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baltazar serapião e o estupro no Brasil

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Por Paula Luersen ©  Derek Jerman Cento e oitenta mulheres são estupradas por dia no Brasil. Em qualquer texto sobre o assunto me parece importante alçar esse dado a uma espécie de refrão. Cento e oitenta mulheres são violentadas, coagidas, estupradas, a cada dia, somente no Brasil. Sei que os números não impactam hoje, haja visto o pouco valor conferido aos dados da pandemia do coronavírus pelas esferas de poder e pela população em geral. De qualquer modo, os números continuam a ser uma vereda importante para registrar as condições que nos rodeiam, além de assegurar a uma parte da população, que segue recolhida em casa, de que não somos delirantes em relação à angústia crescente que nos assola, em um mundo posto às avessas. Estamos, sim, cercados de muitas formas de violência e naturalizar esse fato só nos faz um tanto mais doentes. Existem, porém, outras veredas que nos levam a encarar a realidade, conduzindo do registro à reflexão, dos números às narrativas. Como o leitor bem sa...

Segredos, de Domenico Starnone

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  Por Pedro Fernandes   Mas se tornar adulto ― disse para mim ― é de fato renunciar a sermos perfeitos. Em Segredos , de Domenico Starnone Em certa altura da vida será possível nos confrontar com uma pergunta de matriz existencial: o que é a maturidade? A ela poderíamos agregar outra variedade de interrogações, como, quando sabemos que a alcançamos, existirá um instante que se afirma acima de tudo o que vivemos e a partir disso podemos ver o começo da maturidade, ser adulto pode se descrever como um traço essencial do maturo, ou ainda, que elementos nascidos na tenra infância carregamos, explicitamente ou à surdina de nós mesmos, por toda a vida ao ponto de baldear nossa compreensão sobre o antes e um depois da maturidade? Embora esses questionamentos se constituam a partir de demandas subjetivas, podem ― e isso demonstra uma plena assunção de uma era dos subjetivismos ― inquirir importância também a nível coletivo, sobretudo, no interior das crises em processo do fim século X...

Edith Wharton, cem anos de inocência

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Por Marta Ailouti Martin Scorsese disse uma vez sobre A época da inocência que este foi, sem dúvida, de todos os seus filmes, o mais violento. Adaptação do romance homônimo de Edith Wharton, nele a escritora narra a história de Newland Archer, um jovem advogado preso às rígidas convenções sociais de Nova York na década de 1870 que, depois se comprometer com May Welland, se reencontra com o prima de sua noiva, a condessa Ellen Olenska, de volta aos Estados Unidos após um casamento fracassado e infeliz. Publicado pela primeira vez em 1920, esta história consagrou a escritora como a primeira mulher a ganhar um Prêmio Pulitzer. Escrito após a Primeira Guerra Mundial, entre setembro de 1919 e março de 1920, o romance, que deve seu título a uma pintura de 1788 de Joshua Reynodls, foi uma das obras mais intimamente ligadas à biografia da autora do que ao longo de sua vida escreveu 25 romances, com títulos como Casa da alegria ou A pedra de toque ou Ethan Frome, e 188 contos ― além de ...

A garota de Ipanema e a garota de Paris

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Por Thiago Teixeira © Isabel Graf. Sábado em Ipanema . Ruy Castro escreveu recentemente na Folha de São Paulo que “Garota de Ipanema” não encontraria hoje acolhida do público, pois a canção, com seu conteúdo sexista, sofreria algum tipo de boicote. Não é possível saber em que medida o autor está falando sério, já que o artigo, irônico, não foi mais adiante. O fato é que Ruy Castro não consegue negar ou desmentir que a música, a despeito da evidente beleza, possui sim uma visão fetichista da mulher. Aliás, são tantas as canções brasileiras atuais tão ou mais fetichistas, e nem por isso sofrem qualquer boicote. De todo modo, há outras dimensões da música que podem ser exploradas, abordagens outras. A nós, cuja abordagem estritamente literária mais interessa, cabe pensar a letra como parte da obra de Vinicius de Moraes, e a obra como parte da tradição literária. A imagem da mulher que passa pode ser encontrada em ouros poemas do autor, como em “A mulher que p...

Stefan Zweig, a estrela

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Por Karl Krispin Stefan Zweig, 1939. Foto: Bassano Ltd Petrópolis passa por um pequeno vilarejo de veraneio onde a temperatura se ajusta a uma média anual de 19 graus centígrados a uma altitude de 838 metros acima do nível do mar. Em 1955, os termômetros marcavam sete graus abaixo de zero e em 1996 estouraram, chegando aos 36 graus. Mas é um lugar onde se ia, no passado, veranear; principalmente os aristocratas da monarquia Bragança e sua corte portuguesa instalada e permanecida no Brasil graças aos caprichos de Bonaparte. Existem palacetes, mansões e uma certa condição bucólica que o torna atraente para aquele visitante de hoje uniformizado como turista. Um viajante errante e embaralhado chegou àquela cidade na década de 1940. Vinha com os passaportes amassados e uma ideia bastante duvidosa de onde pertencia. Teve tempo de escrever sobre o país, de datilografar a maravilha que era sua vida e depois tirá-la. Na pacífica e bragantina Petrópolis também vivia a professora G...

Boletim Letras 360º #393

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DO EDITOR 1. Muita gente nova chegou às redes sociais do blog Letras in.verso e re.verso por esses dias. Continuo, desde 2007, a agradecer a atenção de todos. Sintam-se bem e em casa, unidos em torno do propósito principal: o amor à arte e ao literário. 2. Aproveito a ocasião para convidar aos novos amigos a acompanhar o trabalho do blog nas várias frentes com a presença nas reações, nos comentários e na partilha do nosso conteúdo. Tudo aqui é feito livremente e gratuitamente por gente atenta e amante do que faz. Então, tudo isso que peço é uma maneira de incentivá-la. 3. Este boletim é publicado a cada sábado desde há 390 semanas. Desde 2012, a página do blog no Facebook passou a veicular informações variadas em torno do nosso universo de interesse e, muitos meses depois, a baixa visibilidade de conteúdo pela segmentação nesta rede social levou a gente a criar um espaço aqui capaz de oportunizar um (re) encontro com o material divulgado. 4. Agradecemos a companhia ...