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Boletim Letras 360º #346

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Findamos a semana com três sorteios. Três leitores, do Instagram, Facebook e Twitter, ganharam, cada um, um exemplar de Melancolia , de Carlos Cardoso (Editora Record). A campanha assinala a publicação do novo trabalho do poeta brasileiro, distinguido como um dos acontecimentos na cena literária deste ano. A seguir, o leitor encontra as notícias que passaram durante a semana pelo mural do Letras no Facebook, as dicas de leitura que apresentamos costumeiramente há algumas edições deste Boletim e outras recomendações.    António Lobo Antunes chega aos quarenta anos de sua obra com novo livro, distinções e homenagens dentro e fora de Portugal. Segunda-feira, 30 de setembro Livro reúne parte da correspondência de Efratia Gitai, uma mulher do século XX, de opinião própria, libertária, com posições feministas e ideais socialistas . “Em tempos como estes, não temos escolha a não ser ir em frente e continuar vivendo”, diz Efratia em uma de suas cartas. As cartas r...

Leitor modelo e aluno modelo: conceitos dos quais devemos nos livrar

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Por Rafael Kafka Ilustração: Michael Drive Umberto Eco possui um texto bastante interessante no qual ele trabalha a ideia do leitor ideal, ou modelo, se o leitor preferir. Por meio de uma série de reflexões críticas a um modelo estruturalista de entendimento da obra literária, Eco mostra que o texto literário é um conjunto de estratégias de leitura usadas pelo escritor e percebidas pelo leitor em seu ato de desbravar o referido texto. Nesse sentido, nunca há um contato pleno entre autor e leitor da obra, pois entre eles há as palavras que servem de mediadoras e elas, por natureza, são polissêmicas. Tal polissemia é gerada pela condição humana, fenomenologicamente explicada como uma miríade de visões e formas de sentir a realidade. O leitor ideal é uma utopia pessoal de cada escritor, o qual se utiliza de uma série de recursos e espera que esse leitor entenda plenamente as suas demandas expressivas dentro do produtor que entrega, em constante processo de inacabamento...

As lembranças do porvir, de Elena Garro

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Por Pedro Fernandes Nenhuma história se constitui episódio isolado, nem mesmo uma ordem de acontecimentos pode ser lida como independente de uma consciência total. Assim é que todo fato é apenas parte de um todo, incompleto sem a visão desse todo, tal como sublinha criteriosamente Caio Prado Júnior. “Incompleto que se disfarça muitas vezes sob noções que damos como claras e que dispensam explicações; mas que não resultam na verdade senão de hábitos viciados do pensamento”. A história é constituída de microfragmentos dispersos por entre os escombros a partir dos quais, dos mais vistosos e visíveis se constrói uma versão que se quer verdadeira e oficial. Ao ficcionista resta, além dos restos mais visíveis, o grão escondido. E com este escondido, muitas vezes o casual, é capaz de iluminar todo um universo e atribuir melhor sentido e significação às verdades estabelecidas. Entre esses artesãos do acaso encontramos Elena Garro. As lembranças do porvir constituem uma pequena c...

O prêmio literário pela recusa de prêmios literários

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Por Ursula K. Le Guin Jean-Paul Sartre, um dos que recusaram o Prêmio Nobel de Literatura A primeira vez que ouvi sobre o Prêmio Sartre foi através de “NB”, a verdadeiramente agradável última página do Times Literary Supplement , assinada por J.C. A fama da premiação, nomeada em honra do autor que recusou o Nobel em 1964, está ou deveria estar, de qualquer forma, crescendo rápido. Como escreveu J.C na edição de 23 de novembro de 2012, “Tão elevada é a condição do Prêmio Jean Paul Sartre por Recusa de Prêmio que escritores por toda a Europa e América estão rejeitando prêmios com a esperança de serem nomeados para um Sartre”. Recém-listado para o Prêmio Sartre é Lawrence Ferlinghetti, que recusou uma premiação de poesia de cinquenta mil euros oferecida pela divisão húngara do PEN¹. A premiação é financiada em parte pelo repressivo governo húngaro. Ferlinghetti educadamente sugeriu que eles usassem o prêmio monetário para estabelecerem um fundo para “a publicação de auto...

Rudyard Kipling, diferente e singular

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Por Antonio Lucas Para Rudyard Kipling a vida era melhor compreendida se houvesse um livro no meio. Foi um autor exótico sem aceitar o exotismo como conduta. Um tipo tocado pela necessidade de escrever para ver melhor o mundo. As palavras foram o seu chão. E ele decidiu viver em pleno sol na literatura, contando histórias em quatro romances, em mais de 800 poemas, em inúmeros contos, centenas de cartas e em algumas memórias póstumas (como Something of myself ').  Muito além de autor de O livro da selva , Kim  e Intrepid Capittains , além dessa literatura de fantasia, além da fama e do dinheiro, há um homem marcado por profundas dores. Ainda aos cinco anos sofreu os maus-tratos de uma cuidadora: "Eu era espancado todos os dias... Comecei a ler tudo o que caía em minhas mãos, mas quando ela sabia que eu gostava disso mais que dos outros castigos, acrescentava-me a privação dos livros. de Foi então que comecei a ler às escondidas e consciente disso...", escreve em su...

Witold Gombrowicz e a arte de morder a realidade

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Por Mary Carmen Sánchez Ambriz Em seu Diário , Witold Gombrowicz apresentou uma síntese de seu plano de trabalho para Cosmos , seu último romance, publicado em 1967. Aí, ele deixa claro que é um “romance sobre a formação da realidade”, e enfatiza: “Será um tipo de romance policial”. É importante destacar essa comparação porque o romance tem sido definido como uma história policial  –   possivelmente por fins comerciais  – quando, na realidade, é um pouco mais complexo. Ele continua: “Ritmos furiosos, abruptamente acelerados, de uma Realidade desencadeada. E isso explode. Catástrofe. Vergonha. A realidade que de repente transborda devido a um acontecimento excessivo. Criação de tentáculos laterais… de cavidades escuras… de rupturas cada vez mais dolorosas”. Mas dizer que o último romance que Gombrowicz escreveu é um romance policial é limitar-nos a uma visão fragmentada da trama e não procurar mais considerar outras possibilidades. Como é esse Cosmos que ele ...