Postagens

Boletim Letras 360º #417

Imagem
DO EDITOR   1. Saudações, leitor! Eis uma nova edição do Boletim Letras 360º caprichada. Obrigado pela atenção e pela companhia aqui e nas redes do Letras. Boas leituras! Simone de Beauvoir. Foto: Micheline Pelletier. Romance póstumo da escritora ganha edição no Brasil.   LANÇAMENTOS   Romance, livro de contos, de ensaios, crítica literária, peça de humor: publicado originalmente no ano 2000, o premiado Bartleby e companhia marcou época ao colocar o fazer literário no espelho e mesclar diversos gêneros de maneira radical .   Neste livro premiado e inclassificável, o catalão Enrique Vila-Matas recupera a figura de Bartleby (personagem criado por Herman Melville), um jovem escrivão que se esquiva de obrigações e misteriosamente vai se ausentando de toda e qualquer atividade graças a uma resposta enigmática que dá a todos que pedem para que realize algo: “eu preferia não o fazer”. A frase deixa seus interlocutores perplexos, e pouco a pouco Bartleby se isola até quase...

O amor enlouqueceu

Imagem
Por Flaviana Silva   O que esperar de um narrador louco que decide expor uma história? Você teria interesse em ouvi-la? É possível reconhecer que essa obra arrebata a atenção logo nas primeiras páginas; uma narrativa curta, mas incisiva e fugaz, cheia de enigmas e monólogos estranhos. O que temos em O amor não tem bons sentimentos , de Raimundo Carrero é a complexidade da mente humana traduzida e detalhada.   A proporção de tristeza que encontramos nesse enredo não pode ser medida já que temos um narrador que com certeza é louco, não consegue manter uma linha de equilíbrio em seus pensamentos que possa ser considerada como verdade e nós somos envolvidos nesse labirinto da sua mente; em alguns momentos ele mesmo questiona se está certo sobre aquilo que conta, tem medo de ter esquecido e estar errado sobre a própria vida. Estamos diante de um narrador complexo.  No início, já percebemos que ele é o observador de um corpo que flutua no rio, a sua irmã amada e bela que é enc...

Maria Lúcia Alvim, razão das coisas imprecisas

Imagem
Por Pedro Fernandes Maria Lúcia Alvim, anos 1970. Arquivo Jornal O Globo .  A vida é um todo  fragmentar esse todo é meu grande deleite (Maria Lúcia Alvim)   Maria Lúcia Alvim voltou às pequenas rodas de conversa sobre poesia em 2020. Sim, pode não parecer, mas esses círculos existem, mesmo feitas de uns poucos que falam e, por vezes, ignoram os que ouvem e também querem falar ― em alguns casos, bem compreensível, afinal habitamos um país de muitos interesses e poucas atitudes, de muitos poetas, uma dezena a cada esquina, e raros leitores. Noutros não. É um pequeno pacto de silêncio assumido tacitamente num misto de necessidade de ignorar e de não ampliar seu pequeno círculo. Há mesmo o caso desses poucos que falam e ignoram que se fazem autores da cobrança sobre determinados silêncios. É uma selva. Dizemos isso para acrescentar uma linha à observação feita por Guilherme Gontijo Flores em “Maria Lúcia Alvim no rol do esquecimento: a vida e a vida da poesia”, texto acresce...

O último cânone de Harold Bloom

Imagem
  Por Eduardo Lago Harold Bloom. Foto: Richard Avedon Há uma cena que ilustra perfeitamente a maneira como Harold Bloom (1930-2019) teve de se relacionar com a literatura ao decorrer de sua longa existência: sua forma de lecionar durante seus últimos anos de vida. Com a mobilidade gravemente afetada, permanentemente conectado a um cilindro portátil de oxigênio e afligido por inúmeras enfermidades que tornavam seu dia a dia indescritivelmente difícil, o velho professor precisava estar em contato direto com seus alunos.   Para satisfazê-lo, a Universidade de Yale fretava micro-ônibus que transportavam pequenos grupos de jovens em cuja presença o sábio se transfigurava. O espetáculo tinha uma espécie de ritual sagrado. Dependendo do livro em questão, o exegeta sempre podia irromper numa declamação de uma circulação de centenas de versos de poetas das mais diversas épocas: Homero, Dante, Milton, Whitman, Emily Dickinson, Wallace Stevens, John Ashbery... (E Shakespeare, claro, o b...

O suicídio como imagem literária

Imagem
Por Borja Martínez A morte de Werther. François-Charles Baude, 1911.   Na vida de John Kennedy Toole houve uma série tão longa de infortúnios que sua figura, conhecida apenas após o sucesso das aventuras desequilibradas de Ignatius J. Reilly, o gordo e flatulento medievalista saído de sua imaginação, atingiu uma dimensão literária equivalente ao de seu personagem antológico. Tudo se voltou contra ele e seu talento, até que foi persuadido de que continuar a viver não valia a pena; talvez convencido de que, como se pode ler no frontispício de seu grande romance, “quando um verdadeiro gênio aparece no mundo, ele pode ser identificado por este signo: todos os tolos conspiram contra ele”. Não é por acaso que Toole escolheu esta frase de Jonathan Swift para adornar a primeira página de seu livro: certamente compartilhava muitos dos severos juízos do autor de As viagens de Gulliver sobre a condição humana e ele próprio se sentia um gênio atormentado pela estupidez atmosfer...