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Juan Marsé, um romancista de ferro

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Por Julio José Ordovás Juan Marsé foi testemunha de uma sociedade e de uma época que não queria testemunhas. E foi até o fim, justo como o Coyote de José Mallorquí, sem dar a mínima para as consequências, satirizando os intelectuais orgânicos da Catalunha nacionalista como antes havia caricaturado muitos dos membros da gauche divine radicada em Bocaccio. Marsé também fazia parte da intelligentsia que frequentava aquela boîte onde abundavam os filhinhos e filhinhas de papai, mas nunca esqueceu que aí era apenas um clandestino, como Jim Hawkins, em La Hispaniola . Marsé não tinha ninguém para lhe calar a boca. Zombador e valentão, leal tanto a seus amigos quanto a seus inimigos, riu ferozmente da prosa desarticulada e servil com o pujolismo de Baltasar Porcel, dos sermões insuportáveis ​​de Juan Goytisolo e a careca iluminada de Lluís Llach. Havia uma caricatura de desafio permanente no seu rosto de pistoleiro do western clássico, mas também uma sombra de ternur...

A mamã por cima dos telhados e o meu amor, de Maria Azenha

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Por Pedro Fernandes A mamã por cima dos telhados e o meu amor é um livro, como próprio título enuncia, estruturado a partir de dois mitologemas poéticos ― a mãe e o amor .   Cada um deles se inscreve de maneira variada ao longo de poemas. E em cada poema, o que se manifesta é uma voz em descoberta do mundo enquanto danação e morte. Essas duas imagens (também podemos dizer assim) dão forma ao conteúdo poético do livro e cada uma delas se tem seu ponto de partida no espírito próprio da voz que anima o poema (e esta por sua vez possa ser uma extensão da poeta) não estão à serviço de sua individualidade mas se reintegram às forças universais, ponto de integração de toda verdadeira literatura. Isso é importante de observar porque se do grande caldeirão imemorial o poeta recolhe os materiais que dão fôlego à palavra é sempre a ele que volta, reintroduzindo novos materiais. A poesia participa ativamente do trabalho de formação dos novos mitologemas. O que chamamos por ...

Onda de calor, de Raphaël Jacoulot

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Por Pedro Fernandes A primeira memória de um leitor de O estrangeiro , de Albert Camus é continuamente ativada neste filme de Raphaël Jacoulot. Não é o caso de sua narrativa se filiar (não integralmente) numa filosofia do absurdismo, muito embora não deixemos de testemunhar uma situação que nela se mostra: a tendência humana da procura por um significado inerente à vida num universo caótico e irracional. As personagens, exceto Josef ― descrito como um jovem de “fraqueza bondosa e afetiva”, mas compreendido pelos do lugar como um indivíduo inconsequente e destituído de objetivo ―, estão envolvidas por algum tipo de busca e isso não deixa de causar alguma interferência na ordem coletiva. As situações registradas pelo diretor francês são livremente baseadas em fatos reais; passam-se num pacato vilarejo ao sul da França e recuperam outros dois elementos viscerais no romance citado anteriormente: a figura do estrangeiro, que, se não tolda as relações entre as pessoas dess...

Naruto e a Confissão da Raposa de Nove Caudas

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Por Wagner Silva Gomes Comecei a assistir  Naruto , anime dirigido por Hayato Date e adaptado do mangá escrito e ilustrado pelo escritor Masashi Kishimoto, pela empolgação de alguns adolescentes diferenciados, uns três em particular, com quem pude conviver ao longo do tempo em minha profissão de educador social. Me perguntava o que o anime tem de tão especial que deixa os garotos como sob o efeito de magia, como poucos me deixaram na infância e adolescência. Também tive o estímulo da citação musical, à la imagem com o viés das vanguardas modernistas, do Criolo, que ouço com frequência, em uma de suas letras  ( Nin-Jitsu, Oxalá, Capoeira, Jiu-Jitsu Shiva, Ganesh, Zé Pilin dai equilíbrio/ Ao trabalhador que corre atrás do pão/ É humilhação demais que não cabe nesse refrão ).  Surpresa minha ao terminar a primeira temporada, porque o anime supera, com todo o respeito, os meus animes maiores,  Cavaleiros do Zodíaco , Dragon Ball e Yu yu Hakusho , e...

“Matita Perê” entre o épico e o lírico

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Por Felipe de Moraes Matita Perê 1 No jardim das rosas de sonho e medo pelos canteiros de espinho e flores lá quero ver Você olerê olará, Você me pegar                                                                                                                                                                  ...