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García Márquez e Vargas Llosa, a conversa que acendeu o estopim do Boom

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Por Nadal Suau Gabriel García Márquez e Mario Vargas Llosa, Agurto, Lima, setembro de 1967.   Com Dos soledades: un diálogo sobre la novela en América Latina (Duas solidões: um diálogo sobre o romance na América Latina, em tradução livre)  e com a reedição de García Márquez: historia de un deicídio (García Márquez: história de um deicídio, em tradução livre), a editora Alfaguara resgata uma peça fundamental da história literária do século XX. São dois livros objetivamente importantes que, relidos agora, mantêm intactas suas virtudes: o discurso detalhista, a tensão feliz de quem se reconhece ocupando um lugar excepcional no núcleo contemporâneo de sua disciplina e, no caso de Dos soledades , a fotografia de um momento muito específico.   Dos soledades reúne uma conversa pública que Mario Vargas Llosa (Arequipa, 1936) e Gabriel García Márquez (Aracataca, 1927 — México, 2014) mantiveram em Lima, em setembro de 1967, quando o sucesso imediato e massivo de Cem anos de soli...

Diferenças pontuais entre Marginais e Marginais-Periféricos

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  Por Fábio Roberto Ferreira Barreto   Apesar de convergirem no que concerne à promoção de literatura paralela ao grande mercado editorial, a Literatura Marginal dos anos de 1970 e a Literatura Marginal / Periférica 1 dos anos de 1990 / 2000 em diante divergem em, ao menos, três eixos: 1) autoria de excluídos pelo regime militar versus autoria de excluídos de todo o sistema democrático; 2) ausência de programa nos anos de 1970 versus existência de eixo programático e temáticas nos anos de 1990 / 2000; 3) poemas de temáticas e tons dissonantes com sistema de exceção versus poemas de temáticas e tons dissonantes com sistema pseudodemocrático. Autoria Chacal em performance na Livraria Muro, Rio de Janeiro, c. 1970.   Inicialmente, destaque-se a diferença atinente à autoria. Nos anos de 1970, “a marginalidade era utilizada no cenário cultural como categoria que representava setores sociais desviantes ou não pertencentes aos grupos beneficiados pelo regime militar pós-64.”...

Boletim Letras 360º #431

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  DO EDITOR   1. Caro leitor, as novidades reunidas nesta edição do Boletim Letras 360.º são da semana que agora termina e o que ficou por publicar da semana anterior — então, com tantas informações, ficou decidido dividir o conteúdo entre duas edições desta post.   2. Muito obrigado pela companhia e boas leituras! Louise Glück. Foto: Daniel Ebersole   LANÇAMENTOS O volume que reúne os três livros mais recentes da poeta vencedora do Nobel de Literatura 2020 ―  Averno ,  Uma vida no interior e  Noite fiel e virtuosa.   Louise Glück tem a extraordinária capacidade de jogar luz sobre os aspectos mais variados ― e por vezes sombrios ― da vida. Sua obra, repleta de significados, é fruto de uma profunda curiosidade com tudo o que diz respeito à alma humana. Este volume inclui os três títulos mais recentes da poeta vencedora do prêmio Nobel de Literatura em 2020. Averno  (2006) retoma o mito de Perséfone e atualiza a trajetória de uma jovem deusa ...

A resistência ao espírito absoluto em “Vozes d’África”, de Castro Alves

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Por Wagner Silva Gomes © Carla Accardi.   Em “Vozes d’África”, poema de Castro Alves da segunda metade do século XIX (1868), tem-se a reconstrução do cenário da diáspora africana. Isso fica evidente na segunda estrofe em que o eu-lírico, a África em forma humana, ou seja, personificada, é comparada a Prometeu, numa cena cheia de metáforas, onde, como o deus que concedeu ao ser humano a luz do conhecimento, sendo castigado por Zeus, é a própria África presa por correntes à região litorânea de Suez, na Itália. É importante atentar para o fato de que até o ano de 1859, quando o engenheiro Ferdinand de Lesseps construiu o Canal de Suez, o Oriente Médio era considerado parte do território da África (Cf. SILVA, 2016). Só então houve a separação, não só geográfica, mas também cultural. No entanto, mal sabe o opressor, não se separam, nas culturas africanas, o homem de sua terra. Como coloca Hampaté Bâ:   “Uma vez que se liga ao comportamento cotidiano do homem e da comunidade, ...