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Boletim Letras 360º #336

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Antes de passar às notícias apresentadas durante a semana em nossa página no Facebook, queremos relembrar duas coisas: 1. A venda de livros no nosso bazar que servirá para arrecadar recursos para manutenção do registro do Letras in.verso e re.verso. Para saber quais títulos estão à venda e como adquiri-los basta visitar  este link temporário em nossa página no Facebook ; 2. A promoção que sorteia um leitor que levará  Contos de cães e maus lobos e nosso reino  (Biblioteca Azul/ Globo Livros) – as inscrições estão abertas aqui . Victor Serge. Publica-se no Brasil obra de um dos primeiros a denunciar os desrumos tomados pelo estado soviético.  Segunda-feira, 22 de julho Nova tradução para os Três contos , de Flaubert Publicado pela primeira vez em 1877, este livro reúne alguns dos textos mais celebrados do escritor francês. “Um coração simples” passa-se na Normandia, terra natal do escritor, e conta a comovente trajetória da solitária criada F...

Orfandade poética

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Por Beatriz Martins Ilustração: Sakuya Higuchi este é um poema que eu queria ter lido para minha avó. há exato um mês, eu perdi a minha avó. e de certa forma perdi o poema. porque ele foi feito para ser lido a vovó. não li o poema. às vezes eu tentava conversar com vovó e ela dizia minha filha por favor minha filha volte amanhã eu não quero esse negócio chato nos meus ouvidos hoje – o aparelho auditivo – eu não quero conversar eu quero estar aqui com a minha filhinha; minha filhinha que não caga, não come, não chora. a boneca de vovó era uma perfeição de filho, principalmente a alguém com mais de 90 anos e que gosta de companhia para assistir Malhação . vovó desenvolveu uma habilidade incrível ao longo da vida. podia dar vida a meros objetos, podia se teletransportar no tempo, podia criar outros tipos de tempo. um dia, nos surpreendemos quando um velho amigo da família disse que vovó teria sido registrada errado – se em seus documentos constam 93 anos, esta não ...

As sementes da infância e a colheita amarga da velhice: a “Sinfonia em branco”, de Adriana Lisboa

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Por Flaviana Silva O vazio é o irmão do silêncio. Ambos escondem as palavras não pronunciadas e abrigam em si, por mais estranho que pareça ser, um universo de lacunas. A ausência da cor registra a sua marca na existência, é semelhante aos traumas que não receberam a atenção da sociedade hipócrita ao longo dos anos. É preciso considerar que Sinfonia em branco da autora brasileira Adriana Lisboa é um romance de sentidos cortantes e poéticos.  A obra foi publicada em 2001 e foi reconhecida com o Prêmio José Saramago no mesmo ano; para os amantes da prosa poética, o romance é uma viagem singular e satisfatória. O enredo é construído por um narrador onisciente que em sua autoridade, expressa uma descrição minimalista, destacando alguns detalhes e ocultando outros.   A história das irmãs (Clarice e Maria Inês) é guiada por uma sequência de transgressões que marcam a vida das personagens, em um tempo narrativo psicológico que é composto por uma dança constant...

Dor e glória, de Pedro Almodóvar

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Por Pedro Fernandes A consciência de que o passado está preso nas linhas do irrepetível parece ser uma das certezas universais com a qual mais lutamos. Não é exagero dizer que a partir da formação dessa compreensão toda nossa vida seja feita de tentativas de nos reencontrarmos com nossos instantes de júbilo; por essas ocasiões que somadas todas na vida de um indivíduo comum não chegaria a um terço de sua existência total qualquer um pagaria qualquer preço incluindo uma nova vida com o mesmo novelo de mesmices e dores. Pedro Almodóvar alcançou essa consciência sobre o passado e transformou suas inquietações, como quem passasse a limpo sua própria biografia, numa obra de arte capaz de atingir a todos. Em Dor e glória encontramos o tema do vazio criativo e o seu preenchimento com aquilo que de melhor pode fazer um artista: multiplicar-se para ser a si e um outro, sendo este aqueles que em toda parte padecem da impossibilidade dessa condição. Volta à estrutura da meta...

“Finnegans wake” para multijogador

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Por Justo Navarro Se pesquisarmos na internet film noir ou cinema policial talvez acabemos por encontrar com o último romance de James Joyce, Finnegans wake , que apareceu nas livrarias, fez agora oito décadas, em maio de 1939, quase na mesma ocasião quando se publicava O sono eterno , de Raymond Chandler. Não seria devido essa coincidência, nem pelas supostas aventuras detetivescas do taberneiro Earwicker, protagonista do romance, que fez algo num parque de Dublin e acabou ante um tribunal: se pesquisando Finnegan chegou ao cinema policial é porque o inventor em 1946 do conceito film noir , Nino Frank, colaborou com James Joyce na tradução para o italiano de “Anna Livia Plurabelle”, episódio final da primeira parte do romance irlandês. Nunca terminei de ler Finnegans wake , romance escrito num idioma inventado a partir do inglês. O problema é que sempre começo a ler de novo a vida do taberneiro Earwicker e sua companheira, Anna Livia; seus gêmeos Shem e Shau...

Don DeLillo, o pós-modernista estadunidense

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Por Andrés Olascoaga A literatura chegou como um hábito tardio para o jovem estadunidense Don DeLillo. Proveniente de um bairro ítalo-americano do Bronx novaiorquino, DeLillo havia passado a maior parte de sua vida na rua, fugindo dos problemas que inundavam o lugar onde morava e buscando um trabalho com o qual pudesse pagar suas contas no futuro. Durante um desses empregos temporários, encontrou nos livros uma forma de escape de sua realidade. Começava a se tornar ali um dos escritores mais importantes para o pós-modernismo. Apesar do ambiente onde se vivia nas regiões de classe média de Nova York depois da Grande Depressão, a infância de DeLillo, nascido como Donald Richard DeLillo a 20 de novembro de 1936, transcorreu sem maiores preocupações. Sua família, altamente católica, o acostumou a se manter na linha, cumprir todos os requisitos da escola, ir à igreja aos domingos, construir boas amizades e evitar cair em qualquer vício que pudesse toldar seu futuro. Qu...