilst foi uma moça muito bem comportada. Ela produziu muito: mais de 28 livros de poesia, prosa, textos belíssimos de teatro que continuam inéditos. De repente, Hilda Hilst se rebelou”. Esta é a introdução da entrevista concedida a TV Cultura, quando do lançamento d’ O caderno rosa de Lori Lamby . No que Hilda responde considerando-o um ato de agressão (para além de transgressão, donde há de se ver o caráter radicalizado da obra), uma necessária banana ao mercado editorial delimitado a partir dos ideais patriarcais. (Vídeo disponível aqui ) A nova mulher contemporânea emerge duma ressignificação de valores e necessidades, a qual é posta num movimento verticalizado, de cima para baixo, a todas as mulheres. Esta diferenciação passado-presente é desenhada continuamente na obra de Alexandra Kollontai, teórica feminista e marxista e, sobretudo, revolucionária. Em sua obra A nova mulher e a mor...

A namorada de Federico García Lorca e outros amores

Imagem
Por Jesús Ruiz Mantilla María Luisa Natera, a possível primeira paixão de Federico García Lorca. Com o tempo, o preto e branco das fotografias só deixa entrever a sombra de uma luz. A atraente magnitude de um olhar meio esquiva. Mas, essas imagens dão alguma dimensão de um verdadeiro mistério que tempos depois pode se esclarecer. Aqueles olhos que Federico García Lorca não queria contemplar (“... mas sem olhar para eles dão a morte / com o punhal azul de sua lembrança”, como deixou escrito em “Madrigal triste de olhos azuis”)¹ não correspondem a um mero tema poético, como muitos críticos acreditaram. Têm nome e dona. Chamava-se María Luisa Natera Ladrón de Guevara. E trazia na face duas gotas de água-marinha pelas quais o poeta se envolveu apaixonadamente. Foi, segundo se reconheceu, um amor impossível da juventude. Ian Gibson revela no seu livro Lorca y el mundo gay , o que é, paradoxalmente, um dos segredos melhor guardados na biografia do poeta: a primeira namorada d...