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Johnny vai à guerra, de Dalton Trumbo

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Por Pedro Fernandes Dalton Trumbo. Foto: John Swope A obra de Dalton Trumbo como roteirista, considerando os trabalhos que sabemos seus, é uma das mais vastas entre os criadores para o cinema. Perseguido e amplamente censurado pelos Estados Unidos no âmbito dos cinzentos anos de Joseph McCarthy, soube-se que muitos outros textos assinados por terceiros vieram da sua invejável imaginação criativa. Em literatura, se considerarmos os impedimentos estatais e a grandiosa produção como roteirista, Trumbo foi autor de uma obra também significativa; entre as criações nesse campo estão romances, peças e ensaios. Na primeira forma, se mostrou sempre interessado em pelo menos duas frentes: captar seu remoto e pacato passado em Montrose, onde nasceu, ou Grand Junction, onde viveu dos três anos até sua entrada para a Universidade do Colorado, na adolescência.  Deixou uma peça,  The Biggest Thief in Town  (1949), um livro de ensaios,  The Time Out of...

1917, de Sam Mendes

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Por Pedro Fernandes O temário da guerra não está esgotado. Na literatura, a circunstância pode ser outra. Os recursos de contar com palavras só aparentemente são ilimitados, enquanto na arte cinematográfica se é sempre capaz de não apenas contar uma história ainda desconhecida, ou se deter numa pequena parte dela, ou recontá-la. As possibilidades, visto que os meios diferem em quantidade, se não são ilimitadas, ainda nos oferecem com melhor precisão essa ilusão. Em 2018, Christopher Nolan, incluiu-se na extensa lista das renovações sobre o tema propiciadas pelo cinema com Dunkirk , um filme cuja narrativa recupera um episódio da Segunda Guerra Mundial, no âmbito da Operação Dínamo: o resgate sob o comando do Reino Unido de cerca de quatrocentos mil soldados aliados cercados pelas tropas da Alemanha nazista na cidade francesa que dá título à obra. Mas, se aqui, o que se conta é a extrema solidão do herói e a força de muitas delas juntas na realização dos grande...

Ossos do ofício: Borges e a poética da conjectura

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Por Guilherme Mazzafera O meu Borges não é o ficcionista nem o poeta, a quem admiro cum grano salis pianíssimo, embora a mescla de verso e prosa entretecida em O fazedor seja uma de suas mais belas realizações. Tendo conhecido o nome Borges em liame íntimo com sua esmerada apreciação de Beowulf , fui atrás de seu livro mais famoso, Ficções (1944), no meu último ano do colegial. Li-o em duas sentadas. A primeira, no quintal ensolarado em um mês de julho quando havia inverno, pôs-me em companhia de um planeta não catalogado, uma biblioteca inexcedível e um famoso escritor francês desconhecido que palimpsestava a obra-prima de Cervantes e que mais tarde se tornaria uma espécie de São Jerônimo pós-moderno. A segunda sentada, naquela noite fria, apresentou-me um duelo impressionante, uma relva bifurcada e alguém incapaz de esquecer. Apresentou-me, também, o vocábulo “memorioso”, cintilantemente borgiano, que mais adiante inventaria uma bela estória sobre um homem que herda a...

Fernão Capelo Gaivota, de Richard Bach

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Por Pedro Belo Clara Trazemos hoje à discussão uma das mais belas fábulas dos tempos modernos, que curiosamente nasceu pela mão de um antigo piloto da Força Aérea Norte-Americana. Inicialmente publicada numa série de pequenos contos na revista Flying (editada desde 1927), durante a década de sessenta, encontrou pouco tempo depois uma editora disposta a apostar na sua publicação, o que se daria em 1970. Com menos de dez mil palavras no manuscrito original, apenas dois anos após a sua edição, e com um historial considerável de rejeições a assombrar-lhe o destino, a obra atinge o seu primeiro milhão de unidades vendidas. No ano seguinte é adaptada aos preceitos da sétima arte, com banda sonora a cargo do famigerado Neil Diamond – que ganharia um Grammy graças a esse trabalho.   Uma história de sucesso, portanto, e devidamente justificado, com uma popularidade atestada pelos mais de quarenta milhões de exemplares já vendidos em todo o mundo, não obstante as habit...

Boletim Letras 360º #362

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Regressamos com a programação quase normal. Desde segunda-feira, 20, estamos outra vez com os textos diários no blog e a inserção preciosa dos nossos colunistas. E voltamos a lembrar sobre a chamada aberta até o próximo dia 31 para seleção de novos colaboradores com o Letras in.verso e re.verso. Então, se você escreve sobre literatura e cinema e gostaria de fazer circular suas leituras – ou conhece alguém com esse perfil – não deixe de conhecer nossa proposta. Informe-se diretamente aqui ou enviando uma mensagem para nós através do e-mail blogletras@yahoo.com.br; sua participação, direta ou indiretamente, é a propulsora da continuidade do nosso trabalho. A seguir tem à vista as notícias da semana que circularam pela nossa página no Facebook e retorno das seções de costume deste Boletim. Projeto revisita em várias frentes a obra de Hilda Hilst. Segunda-feira, 20 de janeiro Nova edição de  Alexandre e outros heróis , de Graciliano Ramos . O escritor une o real ...

Edith Wharton, a contradição faz literatura

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Por Marta Ailouti “Mais forte, mais firme e mais sutil que todos os outros”, nas palavras de Henry James, Edith Wharton (1862-1937) disse “mais” e “melhor”. Conhecida em particular por seu papel de romancista, por obras como A casa da alegria , Ethan Frome ou A época da inocência , título com o qual foi a primeira mulher a obter o Prêmio Pulitzer, ao longo de sua vida, escreveu mais de quarenta livros, dezenas de contos, livros de viagens e poemas. Martin Scorsese e Terence Davies adaptaram este último título para a sétima arte. E F. Scott Fitzgerald, Jean Cocteau e Ernest Hemingway não hesitaram em expressar sua admiração por essa brilhante autora, sobre quem James também disse que sua “única desvantagem” era “não ter simplicidade, o casual, a feliz limitação e a alta pobreza de um País Próprio”. Precisamente, se Edith Wharton não entendia de alguma coisa, era de limites. Presa de um espírito aventureiro, situada entre uma corda bamba e uma cama de penas, chegou a afir...