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Boletim Letras 360º #384

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DO EDITOR 1. Caros leitores, abaixo estão as notícias divulgadas durante a semana na página no Facebook (ou não) e a atualização das demais seções deste Boletim com as recomendações de leitura, assuntos de arredores do campo de interesse do blog e a sugestão de visita a algumas das publicações apresentadas aqui. Obrigado a todos pela companhia ― sigamos juntos. Boas leituras! João Guimarães Rosa. Obra com textos de Paulo Rónai sobre o escritor mineiro ganha edição. LANÇAMENTOS Nova tradução de O falecido Mattia Pascal , de Luigi Pirandello . O que alguém faria se tivesse a chance de nascer de novo, de ser quem quisesse? Seria possível abandonar família, história, romper com a imagem que sempre teve de si mesmo? Tema caro ao italiano Luigi Pirandello, a autopercepção do sujeito em meio à sociedade em que vive leva a uma ruptura na vida de Mattia Pascal. O leitor acompanhará sua trajetória em meio ao embate entre identidade e sociedade, entre o passado e as ...

A aldeia global como campo de concentração: a vida nua em tempos de coronavírus

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Por Rafael Kafka ©  Masha Mitva A leitura de É isto um homem? , de Primo Levi, revela algumas coincidências entre fatos vividos na realidade dos campos de concentração e a atual vivenciando uma quarentena para não sucumbir pelo novo coronavírus. Ao falar isso, não esquecemos a crueldade da limpeza étnica que existia na lógica dos campos, mas diante dos atuais cenários de descaso cada vez maior com a vida dos mais pobres, a analogia até no foco genocida parece fazer bastante sentido. Textos que retratam o terror do nazismo possuem uma relativa fama dentro do universo literário, mas ao que me parece suas narrativas quase sempre se voltam mais para um olhar global do fato social ou registram o vivido por outra pessoa. Casos emblemáticos dos dois cenários são o diário de Anne Frank e Maus , de Art Spielgman. Anne fala de um confinamento que termina no campo com sua morte e o quadrinista fala da experiência narrada por seu pai, dois textos muito valiosos para se en...

As solas dos pés de meu avô, de Tiago D. Oliveira

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Por Pedro Fernandes a memória é um tamarindal em movimento e harmonia na imagem que não cessa A literatura é, por vezes, feita de memória. As primeiras formas poéticas mais elaboradas que chegaram até nós dão contas de um trabalho de recriação das figuras inscritas no tempo pela potência de seus feitos permitindo, assim, mantê-las vivas entre as gerações futuras. Esse tratamento não se filia em exclusivo à experiência do vivido. É verdade que o poeta é o principal sujeito da enunciação, mas esta é constituída de uma cooperação entre o ente da palavra e as Musas ― elas, sim, presenciam, sabem tudo e o poeta é um ouvinte dos rumores do que rememoram. Esse fenômeno que explica as bases da tradição clássica constitui toda a atividade criativa com a palavra e suas implicações se verificam em culturas das mais variadas; também os cantos populares no interior do sertão nordestino, por exemplo, remontam o tratamento da poética clássica. Desconsidera-se aqui a ideia do re...

Marvin, de Anne Fontaine

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Por Pedro Fernandes A sinopse oficial de Marvin não menciona ser uma adaptação da obra de Édouard Louis; nem os créditos finais ou de abertura da película. Mas, resulta impossível negar as relações entre O fim de Eddy e Marvin , ainda que o romance nos coloque diante de outro rumo para a vida da personagem e se revista de uma objetividade mais acentuada acerca dos acontecimentos relatados. Quando se anunciou o novo filme de Anne Fontaine dizia-se que a história de um ator, dramaturgo e escritor que transformou a miséria, a violência e a vergonha de seu passado em campo de experimentação discursiva era a partir da obra de Édouard Louis; um ano depois, o próprio escritor veio a público dizer que não tinha nada a ver com o filme. A partir disso, tudo o que se disse foi especulação. Uma das cenas finais da obra de Anne Fontaine apresenta o agora Martin Clement acolhido pela apoteose de sua peça para o teatro encenada ao lado de Isabelle Huppert numa entrevista utilizand...

Gregório de Matos: preso e morto por crime de poesia

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Por Joaquim Emídio A literatura em língua portuguesa ganhou em Novembro de 2014 um livro de Ana Miranda intitulado Musa praguejadora. A vida de Gregório de Matos . Encontrei o livro no início de 2020 numa livraria de Fortaleza, onde não ia há quase 20 anos, e tive oportunidade de ler as suas 555 páginas demoradamente, durante duas semanas, rendido à escrita magistral e admirável de Ana Miranda. Não sei se há por aí livro que rivalize com Musa praguejadora , biografia romanceada que conta a vida de Gregório de Matos, e é um retrato admirável da História de Portugal e do Brasil do século XVII, retrato de mulheres da época que foram amadas e rejeitadas até ao tutano, da mesma forma apaixonada e violenta como era o espírito e a natureza de Gregório de Matos; história de guerras físicas e verbais que recordam, pelo prazer da leitura, páginas de Camilo, Aquilino, Eça, Ricardo Jorge e, mais lá para o tempo de Gregório de Matos, o Padre José Agostinho de Macedo. Não me estou ...

A recusa das utopias

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Por Davi Lopes Villaça Joan Miró. Mulher e cachorro diante da lua (1936). Aldous Huxley e George Orwell escreveram os mais célebres romances distópicos do século passado, buscando expor, na imagem de sociedades futuras, as tendências de seu próprio presente. Em 1984 , Orwell apresentou uma realidade miserável, administrada por um regime totalitário no qual o leitor de 1949 podia reconhecer traços dos recém-derrotados regimes fascistas e do stalinismo ainda vigente; vale lembrar: para Orwell, seu livro refletia também algumas inclinações de potências ditas liberais e democráticas, como Estados Unidos, França e Inglaterra, com seu nacionalismo e autoritarismo crescentes. No romance, as pessoas passam fome, trabalham como escravas e são continuamente vigiadas, mesmo durante o sono. A liberdade é quase nula e   qualquer atitude suspeita ou desviante daquela esperada pelo Partido é punida com a morte. Já em Admirável mundo novo (1932) Huxley imaginou um futuro dourado, verd...