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Boletim Letras 360º #329

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Nossa estadia no Facebook está ameaçada. Além do trabalho de preparação e edição de material para este blog, outro que exige altas cotas de dedicação é nossa estadia na rede social. Diariamente desenvolvemos uma ampla pesquisa para seleção de material. Uma pequena parte disso fica registrada nas edições deste Boletim, criado há 326 semanas – informações sobre o mercado editorial e cultural que dialoguem com a linha editorial do blog. Além disso, publicamos material diverso de entretenimento, sempre relacionado ao material principal editado por aqui. Há alguns dias, entretanto, enfrentamos uma série de problemas com nossa página no Facebook, como registramos em nota esta semana por lá e em nossa conta no Twitter @Letrasinverso. Por razões inexplicáveis, uma vez que não nos foi apresentada nenhuma justificativa clara, aquela rede social passou a deletar publicações nossas com a acusação de Spam. A página do blog ali existe há 9 anos e nunca nos utilizamos do espaço para fins inde...

Plataforma, de Michel Houellebecq

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Por Pedro Fernandes Michel Houellebecq. Foto: Alessandro Albert “Os órgãos sexuais existem como fontes permanentes e disponíveis de prazer. O deus que criou nossa desgraça, que nos fez efêmeros, vazios e cruéis, também previu essa forma de débil compensação. Se não houvesse, de vez em quando, um pouco de sexo, em que consistiria a vida? Um combate inútil contra as articulações que endurecem e as cáries que se formam. Tudo, ainda por cima, absolutamente desinteressante – o colágeno que anquilosa as fibras, a criação de cavidades microbianas nas gengivas. Valérie abriu as coxas bem em cima da minha boca.” A passagem em destaque está no capítulo 7 da segunda parte, de três, “Tailândia tropical”, “Vantagem competitiva” e “Pattaya Beach”, do romance Plataforma , de Michel Houellebecq. E a menção logo à entrada deste texto desempenha o papel de compreender ao menos três aspectos concernentes a esta obra. O primeiro se refere ao narrador e à maneira de narrar característica...

“Como se estivéssemos em palimpsesto de putas”, de Elvira Vigna. Transgressão do imaginário

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Por Flaviana Silva Elvira Vigna. Foto: Jéssica Mangaba   O apagamento de algumas marcas é um mistério. A dúvida entre as lacunas não permite que os acontecimentos sejam explicados totalmente; é nesse vazio que reside a beleza. Ousamos em assumir que não sabemos de tudo quando lidamos com o texto literário, afinal, o que sempre temos são mais perguntas e sinceramente, não é necessário ter todas as respostas. O mergulho é mais do que sentir as águas no próprio corpo. A obra de Elvira Vigna intitulada da melhor maneira possível de Como se estivéssemos em palimpsesto de putas  foi publicada em 2016 e foi o último romance escrito pela autora um ano antes de sua morte; ganhou o prêmio APCA de literatura no mesmo ano da publicação sendo reconhecido por toda a riqueza de questionamentos sociais intrínsecos ao enredo, priorizando como foco as relações humanas. Sem dúvidas, é uma escrita digna de destaque na literatura brasileira contemporânea. A visita do leitor a...

Entretons do filme “Temporada”: a Contagem de André Novais

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Por Rafa Ireno Mas não se avexe, não queira chuva em mês de agosto. – Guimarães Rosa,  Grande Sertão: Veredas Se Luíza não tivesse esquecido a carteirinha de estudante naquele dia, em São Paulo,   Temporada teria me impressionado tanto? Acontece que minha amiga mineira esqueceu! Não entramos na sala de cinema e, logo depois, me mudei. Sempre desconfiei do destino, um pouco como Juliana – a protagonista da história. Mas, talvez, estivesse escrito que o filme de André Novais passaria alguns meses depois no Festival de Cinema Brasileiro de Paris, e que eu trabalharia como voluntário para a associação Jangada, organizadora do evento, nas tradicionais salas do l’Arlequin. Aqui, na França, era quase final de inverno, as árvores sem folhas, as pinturas insossas dos prédios, o céu constantemente acinzentado e o frio contrastaram bastante com as imagens da tela. Às vezes, somente quando partimos aprendemos a extensão das coisas, que ainda nos pertencem ou que ficaram para...

Selma Lagerlöf e Astrid Lindgren. Que todos saibam seus nomes

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Por David Gumbarte Selma Lagerlöf As vidas dos grandes escritores estão marcadas por situações corriqueiras. Uma aula de ginástica, arrumar-se para um primeiro encontro, pagar contas, a dor pela perda, uma infância ao sol, lama nos sapatos. Numa entrevista publicada no jornal Clarín em 2011, o escritor brasileiro João Gilberto Noll defendia que “a literatura busca transcender a mediocridade do cotidiano. A literatura é uma forma de resistir”. Como na literatura, Selma Lagerlöf e Astrid Lindgren foram um tanto diferentes e tiveram suas vidas comuns salpicadas de acontecimentos extraordinários. Selma Lagerlöf publicou quase quarenta títulos, entre romances e antologias de contos, de temática muito diversa. Sua obra mais conhecida é A viagem maravilhosa de Nils Holgersson através da Suécia (tradução portuguesa), traduzida para mais de sessenta idiomas. A escritora ostentou a honra de ser a escritora sueca mais traduzida até o aparecimento de Astrid Lindgren com Pippi...

Ler sem saber

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Por Beatriz Sarlo Ilustração: Feng Biddle. Não se pedirá explicações a quem disser que Em busca do tempo perdido , Madame Bovary ou Doutor Fausto são os livros que mais lhe impressionaram. Isso ratifica o que agora se chama cânone, isto é, a champions league da literatura. Com a mesma tranquilidade se aceita citar Jane Austen ao lado de Stendhal, ou Heine na mesma frase em que se diz Baudelaire. Exceto para os rebeldes que querem sacudir o estabelecido, esses nomes figuram na maioria das listas. Já não causam escândalo nos tribunais, nem existem fiscais que os persigam como os que perseguiram Flaubert, ou censores que queiram apagá-los como aconteceu com Lolita , de Nabokov. Só um provocador profissional lhe ocorreria dizer que, ao lado de O vermelho e o negro , pode se colocar um romance questionável de Lamartine; que Victor Hugo não é para tanto, se pensando quão bem escrevia Alfred de Vigny; ou que, finalmente, Eliot é bastante enfadonho se o comparamos com Neruda. Ex...