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Ficção de realidade e realidade de ficção

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Por Amanda Lins Pontes de Miranda, o professor de introdução ao direito diz incessantemente à turma sonolenta, leiam Pontes de Miranda. Algo no tom dele faz nascer em mim um ensaio de irritação, irritação a qual, a princípio, não consigo identificar o motivo. Mas anoto a sugestão-barra-imposição no canto do caderno e empurro a porta, indo em direção ao mormaço do mundo. As salas de aula no verão nunca são convidativas. Nascimento em 1892... morte em 1979... escreveu diversos tratados sobre direito privado, vou lendo enquanto passo meus dedos pelas capas empoeiradas, formando um rastro de que estive ali, marcando-me nos sumários já comidos pelo tempo até a metade e nas contracapas quase inexistentes. Na biblioteca, o que entra de luz precisa antes dançar pelos resquícios de poeira, formando uma cortina que me banha de sol aos poucos e me convida, novamente, ao calor de fora. Posso sentar-me num banco e terminar de ler o romance que larguei durante a aula, reflito. ...

Odes a Maximin, de Ricardo Domeneck

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Por Pedro Fernandes A partir da descoberta dos versos de “Autopsicografia” em 1932 foi possível compreender um dos pontos-limite da lírica moderna; a questão, entretanto, não pode se reduzir aqui, nem começa com Fernando Pessoa e considerá-la como tal ou o poeta como a voz exclusiva de uma virada na poesia resulta em graves consequências para uma melhor compreensão sobre a própria história desse gênero literário, mesmo porque, conjeturas dessa natureza aparecem e são mais produtos das investidas para a construção de um mitologema no-do poeta de Mensagem no imaginário cultural português. O valor dos versos de Pessoa se justifica pela ação provocativa; no contexto literário do poeta reafirma-se o ideário de uma ruptura com as formas simuladas da poesia, sobretudo, as nascidas no interior do romantismo que sedimentaram os valores de um sentimentalismo piegas corriqueiramente debandado para as rotações pessoais. Mas, no fim de tudo, não se oferece nenhuma revelação capaz d...

A cosmologia do caminho

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Por Tiago D. Oliveira Uma orquestra de minorias , do nigeriano Chigozie Obioma, traduzido por Claudio Carina e publicado pela Globo Livros, é um romance fincado sob o conjunto de tradições e crenças de um   povo, a cosmologia igbo. Ele traz uma história que apresenta a relação de um criador apaixonado por aves, Chinonso, com Ndali, uma mulher da alta classe da Nigéria. A paixão dos dois evoca uma cena clássica na literatura, um conflito que se vale da diferença das classes sociais, mas que se reinventa a partir da estrutura narrativa e da voz de um narrador que se apresenta como Chi , o espírito guardião de seu hospedeiro, Chinonso.   Depois que Chinonso vê Ndali se encorajando para pular de uma ponte ele a convence de que seria um ato impensado e salva a moça plantando a semente de um interesse mútuo que se transformaria em um relacionamento amoroso. A forte oposição da família de Ndali à relação dos dois faz com que Chinonso queira ter um diploma para ser acei...

O retrato da solidão

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Por Joaquim Serra Paul Auster tem a notícia da morte do pai. É o gatilho necessário para tentar reconstruir na primeira parte de A invenção da solidão partes daquele enigmático homem. À maneira de um mosaico, a memória reconstrói a solidão dos últimos anos de vida do pai, a relação distante com o filho, o casamento como uma interrupção da vida que, mais tarde, depois do divórcio, ele retomaria. O autor de O livro das ilusões , A noite do oráculo , e o mais recente 4321 , já publicado no Brasil, volta aos primeiros de vida até o presente da composição de A invenção da solidão. O livro faz parte de suas incursões autobiográficas em que o autor opta por uma terceira pessoa para falar de si mesmo. Isso não confere veracidade à narrativa, mas distancia – ou às vezes aproxima – aquele que fala daquele que age. A primeira parte, “retrato de um homem invisível”, é uma busca do autor pelo entendimento da figura paterna. O pai é ausente, solitário, “o mundo ricocheteava nele,...

Elena Garro: poderes da palavra

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Por Lucía Melgar Criadora de mundos de luz e sombra, Elena Garro explorou todos as formas: o jornalismo, o roteiro para cinema, o ensaio, as memórias, a poesia, o teatro e a narrativa. A maestria de sua literatura e a criatividade inovadora são suficientes para situá-la entre os melhores nomes do universo literário espanhol. Grande leitora, conhecedora da literatura espanhola dos séculos de ouro, do romantismo alemão, do grande romance russo e da literatura fantástica do Rio da Prata, entre outras, configurou em seus textos um olhar agudo e sensível sobre seu tempo, uma imaginação deslumbrante e uma escrita fina, rica em matizes e contrastes. Testemunha de seu tempo, traçou em sua obra um amplo e lúcido mosaico dos avatares do século XX. Em seus romances e contos, farsas, dramas e memórias, aparecem cenas de uma história turbulenta e sombria; personagens encantadoras ou desprezíveis, presas na mediocridade do tempo cronológico ou ameaçadas por um destino fatal, que bu...

Boletim Letras 360º #333

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Durante a semana, a partir da edição 329 deste Boletim , recebemos inscrições para uma promoção que enviará a um leitor dois títulos dos seis indicados entre os destaques das publicações no mercado editorial brasileiro do primeiro semestre de 2019. Ficamos de anunciar o ganhador nesta postagem. Ontem, depois do encerramento das inscrições, às 22h, pedimos em nossa página no Instagram e Facebook a recomendação de um número entre 1 e 242, intervalo que assinala a sequência da quantidade de inscritos. Recebemos até às 10h de hoje 25 palpites, dos quais 6 para o número 13. E o número 13 na ordem de inscrições é o de Amanda Maria da Silva Carvalho, de Cocal, Piauí. Parabéns à ganhadora e desejamos ótimas leituras! A todos que contribuíram para a realização da promoção ficam nossos agradecimentos e o aviso que, para breve, virão outros momentos do tipo. A seguir as notícias que circularam durante a semana em nossa página no Facebook e outras dicas de leitura. Revelada uma série de tít...