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Joseph Conrad no coração das trevas (Parte 2)

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Por Rafael Narbona © Sean McSorley’s  Coração das trevas foi publicado em 1899 numa revista de Londres, a Blackwood's Magazine . Três anos depois, aparece como uma das três histórias do livro Youth; A Narrative; and Two Other Stories . Joseph Conrad recriou suas aventuras no rio Congo, mudando nomes e detalhes geográficos, mas sem esconder sua repulsa pela colonização belga. A narração começa na foz Tâmisa. Um grupo de homens a bordo do Nellie, um pequeno navio de cruzeiro, aguarda a descida da maré para partir. Marlow torna a espera mais leve, recontando sua viagem ao Congo. Entre seus interlocutores está um advogado, um contador e o capitão. Todos são viajantes experientes, “tolerantes para com as histórias e até com as convicções de cada um”, uma vez que estão ligados pelo “vínculo do mar”, o que implica longas separações de seus entes queridos, sem outro horizonte que as águas oceânicas, mares e rios. Esses cenários são uma excelente metáfora para a exist...

Mario Benedetti: cem anos

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Por Mario Vargas Llosa Embora fôssemos bons amigos, não me lembro quando conheci Mario Benedetti. Provavelmente a primeira vez que fui ao Uruguai, em 1966: uma viagem maravilhosa em que descobri que um país da América Latina pode ser tão civilizado, democrático e moderno quanto a Suíça ou a Suécia. Nas ruas de Montevidéu havia cartazes anunciando um Congresso do Partido Comunista e os jornais ― El País , La Mañana , Marcha ― eram muito bem escritos e melhor diagramados, o teatro era soberbo, as livrarias eram formidáveis, a liberdade respirava-se por toda parte sem viseiras.  Aquele pequenino país tinha uma vida cultural de primeira ordem e, se pudéssemos pagar, em Linardi e Risso encontrávamos todas as primeiras edições de Borges. Já havia feito palestras para pequenas plateias, mas na Universidade de Montevidéu, onde fui levado por José Pedro Díaz, falei sobre literatura diante de um público que lotou o auditório, o que me surpreendeu.   Se foi então que nos conhecíamos, eu...

Boletim Letras 360º #343

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Iniciamos em nossa conta no Instagram uma nova campanha de divulgação: sim, é podemos designar assim as promoções. Desta vez, vamos sorteamos entre os leitores que acompanham o blog naquela rede social um exemplar de O   quarto de Jacob , de Virginia Woolf. O livro em questão é a recente tradução realizada pelo Tomaz Tadeu para a coleção com a obra da escritora inglesa editada pela Autêntica Editora. Você pode saber mais sobre os livros que integram essas publicações aqui . A edição colocada em sorteio saiu entre nós em junho de 2019, cf. foi notícia numa dessas edições do Boletim Letras 360º. Para se inscrever no sorteio é muito simples: basta seguir o Letras através do IG @Letrasinverso; aí encontrará uma publicação que traz todas as informações sobre como participar. Há ainda vários links aqui pelo blog, incluindo no rodapé desta post, que permitem acesso a essa e outras redes sociais. Antes disso, pode visitar as notícias que passaram por outra página do Letras nas redes...

Queda e ascensão de William Stoner

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Por Steve Almond Porque autores labutam amiúde na obscuridade, e porque quase todos a creem injustificada, a história da ressurreição crítica e comercial de Stoner (Rádio Londres, 2015) tem sido repetidamente invocada como artigo literário de fé. A saga reafirma com força aquela voz petulante dentro de todo escritor, aquela que insiste que publicar é no fim meritocracia, que a posteridade não se refere a tendências editoriais, orçamentos de propaganda ou hype . Emily Dickinson enviou seus pequenos épicos sombrios a um mundo que os considerou pouco mais que pássaros estranhos. Herman Melville acreditava que Moby Dick seria sua conquista definitiva e ficou aturdido quando o livro pavimentou sua descida ao esquecimento. O Grande Gatsby foi refugado por anos como obra menor. Segue o baile. É também importante, e curiosamente inspirador, reconhecer o estado em que John Williams se encontrava quando escreveu Stoner . Como documenta Charles Shields em sua nova e escrupulosa b...