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Boletim Letras 360º #431

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  DO EDITOR   1. Caro leitor, as novidades reunidas nesta edição do Boletim Letras 360.º são da semana que agora termina e o que ficou por publicar da semana anterior — então, com tantas informações, ficou decidido dividir o conteúdo entre duas edições desta post.   2. Muito obrigado pela companhia e boas leituras! Louise Glück. Foto: Daniel Ebersole   LANÇAMENTOS O volume que reúne os três livros mais recentes da poeta vencedora do Nobel de Literatura 2020 ―  Averno ,  Uma vida no interior e  Noite fiel e virtuosa.   Louise Glück tem a extraordinária capacidade de jogar luz sobre os aspectos mais variados ― e por vezes sombrios ― da vida. Sua obra, repleta de significados, é fruto de uma profunda curiosidade com tudo o que diz respeito à alma humana. Este volume inclui os três títulos mais recentes da poeta vencedora do prêmio Nobel de Literatura em 2020. Averno  (2006) retoma o mito de Perséfone e atualiza a trajetória de uma jovem deusa ...

A resistência ao espírito absoluto em “Vozes d’África”, de Castro Alves

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Por Wagner Silva Gomes © Carla Accardi.   Em “Vozes d’África”, poema de Castro Alves da segunda metade do século XIX (1868), tem-se a reconstrução do cenário da diáspora africana. Isso fica evidente na segunda estrofe em que o eu-lírico, a África em forma humana, ou seja, personificada, é comparada a Prometeu, numa cena cheia de metáforas, onde, como o deus que concedeu ao ser humano a luz do conhecimento, sendo castigado por Zeus, é a própria África presa por correntes à região litorânea de Suez, na Itália. É importante atentar para o fato de que até o ano de 1859, quando o engenheiro Ferdinand de Lesseps construiu o Canal de Suez, o Oriente Médio era considerado parte do território da África (Cf. SILVA, 2016). Só então houve a separação, não só geográfica, mas também cultural. No entanto, mal sabe o opressor, não se separam, nas culturas africanas, o homem de sua terra. Como coloca Hampaté Bâ:   “Uma vez que se liga ao comportamento cotidiano do homem e da comunidade, ...

Itinerário do tempo, de Jonas Leite

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Por Pedro Fernandes   O nascimento de um poeta deveria ser um motivo de celebração. Mesmo num país feito de um poeta a cada esquina e um leitor em cada estado; mesmo num país que muitos dos seus poetas não se leem ou apenas os de um reduto se contemplam, se acarinham e se autoconsideram os senhores poetas do país, os continuadores de uma estirpe ou os seus negadores. Tudo isso mais o espalhamento dos tentáculos que constituem o estamento dos desumanos reforçam que, sim, o nascimento de um poeta deve ser celebrado.   Como é recorrente na maioria dos casos, isso que encontramos como o livro de estreia e que sempre tratamos como o ponto de nascimento do seu autor, é sempre uma pequena ilusão. Afinal, é quase sempre impossível determinar precisamente o começo de tudo. A criação poética não é pura revelação. Embora alguma vez se tenha acreditado nisso, contemporaneamente quando entendemos a escrita como um ofício e seu produto como uma parte desse esforço, não nos resta qualquer d...

Jauja, de Lisandro Alonso

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  Por André Cupone Gatti   Viggo Mortensen está ali como um tal de Gunnar Dinesen, um expedicionário dinamarquês, um cavaleiro quixotesco ou um John Wayne dos filmes de John Ford. O cinema western e a literatura romanesca são as principais referências da primeira metade de Jauja . Os planos bem abertos, as paisagens grandiloquentes, a pose do herói, os gestos do vilão, os boatos sobre um facínora, a tragédia amorosa da mocinha, tudo nos conduz a uma espécie de farsa ou fábula construída com signos enxutos e claros.  Lisandro Alonso, no entanto, retorce algumas referências em prol de seu estilo ou da produção de novos significados: a dinamicidade é diluída em longos planos sequência, a câmera movimenta-se pouco, os planos são quase sempre abertos, e a proporção de tela é a menor possível (1:33:1), remetendo não só ao cinema clássico até 1950, mas principalmente aos fotogramas do cinema primitivo — aqui também estão as bordas abauladas a aumentar o domínio da câmara es...

Henryk Sienkiewicz: um prêmio Nobel perfeitamente desconhecido

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Por Alessandra Miyagi Henryk Sienkiewicz em seu apartamento em Varsóvia em Wspólna, meados da década de 1890.   Numa manhã de 1888, o escritor mais famoso da Polônia acordou em sua casa em Varsóvia, bebeu uma xícara de café preto e abriu sua caixa de correio. Entre as cartas, contas e notificações, descobriu um envelope comum, mas curioso. Não possuía endereço de remetente e o verso dizia apenas “Para o Sr. Henryk Sienkiewicz”. E embora o conteúdo exato dessa carta tenha se perdido para sempre, provavelmente dizia algo como:   Caro Litwos:   Você não me conhece, mas eu certamente te conheço. Sou um grande admirador de seu trabalho. Acompanho sua carreira desde quando começou a publicar artigos e crônicas de viagens, até o último de seus romances.   Peço que aceite os 15.000 rublos que lhe envio junto com esta mensagem, como um agradecimento pelas horas de infinito prazer que me proporcionou com seus livros. Sei que você não precisa do dinheiro, mas considere como a c...