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Boletim Letras 360º #331

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Esta a edição, para quem ainda não conhece ou chega pela primeira vez ao blog, reúne todas as informações copiadas em nossa página no Facebook de segunda à sexta-feira. O Boletim Letras 360º foi criado desde quando os algoritmos daquela rede social passaram a limitar progressivamente o acesso dos amigos / seguidores. Desde o início deste ano, fizemos alterações no conteúdo e passamos a oferecer, além da reunião desse material circunscrito no arco de interesses editoriais deste blog, outros trabalhos, como uma pequena lista com recomendação de leituras e dicas de materiais externos e internos ao Letras. Boas leituras! Willa Cather. Obra resgata escritora no Brasil e assinala a entrada no mercado editoral de nova editora. Mais detalhes ao longo deste Boletim. Segunda-feira, 17 de junho Escrito há 50 anos, marco na literatura de fantasia e ficção científica ganha edição comemorativa. Enviado em uma missão intergaláctica, Genly Ai, um humano, tem como missão persuadir...

Somos nada mais do que violência

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Por Rafael Kafka Os defensores do Estado policial não gostam muito de discutir com profundidade o tema da violência urbana, mal social terrível que aflige a existência do povo brasileiro de diversas maneiras. Para essas pessoas, a repressão e somente ela é capaz de resolver todos os problemas que levam ao cometimento em massa de crimes nas mais diversas paisagens do país. Isso em níveis macro ou micro. Há uma semana na escola onde dou aulas um professor foi atacado a golpes de faca por um aluno enquanto ministrava aula de língua portuguesa. Desde então, alguns professores, eu incluído, tentamos realizar ações de conscientização da necessidade de se discutir políticas públicas efetivas de combate à violência por meio de uma educação valorizada e humana, bem como com a presença de profissionais da saúde emocional e mental dentro dos ambientes escolares. Nossos discursos e práticas tiveram de enfrentar a presença de membros do poder executivo local que usavam enunciados ...

Memórias do sobrinho de meu tio, de Joaquim Manuel de Macedo

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Por Pedro Fernandes É muito possível que Joaquim Manuel de Macedo figure entre os escritores brasileiros que padecem no limbo da memória literária de seu país e quando lembrado pertença apenas à lista dos autores de um livro só, embora essas duas condições sejam um duplo golpe contra um criador autêntico e polivalente, que tomou muito a sério a condição do gênio, esmerando-se pelo trabalho de construir uma obra singular e significativa para um país que ainda engatinhava na formação de um sistema literário. As razões que levam à primeira visão são oferecidas dado ao silêncio em torno de sua obra e a escassez de sua presença, muito provavelmente restrita a alguns dos poucos cursos de Letras, entre os leitores brasileiros; e, a segunda constatação, que se justapõe à anterior, se determina pela reiteração de A moreninha como sua Magnum Opus , eleição tão controversa como injusta porque tem ofuscado os poucos olhares para um universo criativo amplo e diverso. Mas, qual a ...

Leitura de Pedra Bonita

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Por Davi Lopes Villaça Creio que Pedra Bonita (1938), um dos romances menos conhecidos de José Lins do Rego, autor hoje também pouco lido, mereceria ser melhor compreendido, para além da chave do regionalismo em que é facilmente enquadrado. O livro aborda dois fenômenos sociais do interior nordestino: o cangaço e o messianismo, mas pensá-lo como uma dramatização desses fenômenos é compreendê-lo apenas na superfície. Seu tema não é qualquer realidade social em particular, assim como o tema de Guimarães Rosa no Grande Sertão não é o universo jagunço. A questão que permeia toda a obra de José Lins como romancista e que adquire expressão nova em Pedra Bonita diz respeito à relação problemática do homem moderno – ou de certo homem moderno – com suas origens. Dentro dessa relação podemos divisar ainda outra, talvez até mais importante, que é a relação desse homem com o tempo e com a memória. Antônio Bento, o herói da narrativa, é abandonado, ainda muito pequeno, por uma fa...

O coração das trevas

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Por Antonio Muñoz Molina Cena de Apocalypse Now , de Francis Ford Coppola Há uma coisa trágica de grandes animais mortos nos velhos barcos encalhados e à beira da ruína, como nas filas de vagões carcomidos pela intempérie e destruídos pelo óxido que se vê em estradas mortas próximos a estações, como em paisagens de edifícios azulejados mas em ruínas, e em céus escurecendo ao entardecer por entre cabos de alta tensão. Os vagões de carga, os barcos velhos comidos de ferrugem, ou mesmos os carros usados pintados de um cinza de pós-guerra nos quais talvez tenhamos viajado durante noites eternas há muito anos, contêm toda a sensação de decadência e destruição, não suavizado pela dignidade melancólica das ruínas nobres, dos escombros de um palácio ou de uma igreja gótica. A carcaça côncava de um navio morto esquecido à beira-mar se parece muito com a de uma vaca ou um cavalo morto à beira de uma estrada.  Mas há ruínas que aparecem num porto ou nessa estação de trem...